Del Roio: Temos que manter o 1º de maio vivo no Brasil e no mundo

O ex-senador na Itália e ativista social, José Luiz Del Roio afirmou ao Portal CTB que o Brasil sempre comemorou o 1º de maio e que é preciso manter a data viva diante de um contexto adverso que combina retrocesso nas conquistas históricas dos trabalhadores e trabalhadoras e as consequências resultantes das ações de combate mundial à pandemia do coronavírus. Lives estão programadas para acontecer em todo o mundo e no Brasil nesta sexta-feira (1º )

José Luiz Del Roio destacou o desafios dos trabalhadores em preservar seus direitos nestes tempo de pandemia

“No Brasil foi sempre forte o primeiro de maio. Sempre aconteceu e é importante ser realizado neste formato com as Centrais Sindicais”, afirmou Del Roio. Ele é o convidado do PCdoB no Rio Grande do Norte para uma atividade na internet nesta sexta-feira. Sobre os eventos pelo mundo, Del Roio disse que as grandes manifestações em Havana, Moscou e Pequim devem dar lugar, assim como no Brasil, às atividades virtuais.

Ítalo-brasileiro, Del Roio é autor do livro “1º de maio: Sua origem, seu significado, suas lutas” (1986), relançado em 2016 pelo Centro de Memória Sindical com as Centrais Sindicais CTB, CUT, UGT, Força Sindical, NCST e CSB. “O 1º de maio é o maior encontro de luta da humanidade. Não existe uma data universal como essa. Temos que tratar a data com muito cuidado e saber que neste momento de transformação ou nós vamos para o inferno ou conseguimos romper”, argumentou.

Revolução 

Segundo Del Roio, o caminho para sair dessa combinação de crise ecológica, financeira e de saúde está em uma palavra que muitos temem: revolução. De acordo com ele, o neoliberalismo e a globalização foram desastrosos para o mundo. “Levou à desgraça”. Na opinião do ativista, os efeitos da globalização estourariam mesmo sem a pandemia do coronavírus. “O sistema financeiro mundial está totalmente debilitado. Essas crises estão se cruzando de uma forma difícil de analisar. Quando a crise é tao forte só através de uma revolução”, reiterou.

34 anos após o lançamento da primeira edição do livro, Del Roio identifica dois momentos antagônicos para a luta da classe trabalhadora. Na comemoração do centenário em 1986 havia “esperança”. “Nos países de capitalismo mais desenvolvido estava acontecendo a redução de horário de trabalho, novas tecnologias nascendo para ampliar o horário de estudo e lazer das pessoas, era o que pensávamos”. Para ele, a queda do socialismo no norte europeu e na União Soviética alimentou a contraofensiva do capitalismo que gerou um efeito dominó nas conquistas dos trabalhadores e precarização.

Segundo Del Roio, o Brasil foi o país que mais avançou naquelas três décadas. “Mas pagamos caro porque o imperialismo e o grande capital desencadearam um inferno contra os trabalhadores brasileiros a partir de 2013. Nossa magnífica Constituição foi violada, massacrada”, constatou. “Destruíram conquistas de décadas e décadas que custaram sangue, cárcere, tortura e muita demissão”.

Desafios sindicais

O mundo pós-coronavírus, com desemprego em massa e fome, serão realidades desafiadoras para os sindicatos, lembrou Del Roio. Ele destacou que a ONU calculou que 1 bilhão de pessoas não terão o que comer nos próximos dois meses. “A transformação vai ser dura e dolorosa e tem que ter audácia. A história nos jogou nas costas essa tarefa e estaremos juntos com outras centenas de milhões de trabalhadores”. Del Roio defendeu o internacionalismo como instrumento de luta. “Devemos estreitar as relações com esses trabalhadores pelo mundo, discutir propostas, fazer propostas. Nunca o internacionalismo foi tão fundamental”.

O exílio levou Del Roio a acompanhar e participar da experiência da luta da classe trabalhadora em países como Cuba, China, Chile, Peru, Uniao Soviética e Itália. Testemunha de vários momentos históricos, ele lembrou que a história mostra que as grandes transformações reais tecnológicas e políticas não acontecem sem o trabalhador. 

As consequências da pandemia também atingiram o grande capital, disse Del Roio. “No Brasil, todo um aparato voltado para um golpe de 20 anos está se desmoronando. Não teve base econômica real. Existe um enfraquecimento muito forte dos EUA e um crescimento forte da Rússia e China, que vai mudar o eixo geopolítico do planeta. Isso nos abre perspectivas boas. Não vai ser fácil mas isso nos aproxima de grandes vitórias que não conseguimos até aqui. Podemos recuperar tudo o que perdemos e conseguir muito mais”, finalizou Del Roio. 

Sobre José Luiz Del Roio

Com uma vida dedicada à militância comunista, José Luiz Del Roio atuou, entre outras tarefas, na criação de sindicatos rurais; Perseguido após o golpe de Estado de 1964, foi um dos organizadores da Ação Libertadora Nacional (ALN). Perseguido no Brasil teve que se exilar e passou a viver em países como Chile, Cuba, Peru, União Soviética e Itália. Neste país atuou como radialista e participou com outros companheiros da criação do Arquivo Histórico do Movimento Operário Brasileiro. Os documentos do Arquivo se encontram atualmente depositados no CEDEM da Unesp. Ainda na Itália, Del Roio foi Senador da República italiana em Roma. Também exerceu os cargos de Deputado da Assembleia parlamentar do Conselho de Europa em Estrasburgo e Deputado da União Européia Ocidental em Paris. Entre alguns dos livros que escreveu estão: ‘Igreja Medieval. A cristandade latina”, “Zarattini. A paixão revolucionária”, “A greve de 1917. Os trabalhadores entram em cena”.

Fonte: Portal CTB

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