Mundo pós pandemia: Painel da visão liberal-conservadora estadunidense

A Revista Foreign Policy (Política Externa) é uma influente revista dos EUA especializada em relações internacionais, fundada em 1970.

No artigo “Como será o mundo depois do Coronavírus”, publicado no site da revista no dia 20/03 (link remete ao texto original em inglês), 12 especialistas em política externa – a maioria composta por liberais – no sentido que a palavra liberal tem nos EUA – opinam, em textos curtos, sobre o cenário pós-pandemia.

Na última eleição presidencial a Foreign Policy, pela primeira vez desde fundada, apoiou abertamente uma candidata: Hillary Clinton. No entanto, liberais e conservadores americanos têm, em relação ao cenário geopolítico, divergências secundárias. Recentemente, Nancy Pelosi, presidenta democrata da Câmara dos Representantes, que defendeu com ardor o impeachment de Donald Trump, ao ser indagada sobre a política de confronto de Trump com a China, declarou: “sobre isso temos consenso”.

Apresentamos o artigo completo publicado na FP, com tradução livre da redação do i21, pois é sempre útil, para os marxistas, conhecer e analisar a perspectiva do campo contendor. Ao que parece vai se formando um consenso no establishment da academia americana de que, no plano econômico, haverá, no pós pandemia, uma mudança significativa no modelo globalizado da cadeia de suprimentos e produção, que teria revelado grande fragilidade diante de uma crise como o Covid-19, sendo que no futuro a tendência seria a renúncia da rentabilidade do modelo just-in-time pela segurança de uma cadeia de produção e suprimento mais segura.

Diante disso, a maior parte das previsões vaticina novas formas de globalização convivendo e sendo influenciada pelo fortalecimento do nacionalismo econômico. Este pequeno resumo não abarca a diversidade de opiniões, algumas que apontam para o reforço do papel da China no cenário geopolítico ou, por outro lado, o enfraquecimento dos EUA. Chama a atenção, por exemplo, a contundente análise de Kori Schake, que foi membro do Conselho de Segurança Nacional do primeiro governo Bush, e representante dos EUA na Divisão de Política e Planos Estratégicos da Otan. Para ela, “os Estados Unidos falharam no teste de liderança” e “não serão mais vistos como um líder internacional devido ao interesse egoísta de um governo incompetente e confuso”. E vejam que ela deu esta opinião antes de Trump declarar que não quer que outros países obtenham máscaras ou equipamentos que ajudem no combate à pandemia. Leia, abaixo, a íntegra dos textos.

Wevergton Brito Lima, editor do i21

Introdução da Foreign Policy

A pandemia mudará o mundo para sempre. Pedimos a 12 principais pensadores globais suas previsões.

Como a queda do Muro de Berlim ou o colapso do Lehman Brothers, a pandemia de coronavírus é um evento que abala o mundo, cujas consequências de longo alcance só podemos começar a imaginar.

Isso é certo: assim como esta doença destrói vidas, mercados e expôs a competência (ou a falta dela) dos governos, levará a mudanças permanentes no poder político e econômico de maneiras que se tornarão aparentes apenas mais tarde.

Para nos ajudar a entender o terreno mudando sob nossos pés à medida que a crise se desenrola, a Foreign Policy pediu a 12 principais pensadores de todo o mundo que fizessem suas previsões para a ordem global após a pandemia.

Um mundo menos aberto, próspero e livre

Por Stephen M. Walt*

A pandemia fortalecerá o estado e reforçará o nacionalismo. Governos de todos os tipos adotarão medidas emergenciais para administrar a crise, e muitos relutarão em renunciar a esses novos poderes quando a crise terminar.

O COVID-19 também acelerará a transferência de poder e influência do Ocidente para o Oriente. A Coreia do Sul e Singapura responderam melhor ao novo cenário e a China reagiu bem após seus erros iniciais. A resposta na Europa e na América tem sido lenta e desregrada em comparação, manchando ainda mais a aura da “marca” ocidental.

O que não vai mudar é a natureza fundamentalmente conflituosa da política mundial. Pragas anteriores – incluindo a epidemia de gripe de 1918-1919 – não acabaram com a rivalidade das grandes potências nem deram início a uma nova era de cooperação global. Nem isso acontecerá pós COVID-19.

