Coronavírus: Brasil tem 225 mil casos não notificados, aponta pesquisa

Precariedade dos dados no País, expresso na subnotificação, “pode sugerir uma falsa ideia de controle da doença”

O Brasil passou dos 20 mil casos de Covid-19 oficialmente notificados neste fim de semana – mas no sábado (11) o número real de infectados já estava em torno de 245 mil. É o que aponta um relatório do projeto Nois (Nucleo de Operações e Inteligência em Saúde), produzido por um grupo interdisciplinar que inclui epidemiologistas e pesquisadores de outras áreas.

O Nois envolve nomes da PUC-Rio, Fiocruz, USP e outras instituições. Os pesquisadores montaram a estimativa com base nas taxas de letalidade da doença no Brasil, calculada pelo número de morte dividido pelo número de casos. No País, a taxa para os casos que já tiveram desfecho (pacientes que morreram ou já receberam alta) é de 16,3%.

O percentual é considerado muito alto em relação a outros países onde já há estudos com casos bem documentados, dos quais cerca de 1,3% resultaram em óbito. Segundo os pesquisadores, isso não significa que a doença seja mais letal no Brasil – mas, sim, que o número real de infecções (incluindo os casos leves e assintomáticos) esteja muito acima daquelas notificadas.

O grande problema com os dados da Covid-19 no país é a falta de fits de testagem, sobretudo os de RT-PCR, que são mais confiáveis e detectam a presença do vírus em pacientes que já desenvolveram sintomas. “A baixa capacidade de testagem pelo RT-PCR fez com que o Ministério da Saúde (MS) recomendasse que apenas os casos graves fossem testados”, afirma o relatório.

Mas, conforme os pesquisadores, “nem todos os casos suspeitos deste grupo estão sendo examinados. Em São Paulo, onde está a maioria dos casos confirmados no país, apenas 24% do total de testes para Covid-19 foram entregues”.

A precariedade dos dados sobre a doença é, em si, um risco para o país. “O elevado grau de subnotificação pode sugerir uma falsa ideia de controle da doença e, consequentemente, poderia levar ao declínio na implementação de ações de contenção, como o isolamento horizontal”, indica o relatório.

A porcentagem de notificação dos casos, segundo os cientistas, também aparenta estar variando entre diferentes estados. Enquanto no Rio de Janeiro ela está em 7,2%, em São Paulo ela foi estimada em 6,2%. O estado brasileiro com dados mais precários é a Paraíba, que só estaria conseguindo diagnosticar 2,2% de seus casos reais. O estado com melhor cobertura é Mato Grosso do Sul (27,8% de notificação). O Distrito Federal também aparenta ter uma parcela relativamente alta, 27,6%.

Uma das limitações do estudo é que uma projeção com base na letalidade pode mudar quando começarem a faltar leitos no País. “Sistemas de saúde sobrecarregados com pacientes de Covid-19 devem apresentar, ao final da pandemia, uma letalidade superior ao dos sistemas que não foram sobrecarregados”, diz o pesquisador Marcelo Prado, que integra o grupo Nois. “Isso se deve ao racionamento de recursos que pode fazer com que grupos de pacientes fiquem sem acesso a respiradores, por exemplo.”

Com informações do O Globo

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