Com acesso precário à saúde, quilombolas têm seis mortes pela Covid-19

Entidade teme impacto do vírus nas comunidades negras e rurais. Levantamento indica dificuldade para acessar centros de saúde e auxílio emergencial.

Comunidade quilombola - Pedro Calvi/CDHM

Nesta quinta-feira (23), o Brasil teve o pior dia desde o início da pandemia do novo coronavírus, a Covid-19, com 407 óbitos e 3.735 novos casos em 24 horas. Com isso, o número de brasileiros mortos chegou a 3.313 e o total de casos a 49.495.

Por baixo dos dados assustadores, escondem-se as muitas realidades brasileiras, que perdem-se sob o mito de um caráter “democrático” da doença. A invisibilidade do alastramento da Covid-19 em territórios quilombolas, por exemplo, revela uma situação potencialmente drástica, que não tem recebido a atenção devida das autoridades públicas e dos meios de comunicação dominantes.

É o que aponta monitoramento autônomo Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), realizado junto aos territórios entre os dias 16 e 17 de abril

Segundo o levantamento, no período, havia diagnóstico do novo coronavírus em comunidades quilombolas em cinco estados: 29 casos pendentes de diagnóstico, sete confirmados e dois óbitos. Na quarta-feira (22) a situação se agravou para seis óbitos.

“Os dados revelam uma alta taxa de letalidade da Covid-19 entre os povos quilombolas e uma grande subnotificação de casos. Situações de dificuldades no acesso a exames e negação de exames a pessoas com sintomas têm sido relatadas pelas pessoas das comunidades”, aponta relatório divulgado pela Conaq.

A entidade teme um impacto “arrasador” do vírus nas comunidades negras e rurais se a doença se mantiver no nível atual de alastramento e letalidade. Segundo o relatório, a maior parte das comunidades está distante de centros de saúde melhor estruturados. O acesso à água é outro motivo de preocupação, por dificultar as condições de higiene para evitar a propagação do vírus.

“Essa situação tende a ser agravar exponencialmente com as consequências sociais e econômicas da crise da Covid-19 na vida das famílias quilombolas. Outra dificuldade relatada é com relação ao acesso à renda básica emergencial, especialmente a acessibilidade dos procedimentos de cadastramento via aplicativo e falta de ações dos governos estaduais e municipais no sentido de atender demandas emergenciais dos quilombos”, prossegue o documento.

Segundo a Conaq, há uma “paralisia” dos governantes que “assistem ao caos nos quilombos e acabam por reforçar discursos vazios do governo federal que até o momento não fez chegar amparos emergenciais e medidas de proteção mais efetivas”.

“A Conaq exige que o governo e a sociedade brasileira se posicionem e tomem medidas em defesa da vida das famílias quilombolas”, conclui o relatório.

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