Em resumo, o COVID-19 criará um mundo menos aberto, menos próspero e menos livre. Não precisava ser assim, mas a combinação de um vírus mortal, planejamento inadequado e liderança incompetente colocou a humanidade em um caminho novo e preocupante.

* Stephen M. Walt é professor de relações internacionais na Universidade de Harvard

O fim da globalização como a conhecemos

Por Robin Niblett*

A pandemia de coronavírus pode ser a gota que faz transbordar o copo da globalização econômica. O crescente poder econômico e militar da China já havia provocado uma determinação bipartidária nos Estados Unidos de separar a China da alta tecnologia e propriedade intelectual de origem americana e tentar forçar os aliados a seguir o exemplo. O aumento da pressão pública e política para cumprir as metas de redução de emissões de carbono já havia colocado em questão a dependência de muitas empresas das cadeias de suprimentos de longa distância. Agora, o COVID-19 está forçando governos, empresas e sociedades a fortalecer sua capacidade de lidar com longos períodos de autoimposto isolamento econômico.

Parece altamente improvável, neste contexto, que o mundo retorne à ideia de globalização mutuamente benéfica que definiu o início do século XXI. E sem o incentivo para proteger os ganhos compartilhados da integração econômica global, a arquitetura da governança econômica global estabelecida no século 20 se atrofiará rapidamente. Será necessária uma enorme autodisciplina para os líderes políticos sustentarem a cooperação internacional e não recuarem para uma competição geopolítica aberta.

Provar aos cidadãos que se pode administrar a crise do COVID-19 trará aos líderes algum capital político. Mas aqueles que fracassem terão dificuldade em resistir à tentação de culpar outros por seus erros.

* Diretor e chefe executivo da Chatham House. Chatham House, fundada em 1920 como Instituto Real de Relações Internacionais, é uma think tank não governamental, sediada em Londres.

Uma globalização mais centrada na China

Por Kishore Mahbubani*

A pandemia do COVID-19 não alterará fundamentalmente as direções econômicas globais. Isso apenas acelerará uma transição que já havia começado: uma mudança da globalização centrada nos EUA para uma globalização mais centrada na China.

Por que essa tendência continuará? A população americana perdeu a fé na globalização e no comércio internacional. Os acordos de livre comércio são tóxicos, com ou sem o presidente dos EUA, Donald Trump. Por outro lado, a China não perdeu a fé. Por que não? Existem razões históricas mais profundas. Os líderes chineses agora sabem bem que o século de humilhação da China de 1842 a 1949 foi resultado de sua própria complacência e de um esforço fútil de seus líderes para separá-lo do mundo. Por outro lado, as últimas décadas de ressurgimento econômico foram resultado do engajamento global. O povo chinês também experimentou uma explosão de confiança cultural. Eles acreditam que podem competir em qualquer lugar.

Consequentemente, como documentei em meu novo livro, “A China venceu?”, os Estados Unidos têm duas opções. Se seu objetivo principal é manter a primazia global, ele terá que se envolver em uma disputa geopolítica de soma zero (1), política e economicamente, com a China. No entanto, se o objetivo dos Estados Unidos é melhorar o bem-estar do povo americano – cuja condição social se deteriorou -, ele deve cooperar com a China. Um conselho mais sábio sugeriria que a cooperação seria a melhor escolha. No entanto, dado o ambiente político tóxico dos EUA em relação à China, conselhos mais sábios podem não prevalecer.

Professor do Instituto de Pesquisa da Ásia da Universidade Nacional de Singapura, autor de A China Venceu? O desafio chinês ao primado americano.

1 – Em uma relação geopolítica de soma zero, uma parte necessariamente sai derrotada e outra vencedora (Nota da Edição do i21).

Democracias sairão das suas conchas

Por G. John Ikenberry*

No curto prazo, a crise dará combustível a todos os diversos campos do grande debate sobre estratégia ocidental. Os nacionalistas e anti-globalistas, os falcões da China e até os internacionalistas liberais verão novos indícios da urgência de seus pontos de vista. Dado o dano econômico e o colapso social que está se desenvolvendo, é difícil ver algo além de um reforço do movimento em direção ao nacionalismo, rivalidade entre grandes potências, dissociação estratégica e coisas do gênero.

