Bolsonaro se porta como um “cavaleiro do apocalipse”, diz Flávio Dino

Governador considerou que o presidente, “com todas as suas ações e omissões”, se tornou “um aliado do coronavírus”

O governador Flávio Dino (PCdoB-MA) lamentou a “indiferença” e a “desumanidade” com as quais Jair Bolsonaro lida com a pandemia da Covid-19. Segundo ele, o presidente se porta como um “cavaleiro do apocalipse” e ignora a gravidade da crise. “Ele (Bolsonaro) é o último dos negacionistas e o que mais sabota o combate ao coronavírus”, afirmou o governador, nesta sexta-feira (24), em entrevista por videoconferência ao Portal Vermelho.

Sem meias palavras, Dino considerou que o presidente, “com todas as suas ações e omissões”, se tornou “um aliado do coronavírus”. Até esta quinta-feira, o Brasil já havia registrado 49.492 casos confirmados e 3.313 mortes por Covid-19. Mas nem essas estatísticas sombrias, nem sequer as imagens de valas coletivas em Manaus (AM), divulgadas nesta semana, levaram Bolsonaro a mudar de atitude.

“Centenas de brasileiros perdendo a vida. Os estados não conseguem comprar equipamentos. Só que a pauta do governo não é a morte ou o sofrimento”, declarou Dino. “Por que o governo federal não está lá em Manaus? É um desrespeito à população do Amazonas e a todos os brasileiros. Ele devia estar em Manaus em vez de ir à padaria para fazer aglomerações”, agregou.

Na opinião de Dino, o isolamento do governo federal – com direito ao absurdo confisco de equipamentos comprados pelos estados – teve como desdobramento uma união mais sólida dos governadores, “cooperando entre si”. Dino defendeu ajuda a todas as regiões, independentemente de partidos ou ideologias. “Não é ajuda a este ou aquele estado. É ajuda a cidadãos brasileiros que moram lá.”

Seu próprio estado, o Maranhão, é um dos que mais sofrem com o avanço da pandemia no País. Em uma semana, enquanto o número de casos confirmados passou “de menos de uma centena para mais de 2 mil”, a ação efetiva do governo estadual garantiu um acréscimo de 50% nos leitos da capital São Luís – de 80 para 120. Ganhou destaque a “operação de guerra” que garantiu a compra 107 respiradores e 200 mil máscaras da China, driblando o governo federal.

Dino denuncia o “belicismo de Bolsonaro”, especialmente a ofensiva para reter equipamentos médicos, a fim de redistribuí-los de acordo com critérios político-partidários. “Essa sanções do Bolsonaro não são engraçadas. São trágicas!” O governador disse não temer retaliações de órgãos como a Receita Federal, escalada pelo presidente para acuar Dino. “É mais fácil o Maranhão processar a Receita Federal do que a Receita Federal processar o Maranhão”, desdenhou o governante do PCdoB.

Ele também disse considerar “vitais” as medidas preventivas que garantam o distanciamento social. Sem essas iniciativas, diz ele, o colapso seria “ainda maior no sistema de saúde” dos municípios e estados. “A situação no Brasil é muito grave e não pode ser minimizada”, afirmou. “Não consigo entender pessoas que possam, eventualmente, naturalizar a morte de 400 pessoas por dia. É como se três aviões tivessem caído no Brasil num dia só.”

A entrevista foi concedida uma hora antes de o ministro Sergio Moro (Justiça) pedir demissão e elevar a crise nacional. Dino fez uma ponderação: “O Moro que eu conheci era outro, mas virou o agente político que definiu a eleição presidencial de 2018”. A seguir, criticou a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.

Para o governador, o presidente vive “trocando o time inteiro no meio da partida, demitindo o comandante no meio do voo”. Desta vez, porém, tem o agravante de Bolsonaro “querer controlar investigações que poderiam alcançar os filhos (sobretudo Flávio e Eduardo Bolsonaro)”. Em meio a isso, abusa das “manobras diversionistas, em vez de pautas de interesse da nossa nação”. As ações federais no combate à Covid-19 também são prejudicadas, segundo Dino, pela “equipe fraca e descomprometida” da qual Bolsonaro se cercou.

Mas a responsabilidade pelo caos não é exclusiva dos bolsonaristas, afirma o governador. “Antes da pandemia, o dólar já estava descontrolado, o crescimento era baixo”, diz. “Para fazer o golpe (de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff), falaram em dólar a R$ 2 e crescimento de 5% ao ano – mas não entregam o que prometeram. Ou era estelionato?”

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