A correta estratégia econômica do governo argentino durante a pandemia

Fernández obtém apoio dos governadores, mas espera por forte lobby dos rentistas e da mídia.

Presidente argentino Alberto Fernandez quer taxar grandes fortunas para enfrentar os efeitos dapandemia de Covid-19

Alberto Fernández não se considera especialmente habilidoso no jogo de xadrez. No entanto, o presidente da Argentina se comporta na política como se dominasse as estratégias enxadrísticas. É certo que a proposta de reestruturação da dívida de US$ 66 bilhões com credores estrangeiros ocorreu por conta da pandemia que assola todo o mundo. Mas não é menos certo que foi necessária uma dose de astúcia e o presidente avaliou que seria melhor tratar desse tema agora, e não mais adiante (conforme alguns rentistas preferiam).

Os rentistas, se sua influência tivesse prevalecido, teriam postergado esse debate para quando o mercado se estabilizar. Em “bom castelhano”, seu intuito seria o de ter tempo para ganhar mais dinheiro. O presidente, no entanto, não cedeu a essa pressão.

Alea iacta est

Dito em português, “a sorte está lançada”. No governo, sabe-se que a negociação não será fácil e que haverá reclamações, concessões e ganhos, mas há clima de otimismo em relação ao resultado final. Principalmente por causa de dois antecedentes favoráveis: o Fundo Monetário Internacional (FMI) já havia dito, antes da pandemia, que a dívida argentina era insustentável. Os líderes do G-20 também assim compreenderam, pois a dívida, contraída por outros governos, não seria paga sem a imposição de sacrifícios ao povo.

Apesar desse otimismo, a equipe econômica de Fernández espera um forte lobby por parte dos fundos de investimento e da mídia argentina, em nome do interesse de uma minoria de argentinos.

Apoio dos governadores e o futuro da quarentena

A presença de todos os governadores (de maneira virtual ou presencial) na reunião em que Fernández fez o anúncio foi vista pelo governo como um forte respaldo político à reestruturação.

A respeito da manutenção da quarentena no país, o governo avalia que os resultados do isolamento foram muito superiores ao que foi previsto inicialmente. Há, no radar da equipe de Fernández, três desafios: garantir apoio financeiro aos que estão sem trabalhar, assegurar que a reestruturação será concretizada e que os argentinos se mantenham em suas casas.

Nota da redação do Vermelho: até esta sexta-feira, a Argentina havia contabilizado 2.669 casos, com um total de 122 óbitos.

Tradução e edição: Fernando Damasceno