Coronavírus: metade das grávidas infectadas tem parto prematuro

Pesquisadores ingleses analisaram casos de 32 gestantes. Apenas duas precisaram de cuidados em UTIs

Um estudo feito por pesquisadores ingleses aponta que metade das grávidas com coronavírus tem partos prematuros. Esse índice, segundo a publicação, pode pressionar consideravelmente os serviços neonatais.

O artigo, publicado em 17 de março no periódico acadêmico Ultrasound in Obstetrics & Gynecology (UOG), mostra que, comparada a outras síndromes respiratórias agudas – como Sars e Mers –, a Covid-19 aparenta ser menos letal. No entanto, os autores ressalvam que os dados ainda são incipientes, o que impede uma conclusão definitiva.

Os pesquisadores analisaram casos de 32 gestantes infectadas com coronavírus no Reino Unido até 10 de março. Apenas duas apresentaram “morbidade séria” e precisaram de cuidados em UTIs. Essas mulheres deram à luz 30 bebês, sendo uma dupla de gêmeos. Outras três ainda estavam com a gravidez em andamento.

A cesariana foi a opção majoritária, observada em 27 casos, enquanto dois foram parto vaginal. Houve parto prematuro em 15 situações, o que corresponde a 47%. O dado consta em nota técnica divulgada pelo Ministério da Saúde sobre orientações relativas a gestantes com coronavírus – e reforça a necessidade de monitorizá-las durante o pré-natal e na internação hospitalar.

Segundo o presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal (SGOB), Vinicius Lemos, a incidência de partos prematuros pode ser explicada tanto por condições adversas ao feto quanto pelo estado da mãe, sobretudo quando tem dificuldades respiratórias. “Em condições desfavoráveis para o feto, isso desencadeia um trabalho de parto prematuro ou acontece o sofrimento fetal pela falta de sangue e oxigenação”, afirma.

De acordo com Lemos, “há evidências disso, por exemplo, quando ele (o feto) começa a movimentar pouco, o líquido diminiu ou há falta de ganho de peso – e passa a dar sinais de que vai a óbito em poucos dias. Aí é indicado a cesariana para evitar o óbito fetal”. O parto prematuro também pode acontecer para melhorar a condição da gestante, diz o médico. Esta é a alternativa quando a gestante desenvolve pneumonia e não consegue respirar direito. O procedimento é feito para aliviar o pulmão comprimido pelo útero.

“Temos observado entre as gestantes que não existem diferenças na evolução do primeiro para o segundo trimestre da gravidez. O que a gente tem encontrado são pacientes mais para o final da gravidez – aqueles que tenham pneumonia, com maior dificuldade para respirar, porque o útero comprime o pulmão, e por não oxigenar não bem o feto, estão tendo uma incidência maior de sofrimento fetal”, disse Lemos.

Baseado nos resultados, os pesquisadores concluem que a necessidade de monitoramento fetal, incluindo ultrassom para mulheres com Covid-19, pode ser um desafio para os serviços de maternidade. Afirmam que as mulheres precisarão ser conduzidas para hospitais com cuidados intensivos neonatais e instalações adequadas.

A pesquisa revisou 23 trabalhos acadêmicos já publicados e serviu de base para o guia do Royal College of Obstetricians & Gynaecologists sobre gestantes e Covid-19. Não há indicação dos motivos que levaram aos partos prematuros. Os autores reconhecem as limitações dada a urgência da produção em meio à pandemia.

Para o presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio e pós-doutor em Medicina Fetal, Renato Sá, o estudo precisa ser aprofundado. “Isso faz parte do processo de conhecimento. Quando houve vários casos de Zika, também funcionou assim, porque precisamos passar informações o quanto antes”, disse.

Com a iminente superlotação do sistema de saúde, Sá pontua que as grávidas devem se vacinar contra a H1N1. “Nesse momento, com os leitos diminuindo e a chance de infecção, contrair a doença apesar da disponibilidade da vacina, é praticamente condenar a gestante à morte”, afirmou o médico.

No último dia 5, a fisioterapeuta Viviane Albuquerque se tornou a primeira gestante vítima de coronavírus em Pernambuco. Ela estava na 32ª semana de gravidez e precisou passar por uma cesariana após seu quadro piorar. Seu bebê sobreviveu e foi encaminhado à UTI, onde se encontra em estado estável.

Na véspera, Gabriela de Souza Izidro, de 29 anos, morreu no Rio de Janeiro também infectada. Os médicos realizaram o parto para salvar sua filha, que nasceu prematura com 32 semanas de gestação. A bebê passa bem e segue internada na UTI neonatal de um hospital na Zona Norte do município.

De acordo com Silvana Quitana, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Trato Inferior da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a indicação da resolução da gestação deve prezar o bem-estar da mãe e do bebê, já que a prematuridade é um fator relevante de motarlidade.

“Se ela não tem nada grave e o feto está bem, monitora com ultrassom, exames de auscultação. Não há a mínima inidicação de resolução da gestação. Não adianta ficar com medo do coronavírus e tirar uma criança pré-termo que vai certamente para UTI, com internação prolongada”, afirma. “Se a mãe desenvolve um quadro de insuficiência respiratória ou pnenumonia, se necessita ser entubada, aí você tem de avaliar caso a caso.”

Com informações da Época

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