Bolsonaro barganha cargos para tentar sair do isolamento
Planalto busca uma base de apoio contra um eventual processo de impeachment baseado no inquérito para apurar declarações de Moro
Publicado 29/04/2020 13:28 | Editado 29/04/2020 13:52
Antes mesmo que Sergio Moro pedisse demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o presidente Jair Bolsonaro já havia liberado assessores para negociarem com os partidos do chamado Centrão. Segundo a jornalista André Sadi (G1), o objetivo era buscar apoio no Congresso para votar medidas de interesse do governo na agenda pós-pandemia.
Só que a negociação ganhou outros contornos: o Planalto quer garantir uma base de apoio contra um eventual processo de impeachment baseado no inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar declarações de Moro. O governo se prepara juridicamente desde o final de semana para o desdobramento do inquérito no STF que vai apurar a acusação de Moro de interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal.
Os bolsonaristas admitem que haverá “mais munição” por parte de Moro, inclusive na CPI da FakeNews, caso ele seja chamado para falar. Por isso, para controlar o desgaste político no Congresso, com processos contra Bolsonaro, o governo corre atrás de apoio e libera o loteamento de cargos e ministérios.
Ao Blog da Andréia Sadi, um general disse temer que, se a situação se agravar, o governo Bolsonaro viva a mesma situação de Michel Temer após a denúncia de Joesley Batista: sobreviva politicamente, mas com o governo inviabilizado em matérias econômicas e relevantes para o país. Mas, para sobreviver politicamente, Bolsonaro precisa de um apoio para o qual nunca deu bola.
O Centrão, maior bloco da Câmara, tem conversado há semanas com articuladores políticos do governo. Os interlocutores do presidente já prometeram cargos de segundo e terceiro escalão, mas ainda não entregaram. Com a saída de Moro, esses dirigentes partidários pressionam agora também por ministérios.
Para isso, o presidente precisará desalojar atuais ministros, além de escancarar o “toma lá, dá cá” – uma prática de troca de cargos por apoio que a campanha bolsonarista prometeu não seguir. Mas é exatamente isso que está sendo negociado pelo Planalto com o Centrão – inclusive com o objetivo de esvaziar o poder de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, que é visto como adversário pelo Planalto e é apoiado por esses partidos.
Entre os ministérios cobiçados pelo Centrão, estão a pasta da Agricultura (hoje com Tereza Cristina) e Ciência e Tecnologia (Marcos Pontes). Também cobram o segundo e o terceiro escalão do ministério da Saúde. Quando ministro, Mandetta chegou a alertar nos bastidores aliados de Moro a respeito dessa movimentação dos partidos do Centrão.
O Planalto também identificou um novo alvo da ala ideológica nas redes sociais: a secretária de Cultura, Regina Duarte. A ala política do governo tenta afastar as especulações de que ela deixará o governo, mas se frustrou com as manifestações do presidente nesta terça-feira. Ao ser questionado sobre a permanência de Regina no governo, Bolsonaro disse que só presidente e vice não podem ser trocados.
Com informações do G1