Moro acusa Bolsonaro de fazer interferência política

Sergio Moro, anunciou sua saída do cargo nesta sexta-feira (24) acusando o presidente Jair Bolsonaro de promover interferência política na Polícia Federal (PF). Moro negou ainda que tenha assinado a demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, conforme foi publicado no Diário Oficial.

(Foto: Marcello Casal/ABr)

O ex-juiz, e agora ex-ministro, afirmou que o presidente pretendia ter acesso à investigações policias e relatórios de inteligência da Polícia Federal. “O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”, declarou Moro.

Numa declaração de reconhecimento da postura isenta do governo que ajudou a derrubar, Moro fez uma comparação da situação com o período em que conduziu os processos da Operação Lava Jato como juiz: “Imaginem se durante a própria Lava Jato, ministro, diretor-geral, presidente, a então presidente Dilma, o ex-presidente, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento?”, questionou.

Sergio Moro  afirmou que  Bolsonaro vem tentando trocar o comando da PF desde o segundo semestre de 2019 e que o presidente reconheceu a mudança como uma interferência política na corporação. “Falei para o presidente que seria uma interferência política. Ele disse que seria mesmo”, revelou Moro.

O ex-ministro disse que recebeu um telefonema do presidente na noite desta quinta-feira (23) dizendo que faria a exoneração do agora ex-diretor geral da PF, Mauricio Valeixo, mas passou pelo constrangimento de saber oficialmente através do Diário Oficial, publicado na madrugada desta sexta-feira. Moro negou que Valeixo tenha pedido demissão, ao contrário do afirma o decreto de exoneração. “Não houve nenhum pedido”, esclareceu dizendo-se ofendido e surpreendido pelo presidente. “Sinalização que o presidente me quer fora do cargo.” Para a exoneração do diretor-geral, Moro pediu motivos que não foram lhe apresentados. “O presidente me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no STF (Supremo Tribunal Federal), também não é uma razão que gere a demissão”, disse.

“Presidente me disse mais de uma vez expressamente que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, pudesse colher informações, pudesse colher relatórios de inteligência seja (com) diretor, seja (som) superintendente E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. São informações que tem que ser preservadas”, revelou.

Segundo o ex-ministro, para evitar a crise durante a pandemia de coronavírus, sugeriu a Bolsonaro que houvesse uma substituição de Maurício Valeixo pelo atual secretário-executivo da PF, mas não obteve resposta.

Motivo da saída

Moro enumerou três motivos para sua saída do cargo: a falta da carta branca para escolher seus subordinados; demissões só seriam feitas com motivos claros; e não haver interferência política. Todos compromissos, segundo o ministro, aceitos por Bolsonaro.

“Houve uma violação da promessa de que eu teria carta branca. E segundo lugar não haveria uma causa para essa substituição e estaria claro que estaria havendo uma interferência política na Polícia Federal, o que gera um abalo na credibilidade não só minha, mas também do governo”, disse.

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