Mas, como nas décadas de 30 e 40, também pode haver uma contracorrente de evolução mais lenta, uma espécie de internacionalismo obstinado semelhante ao que Franklin D. Roosevelt e alguns outros estadistas começaram a articular antes e durante a guerra. O colapso da economia mundial na década de 1930 mostrou como as sociedades modernas estavam conectadas e quão vulneráveis eram ao que FDR chamava de contágio. Os Estados Unidos foram menos ameaçados por outras grandes potências do que pelas forças profundas – e pelo caráter Dr. Jekyll e Hyde – da modernidade. O que FDR e outros internacionalistas conjuraram foi uma ordem do pós-guerra que reconstruiria um sistema aberto com novas formas de proteção e capacidades para gerenciar a interdependência. Os Estados Unidos não podiam simplesmente se esconder dentro de suas fronteiras, mas para operar em uma ordem aberta do pós-guerra exigia a construção de uma infraestrutura global de cooperação multilateral.

Assim, os Estados Unidos e outras democracias ocidentais podem viajar por essa mesma sequência de reações impulsionadas por um sentimento em cascata de vulnerabilidade; a resposta pode ser mais nacionalista a princípio, mas, a longo prazo, as democracias sairão de suas conchas para encontrar um novo tipo de internacionalismo pragmático e protetor.

* Professor de política e assuntos internacionais na Universidade de Princeton, é autor de Após a Vitória e Leviatã Liberal.

Lucros mais baixos, mas mais estabilidade

Por Shannon K. O’Neil*

O COVID-19 está minando os princípios básicos da fabricação global. As empresas agora vão repensar e reduzir as cadeias de suprimentos com várias etapas e nações, que dominam a produção atualmente.

As cadeias de suprimentos globais já estavam sendo atacadas – economicamente, devido ao aumento dos custos trabalhistas chineses, à guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, e aos avanços em robótica, automação e impressão 3D, bem como politicamente, devido a perdas reais e visíveis de empregos, especialmente em economias maduras. O COVID-19 agora quebrou muitos desses vínculos: o fechamento de fábricas em áreas afetadas deixou outros fabricantes – assim como hospitais, farmácias, supermercados e lojas de varejo – desprovidos de estoques e produtos.

Ultrapassada a pandemia, mais empresas exigirão saber mais sobre a origem de seus suprimentos e trocarão a eficiência por redundância. Os governos também intervirão, forçando o que consideram indústrias estratégicas a ter planos e reservas de backup doméstico. A lucratividade cairá, mas a estabilidade da oferta deverá aumentar.

Professor sênior de Estudos da América Latina no Conselho de Relações Exteriores e autor de Duas Nações Indivisíveis: México, Estados Unidos e a Estrada à Frente.

Esta pandemia pode servir a um propósito útil

Por Shivshankar Menon*

Ainda é cedo, mas três coisas parecem aparentes. Primeiro, a pandemia de coronavírus mudará nossa política, tanto dentro dos Estados quanto entre eles. É ao poder do governo que as sociedades – mesmo os liberais – se voltam. O relativo sucesso do governo em superar a pandemia e seus efeitos econômicos exacerbará ou diminuirá os problemas de segurança e a recente polarização nas sociedades. De qualquer maneira, o Estado está de volta. A experiência até agora mostra que os autoritários ou populistas não são melhores em lidar com a pandemia. De fato, os países que responderam cedo e com sucesso, como Coréia e Taiwan, foram democracias – não aqueles dirigidos por líderes populistas ou autoritários.

Em segundo lugar, ainda não é o fim de um mundo interconectado. A própria pandemia é prova de nossa interdependência.

Mas em todas as políticas, já existe uma virada para dentro, uma busca por autonomia e controle do próprio destino.

Estamos caminhando para um mundo mais pobre, mais cruel e menor.

Finalmente, há sinais de esperança e bom senso. A Índia tomou a iniciativa de convocar uma videoconferência de todos os líderes do sul da Ásia para criar uma resposta regional comum à ameaça. Se a pandemia nos levar a reconhecer nosso interesse real em cooperar multilateralmente nos grandes problemas globais que enfrentamos, ela terá servido a um propósito útil.

