Economias em desenvolvimento precisarão de apoio, afirma Cepal

Alicia Bárcena, secretária-executiva da Cepal, defendeu que organismos internacionais ajudem economias da América Latina e Caribe. Secretária destacou a importância do isolamento social.

A secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena

A cooperação internacional, incluindo o auxílio de organismos como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), será fundamental para que os países latino-americanos e caribenhos atravessem a recessão econômica prevista com a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV2). A economia da região deve encolher entre 3% e 4%, segundo previsão da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU).

As informações estão em relatório divulgado nesta sexta-feira (3) pela secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, em coletiva de imprensa transmitida de Santiago, Chile. A secretária-executiva ressaltou que o mundo se encontra em uma crise humanitária e sanitária sem precedentes no último século. “Estamos no princípio de uma profunda recessão, da maior queda econômica que já teve a região. A crise nos chega em um contexto [econômico] muito adverso. O comércio mundial caiu de forma dramática em 2019”, destacou Bárcena.

Ela afirmou que América Latina e Caribe também vêm de um período de sete anos de baixo crescimento e que, de 2011 a 2018, a região teve o pior desempenho no investimento desde a década de 1980, considerada a “década perdida”. Segundo a secretária-executiva da Cepal, a pandemia leva ainda a um acirramento na rivalidade geopolítica entre China e Estados Unidos, que lutam pelo domínio tecnológico, tornando o cenário mais complexo.

A secretária-executiva pontuou que a perspectiva é de uma crise muito mais profunda do que a crise financeira de 2008, por exemplo, já que trata-se de uma crise de saúde e bem-estar que vai impactar a economia. “Será indispensável a ação do Estado e não tanto do mercado. Por isso, estamos vendo que os estados estão assumindo um papel central”.

Ela destacou também a importância de seguir as recomendações de isolamento social da Organização Mundial de Saúde (OMS), sobretudo para os países da América Latina e Caribe, muitos dos quais não têm a mesma capacidade dos países europeus e dos Estados Unidos para direcionar recursos para a saúde e a economia.

“A infraestrutura de saúde da nossa região é insuficiente. O número de leitos por mil habitantes dos países da OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico] é 6,2. Os únicos países em nossa região que têm esse tipo de disponibilidade são Cuba e Barbados. A média é de 2,2 leitos por mil habitantes na América Latina e 2,8 por mil habitantes no Caribe”, informou.

Alicia Bárcena referendou a ideia de que, quanto maior a observância ao isolamento, menor será o impacto econômico. “Estamos em uma etapa de reduzir a curva de contágio, reduzindo os contatos interpessoais. A grande pergunta que devemos nos fazer é como não achatar a economia. Isso requer um cumprimento estrito e muito efetivo das quarentenas. Se não cumprirmos as quarentenas com efetividade na América Latina e no Caribe será muito difícil, vai se prolongar essa situação e vamos ter um impacto econômico muito maior”, avaliou.

A secretária-executiva defendeu a cooperação internacional e “uma compreensão clara pelas instituições financeiras internacionais das grandes assimetrias entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento”. “Precisamos de medidas fora da caixa, inovadoras, e também que nos ajudem em uma região considerada de renda média, com exceção do Haiti. Precisamos que o FMI e o Banco Mundial e outras instituições realmente nos apoiem para garantir esse acesso [a políticas]”.

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