EUA: Se Biden escolher Warren como vice, Democratas terão um problema

Definição da vice na chapa precisa levar em conta a maioria que os Republicanos têm atualmente no Senado.

Biden e suas opções para vice: cuidado para não prejudicar seu partido no Senado

Eu era um eleitor de Elizabeth Warren e eu adoraria votar nela para presidente dos Estados Unidos. Mas eu tenho muito menos entusiasmo do que Joe Biden com a ideia de escolhê-la como vice de sua chapa por causa de uma simples razão: o Senado.

As discussões públicas sobre a escolha dos vice-presidentes levam em conta, geralmente, como eles podem ou não ajudar a vencer a eleição. Warren (senadora por Massachusetts) ou Bernie Sanders (senador por Vermont) poderiam ajudar a levar o Partido Democrata mais para a esquerda. Kamala Harris (senadora pela Califórnia), Stacey Abrams (ex-candidato ao governo da Georgia) ou até mesmo Michelle Obama poderiam ajudar a consolidar os votos da população negra. Por sua vez, Amy Klouchar (senadora por Minnesota) ou Gretchen Whitmer (governadora do Michigan) poderiam ajudar Biden no Meio Oeste, região na qual Hillary Clinton perdeu a eleição em 2016.

No entanto, essas possibilidades precisam levar em conta outro fator muito importante: a disputa para o Senado dos Estados Unidos. E se Biden vencer Trump, mas perder o Senado, ele não terá realmente derrotado o atual presidente.

A eleição de 2020 é tremendamente importante para minimizar os males causados pela pandemia do coronavírus, bem como para atenuar as atuais políticas de Meio Ambiente ou Imigração. Mas a disputa do Senado não pode ser minimizada. É preciso tirar o controle da Casa do Partido Republicano. Um exemplo concreto: a maioria Republicana inundou os tribunais de primeira instância com juízes de extrema-direita, com muitos nomes sem qualquer capacidade de exercer essa função. Sem o controle do Senado, continuaremos a ver um Judiciário avesso a quaisquer políticas progressistas, desde a ampliação do nosso sistema de saúde a temas como Clima ou Direitos Trabalhistas.

Atualmente, a relação no Senado é favorável ao Partido Republicano em 53-47, mas existem chances reais de se reverter esse cenário. No Arizona, no Maine, na Carolina do Norte, em Montana e no Alabama há boas possibilidades de vitória de candidatos Democratas. De qualquer forma, caso haja uma reversão dessa maioria, ela será muito enxuta, sem nenhuma folga. Portanto, o Partido Democrata não deveria colocar em risco nenhuma de suas vagas.

Exemplo concreto: se Amy Klobuchar (que ganhou com folga para o Senado no Minnesota), for a vice de Biden, em 2021 será realizada uma eleição especial para definir quem ocupará sua vaga (nota do tradutor: não há suplência para o Senado nos EUA, como no Brasil). Vejamos o caso de Warren: em Massachusetts, o governador é republicano. Se ela se torna a vice-presidente, as forças locais tentariam a todo custo tirar essa vaga dos democratas. O mesmo ocorre em Vermont, onde Sanders tem sua base.

É claro que o cenário do Senado não deve ser a única consideração para Biden. Ele já afirmou que escolherá uma mulher para completar sua chapa, o que deixa Sanders automaticamente fora. Warren seria uma ótima escolha, é claro, mas causaria grande preocupação. O país está em crise e há boas chances de derrotar Trump. Precisamos mais do que uma vitória parcial. E isso significa uma sábia escolha de Biden, capaz de fortalecer seu partido tanto na eleição presidencial quanto para o Senado.

Tradução e edição: Fernando Damasceno