* Professor da Brookings India, ex-consultor de segurança nacional do primeiro-ministro indiano Manmohan Singh e professor visitante da Universidade de Ashoka, na Índia.

O poder americano precisará de uma nova estratégia

Por Joseph S. Nye, Jr.*

Em 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma nova estratégia de segurança nacional que se concentraria na competição entre grandes potências. O COVID-19 mostra que essa estratégia é inadequada. Mesmo se os Estados Unidos prevalecerem como uma grande potência, não poderão proteger sua segurança agindo sozinhos. Richard Danzig resumiu assim o problema em 2018: “As tecnologias do século XXI são globais não apenas em sua distribuição, mas também em suas consequências. Patógenos, sistemas de IA, vírus de computador e radiação que outros podem acidentalmente liberar podem se tornar tanto o nosso problema quanto o delesSistemas de relatórios acordados, controles compartilhados, planos de contingência comuns, normas e tratados devem ser adotados como forma de moderar nossos numerosos riscos mútuos”.

Sobre ameaças transnacionais como o COVID-19 e as mudanças climáticas, não basta pensar no poder americano sobre outras nações. A chave do sucesso também é aprender a importância do poder compartilhado com outros. Todo país coloca seu interesse nacional em primeiro lugar; a questão importante é quão amplo ou estreitamente esse interesse é definido. O COVID-19 mostra que estamos falhando em ajustar nossa estratégia para este novo mundo.

* Professor da Universidade de Harvard e autor de A moral importa? e Presidentes e Política Externa de FDR a Trump.

A história do COVID-19 será escrita pelos vencedores

Por John Allen*

Como sempre foi, a história será escrita pelos “vencedores” da crise do COVID-19. Toda nação, e cada vez mais todo indivíduo está experimentando a tensão social desta doença de maneiras novas e poderosas. Inevitavelmente, as nações que perseverarem – tanto em virtude de seus sistemas políticos e econômicos únicos, quanto da perspectiva da saúde pública – terão sucesso sobre aqueles que experimentam um resultado diferente e mais devastador. Para alguns, isso parecerá um grande e definitivo triunfo para a democracia, o multilateralismo e o atendimento universal à saúde. Para outros, mostrará os “benefícios” claros de um governo autoritário decisivo.

De qualquer maneira, essa crise irá reorganizar a estrutura internacional de poder de maneiras que apenas podemos começar a imaginar. O COVID-19 continuará deprimindo a atividade econômica e aumentando a tensão entre os países. A longo prazo, a pandemia provavelmente reduzirá significativamente a capacidade produtiva da economia global, especialmente se as empresas fecharem e os indivíduos forem descartados como força de trabalho. Esse risco é especialmente grande para os países em desenvolvimento e outros com uma grande parcela de trabalhadores economicamente vulneráveis. O sistema internacional, por sua vez, sofrerá grande pressão, resultando em instabilidade e conflito generalizado dentro e entre países.

* Presidente da Brookings Institution, general de quatro estrelas aposentado do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA e ex-comandante da Força de Assistência à Segurança Internacional da OTAN e das Forças dos EUA no Afeganistão

Uma nova etapa dramática no capitalismo global

Por Laurie Garrett*

O choque fundamental para o sistema financeiro e econômico do mundo é o reconhecimento de que as cadeias de suprimentos e redes de distribuição globais são profundamente vulneráveis a interrupções. A pandemia de coronavírus, portanto, não apenas terá efeitos econômicos duradouros, como também levará a uma mudança mais fundamental. A globalização permitiu que as empresas cultivassem manufaturas em todo o mundo e entregassem seus produtos no mercado just-in-time, evitando os custos de armazenagem. Os estoques que ficavam nas prateleiras por mais de alguns dias eram considerados falhas de mercado. O suprimento precisava ser adquirido e enviado em um nível global cuidadosamente orquestrado. O COVID-19 provou que os patógenos podem não apenas infectar as pessoas, mas envenenar todo o sistema just-in-time.

Dada a escala de perdas do mercado financeiro que o mundo experimentou desde fevereiro, é provável que as empresas saiam dessa pandemia decididamente receosas do modelo just-in-time e da produção globalmente dispersa. O resultado pode ser um novo estágio dramático no capitalismo global, no qual as cadeias de suprimentos são trazidas para mais perto de casa e preenchidas com redundâncias para proteger contra futuras interrupções. Isso pode reduzir os lucros de curto prazo das empresas, mas tornar todo o sistema mais resiliente.

