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Principal tarefa é sobreviver à pandemia, afirma sindicalista

Bancários foram a primeira categoria a montar comitê de crise com o setor patronal, diz presidente do sindicato da categoria na Bahia

“O discurso neoliberal do Estado mínimo não resiste aos momentos de crise. Quem vai ajudar o país a sair da crise são os recursos públicos“, afirmou ao Portal CTB o bancário e advogado Augusto Vasconcelos, presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia. O dirigente inaugura uma série de entrevistas em que lideranças da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) contam como eles intervêm neste momento de pandemia do coronavírus para preservar a vida dos trabalhadores e assegurar empregos, renda e direitos na base e Estados em que atuam.

Augusto também é professor universitário e há 16 anos é trabalhador da Caixa Econômica Federal. É especialista em Direito do Estado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Mestre em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL). Ele elogiou a resistência dos trabalhadores dos bancos públicos, que continuam atendendo aos segmentos mais vulneráveis que dependem da continuidade das políticas públicas. “Merecem o nosso reconhecimento, pela atuação corajosa para ajudar aqueles que mais necessitam“.

Confira a entrevista na íntegra:

Portal CTB: Como você avalia as Medidas Emergenciais para o enfrentamento do coronavírus, manutenção do emprego e da renda anunciadas pelo governo Bolsonaro até agora?

Augusto Vasconcelos: O governo demorou muito para adotar medidas efetivas para a população mais pobre. A renda emergencial só saiu depois de muita pressão. Conseguimos aumentar o valor de R$ 200 para R$ 600, mas ainda é insuficiente para garantir a sobrevivência da maioria das famílias brasileiras.

Enquanto isso, para os bancos o governo reduziu o depósito compulsório e tenta aprovar a possibilidade de o Banco Central atuar no mercado secundário, comprando carteiras podres do sistema financeiro sem qualquer controle. Significa, na prática, que o dinheiro público pode ser utilizado para salvar bancos. Lembremos que os três maiores bancos privados do País lucraram, no ano passado, R$ 63 bilhões, o que equivale à metade do orçamento do Ministério da Saúde aprovado para 2020.

Para piorar, Bolsonaro editou as Medidas Provisórias 927 e 936 que penalizam ainda mais os trabalhadores e não asseguram o poder de compra daqueles que tiverem redução salarial. Sem falar que tenta aprovar a MP 905 que estipula uma nova reforma trabalhista em plena pandemia. Verdadeiro absurdo!

Portal CTB: Quais os impactos da crise na sua categoria? Houve paralisação parcial ou total das atividades? Se não houve interrupção total, quais as medidas que estão sendo adotadas para preservar a vida, a saúde e a segurança dos trabalhadores?

AV: Os bancários foram a primeira categoria do país a montar um comitê de crise com o setor patronal. Desde o início da pandemia, reivindicamos a responsabilidade dos bancos e do poder público na proteção dos trabalhadores e também dos clientes. Temos monitorado e acompanhado o funcionamento das agências no dia a dia, que estão com atendimento contingenciado somente para os programas sociais e casos excepcionais.

Nossa maior preocupação é com as aglomerações que se formam na entrada das unidades. Defendemos o distanciamento social nas filas, mas, se não houver o apoio da guarda municipal ou da polícia, é difícil de organizar. Conseguimos liberar os funcionários que compõem os grupos de risco para atuarem em home office. Mas estamos apreensivos com o aumento do contágio na categoria. Alguns colegas inclusive já vieram a óbito por conta da Covid-19.

Em um primeiro momento, os bancos negligenciaram o fornecimento de EPI’s. Após muita pressão, conseguimos que disponibilizassem máscaras, álcool em gel e luvas, apesar da escassez de material em algumas agências. Conseguimos antecipar a campanha de vacinação na categoria e estabelecemos um protocolo de suspensão do atendimento quando surgem casos suspeitos de contaminação. Nesta hipótese, todos os trabalhadores da unidade são afastados por precaução.

Portal CTB: O que está sendo feito para garantir emprego e salários? Como o sindicato está atuando para garantir a negociação coletiva diante da pressão das empresas pelo acordo individual? Quantas demissões ocorreram na sua base até o momento?

AV: Fruto de negociação intensa do Comando Nacional dos Bancários, conseguimos suspender as demissões nos maiores bancos do País. Porém, temos denunciado a cobrança de metas e a pressão por resultados em alguns bancos. Já denunciamos o assunto ao Ministério Público do Trabalho. A Fenaban afirmou que iria orientar no sentido de que não houvesse esse tipo de atitude por parte das direções das empresas.

Portal CTB: O que fazer nesta conjuntura complexa? Qual o caminho?

AV: A principal tarefa no momento é sobreviver e assegurar que o número de mortes seja o menor possível. Para isso, precisamos cuidar das pessoas, dando-lhes condições financeiras para que fiquem em casa. O discurso neoliberal do Estado mínimo não resiste aos momentos de crise. Quem vai ajudar o país a sair da crise são recursos públicos. A lógica privatista foca na maximização do lucro em detrimento das pessoas.

Ainda bem que conseguimos resistir e impedir o desmonte por completo de algumas áreas. Veja o caso dos bancos públicos. Os trabalhadores dessas instituições merecem o nosso reconhecimento, pela atuação corajosa para ajudar aqueles que mais necessitam. Espero que essa crise desperte a consciência da sociedade para que possamos trilhar outro caminho: o da solidariedade e inclusão. Eu acredito e luto por isso todos os dias.

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