Covid 19: Brasil à beira de um desastre

De acordo com um estudo conjunto das universidades de São Paulo e de Brasília, o número real de brasileiros infectados pelo Sars-Cov-2 é 13 vezes maior do reconhecido oficialmente pelo Ministério da Saúde.

Os números oficiais, nesta quarta-feira (15), informavam que havia 25.652 casos de Covid-19 e 1.532 mortes. O estudo diz que, na verdade, o Brasil deve ter 312 mil pessoas infectadas – e subindo, aumentando a possibilidade de uma catástrofe na saúde antes do final de abril.

País da América Latina mais atingido pela pandemia, o Brasil está registrando uma porcentagem maior de pessoas curadas da Covid-19 do que portadores. A disparidade é essencialmente devida à falta de testes, para não mencionar o rastreamento de contrações – práticas que garantiram o sucesso do modelo sul-coreano.

A ex-presidente Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em 2016, enfatizou a absoluta incompetência do governo Jair Bolsonaro ao lidar com a pandemia: “Por que não há testes? O que eles estão tentando esconder? O número de mortes?”

A situação explosiva é uma conseqüência direta da aposta do presidente Bolsonaro em uma estratégia de desinformação, descartando a Covid-19 como uma “gripezinha”. Ele está em conflito com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, indicado de Bolsonaro, mas prestes a ser demitido antes do final da semana.

O desastre previsível da saúde no Brasil também é uma conseqüência direta do desastre econômico neoliberal – em que a saúde pública não é uma prioridade e os brasileiros pobres são deixados à própria sorte e ainda demonizados.

Bolsonaro nega veementemente a gravidade da crise e está desesperado para reabrir a despedaçada economia brasileira. Nos círculos atlânticistas, ele é considerado o pior líder global na luta contra a Covid-19.

Enquanto isso, a resposta à Covid-19 foi assumida pelos governadores locais, ministros e altos generais. Bolsonaro continua descartando medidas de contenção tomadas pelos estados e recomendadas pelo ministro da Saúde, que segue os protocolos da Organização Mundial da Saúde e, pelo menos até o momento, tem sido apoiado pelos militares.

Governadores testam positivo

Dois governadores de estado brasileiros que criticaram os apelos de Bolsonaro para relaxar as medidas de contenção disseram terça-feira (14) que testaram positivo para o novo coronavírus, informou a Agência France Presse.

No Twitter, os governadores Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, e Helder Barbalho, do Pará, divulgaram vídeos sobre seus diagnósticos e pedindo às pessoas que fiquem em casa para combater a propagação do vírus.

Witzel, um dos principais defensores do fechamento de negócios não essenciais ordenando que as pessoas fiquem em casa, disse que começou a se sentir mal na sexta-feira, com febre, dor de garganta e perda de olfato, um sintoma essencial do vírus.

“Hoje, o resultado do teste voltou positivo”, disse Witzel, 52 anos, acrescentando: “Agora, graças a Deus, estou me sentindo melhor e continuarei trabalhando enquanto segue o conselho dos meus médicos.”

“Peço novamente que você fique em casa, porque esta doença, como todos podem ver, se espalha rapidamente e não poupa ninguém”. Barbalho, 40, que afirmou estar assintomático, fez um apelo semelhante.

“Este vírus é extremamente contagioso, não reconhece idade ou classe. Todo mundo está exposto. Então, por favor, fique em casa – afirmou.

Bolsonaro culpou as políticas de distanciamento social por, desnecessariamente, a seu ver, destruir a maior economia da América Latina.

Witzel retrucou no mês passado que a afronta de Bolsonaro às diretrizes das Nações Unidas e da OMS poderia ser considerado um “crime contra a humanidade”.

Debacle política

Além da tempestade perfeita, há o desastre político.

Na sequência de um golpe  “branco” – mais ou menos legal – militar, o presidente interino do Brasil no momento para todos os efeitos práticos é o general Braga Netto, chefe de gabinete de Bolsonaro e vinculado ao poderoso Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o equivalente brasileiro ao Conselho de Segurança Nacional dos EUA.

No entanto, Bolsonaro ainda permanece nominalmente no poder, tecnicamente uma espécie de figura da rainha da Inglaterra – mas agora perigosa e volátil.

Essencialmente, o golpe branco aconteceu na semana passada. Foi, em teoria, acordado entre o GSI e o próprio Bolsonaro. Ele continuará sendo ultrajante, mas as decisões operacionais, especialmente na área de saúde pública, agora são tomadas por Braga Netto, apoiado pelo poderoso GSI e pelo vice-presidente, o general aposentado Antônio Hamilton Martins Mourão, quatro estrelas. As decisões sobre contratação e demissão são controladas pelos militares.

A história interna de Brasília é que os militares estão tentando descobrir como tirar todas as decisões importantes de Bolsonaro sem ter que recorrer a um longo e violento processo de impeachment.

Fonte: Asia Times Tradução: Dossier Sul

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