* Laurie Garrett é ex-professora sênior de saúde global do Conselho de Relações Exteriores e escritora científica ganhadora do Prêmio Pulitzer.

Mais Estados Falidos

Por Richard N. Haass*

Permanente não é uma palavra de que gosto, como pouco ou nada, mas acho que a crise do coronavírus levará, pelo menos por alguns anos, a maioria dos governos a se voltar para dentro, concentrando-se no que ocorre dentro de suas fronteiras e não sobre o que acontece além deles. Prevejo maiores movimentos em direção à auto-suficiência seletiva (e, como resultado, dissociação), dada a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos; oposição ainda maior à imigração em larga escala; e uma disposição ou compromisso reduzidos para enfrentar problemas regionais ou globais (incluindo as mudanças climáticas), dada a necessidade evidente de dedicar recursos para reconstrução interna e para lidar com as consequências econômicas da crise.

Eu considero que muitos países terão dificuldade em se recuperar da crise, com a fraqueza do estado e os estados falidos se tornando uma característica ainda mais prevalente no mundo. A crise provavelmente contribuirá para a contínua deterioração das relações sino-americanas e o enfraquecimento da integração europeia.

Do lado positivo, devemos ver um fortalecimento, ainda que modesto. da governança global da saúde pública. Mas, no geral, uma crise enraizada na globalização enfraquecerá ao invés de aumentar a vontade e a capacidade do mundo de lidar com isso.

*Presidente do Conselho de Relações Exteriores e autor de O mundo: uma breve introdução, que será publicado em maio.

Os Estados Unidos falharam no teste de liderança

Por Kori Schake*

Os Estados Unidos não serão mais vistos como um líder internacional devido ao interesse egoísta de um governo incompetente e confuso. Os efeitos globais dessa pandemia poderiam ter sido grandemente atenuados se as organizações internacionais fornecessem mais e mais informações anteriores, o que daria aos governos tempo para preparar e direcionar recursos para onde eles são mais necessários. Isso é algo que os Estados Unidos poderiam ter organizado, mostrando que, embora atuem em nome de seus próprios interesses, não pensam apenas tendo em conta isso. Washington falhou no teste de liderança e o mundo está em pior situação.

Kori Schake é PHD em Relações Internacionais, vice-diretora geral do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. Foi membro do Conselho de Segurança Nacional do primeiro governo Bush, e representou, nos anos 1990, os EUA na Divisão de Política e Planos Estratégicos da Otan

Em todos os países, vemos o poder do espírito humano

Por Nicholas Burns*

A pandemia do COVID-19 é a maior crise global deste século. Sua profundidade e escala são enormes. A crise da saúde pública ameaça cada uma das 7,8 bilhões de pessoas na Terra. A crise financeira e econômica pode exceder em seu impacto a grande recessão de 2008-2009. Cada crise sozinha poderia proporcionar um choque sísmico que muda permanentemente o sistema internacional e o equilíbrio de poder como o conhecemos.

Até o momento, a colaboração internacional tem sido lamentavelmente insuficiente. Se os Estados Unidos e a China, os países mais poderosos do mundo, não puderem deixar de lado sua guerra de palavras sobre qual deles é responsável pela crise e liderar com mais eficácia, a credibilidade de ambos os países poderá diminuir significativamente. Se a União Europeia não puder fornecer assistência mais direcionada a seus 500 milhões de cidadãos, os governos nacionais poderão recuperar mais poder de Bruxelas no futuro. Nos Estados Unidos, o que está mais em jogo é a capacidade do governo federal de fornecer medidas eficazes para conter a crise.

Em todos os países, no entanto, existem muitos exemplos do poder do espírito humano – de médicos, enfermeiros, líderes políticos e cidadãos comuns demonstrando resiliência, eficácia e liderança. Isso nos dá esperança de que homens e mulheres em todo o mundo possam dar a resposta adequada a esse desafio extraordinário.

* Professor da Harvard Kennedy School of Government e ex-subsecretário de assuntos políticos do Departamento de Estado dos EUA no Governo de George W. Bush

Fonte: Foreign Policy / Tradução livre da redação do i21