Prefeito de Manaus cobra de Bolsonaro respeito aos coveiros

Arthur Virgílio condenou a participação do presidente em atos pró-ditadura e cobrou que assuma as funções que o cargo exige.

O tucano Arthur Virgílio Neto é prefeito de Manaus l -Foto: George Gianni/ PSDB

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM​), rebateu, em tom de desabafo, a declaração de Bolsonaro de que não é coveiro, ao ser perguntado pelo jornal Folha de São Paulo sobre o número aceitável de mortes por coronavírus. “Queria dizer para ele que tenho muitos coveiros adoecidos. Alguns em estado grave. Tenho muito respeito pelos coveiros. Não sei se ele serviria para ser coveiro. Talvez não servisse. Tomara que ele assuma as funções de verdadeiro presidente da República. Uma delas é respeitar os coveiros”, afirmou Virgílio.

O prefeito falou também sobre as valas abertas pela prefeitura para comportar o aumento do número de corpos. Segundo ele, estão sendo usadas retroescavadeiras para dar conta do serviço e que se tem procurado dar o minimo de dignidade aos mortos . “Tem ali o retrato da família, põe o retrato da pessoa para poder ser homenageada em 2 de novembro , para não ficar aquela coisa que me lembra a ditadura militar, em que a família sabe que morreu, mas não sabe onde está o corpo. É um trabalho incessante para evitar o caos funerário”, diz Virgílio.

Segundo a coluna Painel, da Folha de São Paulo, Virgílio Neto afirmou que a capital do Amazonas já não vive uma emergência, mas um estado de calamidade. A cidade tem, até o momento, 2270 casos de contaminação pelo coronavírus, além de 193 óbitos. Segundo o prefeito, no domingo (19), 17% (ao menos 20 indivíduos) das 122 pessoas enterradas em Manaus morreram em suas casas. Na segunda-feira (20), a taxa subiu para 36,5% (ao menos 38 pessoas) dos 106 mortos. “São números que mostram o colapso. Estamos chegando no ponto muito doloroso, ao qual não precisaríamos ter chegado se tivéssemos praticado a horizontalidade da quarentena, no qual o médico terá que se fazer a pergunta: salvo o jovem ou o velho? “, diz. “Estamos em ponto de barbárie.”

Loas ao AI-5

Em reunião com o com o vice-presidente, Hamilton Mourão, na segunda-feira (20, o prefeito manauara apresentou as demandas da cidade na pandemia. Pediu aparelhos de tomografia, profissionais treinados, equipamentos de proteção individual e remédios “O Amazonas pede socorro. SOS Amazonas. Aceitamos voluntários, médicos, aparelhos que estejam em bom funcionamento ou novos”, afirmou. Ele afirma que escreverá uma carta aos líderes do G20 solicitando ajuda.

Virgílio diz ter aproveitado o encontro para desabafar contra Jair Bolsonaro. Ele, cujo pai, o senador Arthur Virgílio Filho, teve o mandato cassado pela ditadura militar, revoltou-se com a presença do presidente no ato pró-golpe militar de domingo (19).” Não podia deixar de condenar o presidente participar de um comício, aglomerando, e ainda por cima tecendo loas a essa coisa absurda que foi o AI-5. Cassou meu pai, cassou Mário Covas, pessoas acima de quaisquer suspeitas, e que serviam o país”, diz.

“É de extremo mau gosto o presidente participar de um comício, insistentemente contrariando a Organização Mundial de Saúde e os esforços que fazem governadores e prefeitos”, afirma Virgílio. “Bolsonaro toca diariamente nas minhas feridas.”

Da redação, com informações do Painel da Filha de São Paulo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *