Na contramão, Bolsonaro diz que vírus está indo embora

Em videoconferência de dez minutos, o presidente voltou a minimizar os efeitos do vírus no país, e enfatizar os efeitos econômicos da quarentena

Na contramão do que dizem especialistas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou neste domingo (12) que o novo coronavírus parece estar indo embora do país. Sem apontar qualquer dado oficial, o presidente insiste em diminuir a preocupação da população com a epidemia e fazê-la sair da quarentena.

“Parece que está começando a ir embora essa questão do vírus, mas está chegando e batendo forte a questão do desemprego”, afirmou o presidente em uma videoconferência com líderes religiosos em comemoração à Páscoa. Seu pronunciamento foi transmitido pelo SBT, mas obteve apenas 8 pontos no Ibope, enquanto o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta falava, no mesmo horário, com 25 pontos no Fantástico da Rede Globo.

Apesar da afirmação de Bolsonaro, de que haveria uma diminuição gradual da crise de saúde, o Brasil registrou 99 mortes de sábado (11) para domingo, totalizando 1.223 óbitos pelo novo coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde. Há pelo menos 22.169 casos confirmados da nova doença no Brasil. Autoridades têm chamado atenção para a possibilidade de subnotificação devido à falta de testes no país. A maioria dos testados são aqueles que procuram os hospitais em estado mais avançado de sintomas, quando muitos apenas são vetores do vírus ou apresentam sintomas leves. Avalia-se que 80% dos infectados não vão precisar recorrer aos hospitais.

A pasta prevê um pico da Covid-19 entre fim de abril e início de maio para estados com índices de contaminação mais avançados. Já para o país, de forma geral, esse ápice é esperado para junho. As capitais são as mais atingidas pela epidemia, enquanto o contagio é mais lento em cidades do interior do país, o que faz com que prefeituras flexibilizem as regras da quarentena, permitindo o funcionamento do comércio e serviços públicos.

Contágio alto até setembro

A declaração de Bolsonaro também contraria um artigo científico escrito por pesquisadores brasileiros e por integrantes do Ministério da Saúde. O texto, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, menciona um pico do novo coronavírus entre abril e maio e que a crise deve se estender ao menos até meados de setembro.

Os autores afirmam que o outono está chegando e que nessa estação e no inverno aumenta a incidência de doenças respiratórias.

São eles pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, da Fundação Oswaldo Cruz, Universidade do Estado do Amazonas, Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado e profissionais do Ministério da Saúde.

Na transmissão ao vivo deste domingo, Bolsonaro disse que vem repetindo há 40 dias que o Brasil tem dois problemas a serem enfrentados: o vírus e o desemprego.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou há pouco mais de um mês, em 11 de março, que trata-se de uma pandemia. O Brasil havia registrado seu primeiro caso em 26 de fevereiro e a primeira morte em 17 de março. Depois confirmou-se uma morte, em Belo Horizonte, no dia 23 de janeiro, quando ainda não havia testagem para covid-19. Há infecções confirmadas em todas as unidades da federação. No caso do Amazonas, autoridades afirmam que o estado já atingiu a capacidade de atendimento da população.

O presidente vem agindo na contramão do que dizem autoridades sanitárias, o próprio Ministério da Saúde e lideranças mundiais. Ele tem saído do Palácio da Alvorada, visitado locais públicos, cumprimentado apoiadores e promovido aglomerações, o que gerou uma série de críticas.

Bolsonaro defende que sejam isolados apenas aqueles que integram os grupos de risco, como idosos, diabéticos ou hipertensos. A recomendação da OMS e do ministério, contudo, é de que haja um distanciamento social amplo para evitar o colapso do sistema público de saúde.

A live presidencial deste domingo contou com a participação de líderes religiosos alinhados ao governo, como o pastor Silas Malafaia e o deputado Marco Feliciano. A mediação da videoconferência ficou a cargo de Iris Abravanel, esposa do empresário e apresentador Silvio Santos, do SBT.