Peru assiste a um “êxodo da fome” durante a crise do coronavírus

Lima concentra a maior parte dos casos de coronavírus no país. A pandemia multiplicou a quantidade de excluídos, que se veem completamente desassistidos pelo governo de Martín Vizcarra.

“A fome vai nos matar antes do que o vírus”, diz, com voz de angústia, uma mulher jovem com uma criança nos braços, nas ruas de Lima (Peru). Ela dormirá mais uma noite nas ruas, enquanto procura por uma forma de voltar para seu povoado no interior do país, numa tentativa desesperada de fugir da miséria do da pandemia que assolam a capital peruana.

Com ela, estão cerca de outros 300 cidadãos, que tentarão deixar Lima a pé. Como eles, há outros milhares de peruanos que saem da capital em busca da sobrevivência em outras cidades.

Lima concentra a maior parte dos casos de coronavírus no país. A pandemia multiplicou a quantidade de excluídos, que se veem completamente desassistidos pelo governo de Martín Vizcarra.

O Peru está em quarentena desde 16 de março. Somente nesta quinta-feira (22) foi anunciada uma ajuda a cerca de 6 milhões de famílias.

“Já não temos o que comer. Por isso estamos tentando regressar aos nossos povoados, onde pelo menos o básico podemos conseguir”, diz um homem, ao lado de seus três filhos. Ele diz que é vendedor ambulante, mas que desde o início da quarentena perdeu qualquer tipo de fonte de renda.

A ministra do Meio Ambiente, Fabiola Muñoz, foi designada como responsável pelo governo para tratar desse êxodo, já que em diversas estradas do país já há registro de aglomerações dessas pessoas. “Não podemos permitir uma saída desordenada, pois são grupos grandes e que podem contagiar uns aos outros com o coronavírus”, afirmou. “Vamos tentar organizar e testar a maior parte desses cidadãos, pois caso contrário eles poderão levar a doença para outras cidades. Entendemos o desespero das pessoas, reconhecemos que podemos lhes dar uma ajuda maior, mas estamos trabalhando para resolver tudo isso”, completou.

O Peru tem cerca de 70% de sua população trabalhando em condições informais, sem direitos trabalhistas e com renda incerta. Na América Latina, o país só perde para o Brasil em casos de contaminados com o coronavírus. Até esta quinta-feira, haviam 20.900 infectados, com 572 mortes.

Tradução e edição: Fernando Damasceno