Mercosul: Tensão entre países sobe e coloca em xeque o futuro do bloco
Diplomacia faz com que as decisões sejam lentas, hiper negociadas e baseadas em muita paciência. A ruptura dessa tradição foi vista na semana passada, quando a Argentina saiu da mesa de negociação quando Brasil e Uruguai tomaram atalhos para assinar um tratado com a Coreia do Sul.
Publicado 29/04/2020 15:48
A Argentina deixou a mesa de negociação de acordos de livre-comércio do Mercosul. Se os outros países tiverem posições semelhantes, será o fim do projeto de integração regional.
“A alternativa era avançar para a assinatura de um acordo que teria sido terrível para a indústria argentina, em um contexto de pandemia e crise econômica. O tratado de livre-comércio com a Coreia do Sul não representa nenhuma vantagem para nosso país em termos de exportações”. Assim descreveu para o jornal “Página 12” uma fonte da Casa Rosada o que levou a saída da Argentina da mesa de negociações de acordos de livre-comércio do Mercosul.
Se os outros países de fato avançarem na assinatura do acordo, será produzida uma ruptura da união aduaneira, com imediatas consequências negativas para a integração regional. Ainda nesta semana iniciarão as reuniões para analisar em termos jurídicos como essa questão se desenvolverá.
Um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e outra nação ou bloco regional implica que esse novo membro venda suas mercadorias para Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai sem pagar tarifas de importação – e vice-versa. Da mesma forma, o produto pode circular livremente entre os países do Mercosul, já que o comércio dentro do bloco não paga taxa alguma. Até o presente momento, há acordos dessa natureza vigentes com o Israel e Egito. Há também acordos de preferência comercial com a Índia, a África Meridional e alguns convênios com países da América Latina.
A lógica diplomática faz com que as decisões sejam lentas, hiper negociadas e baseadas em muita paciência. A ruptura dessa tradição foi vista na semana passada, quando a Argentina saiu da mesa de negociação quando Brasil e Uruguai tomaram atalhos para assinar um tratado com a Coreia do Sul. É a primeira vez que algo assim ocorre na história do bloco.
Há ao menos quatro fatores bem nítidos que definiram a postura argentina. O primeiro tem a ver com os antecedentes, já que o governo anterior, de Maurício Macri, promoveu acordos de livre-comércio, a presente negociação estava relativamente avançada, com ofertas sobre a mesa e lobbies de todos os lados. Em segundo lugar, o Brasil, país com maior predominância sobre o bloco, tem hoje um governo ultraliberal, que pretende avançar com toda velocidade sobre tais acordos. Em terceiro lugar, na visão do atual governo a crise (economia + pandemia) exige que os países fechem mais sua economia. Em quarto lugar, o Uruguai, com o apoio do Brasil e do Paraguai, também adotou postura ofensiva e se negou a postergar as negociações.
Em janeiro, na primeira reunião do bloco na qual o governo de Alberto Fernández participou, os negociadores argentinos advertiram que era difícil seguir avançando no acordo com os sul-coreanos, pois não havia margem para a Argentina remanejar empregos em setores nos quais a Coreia do Sul é uma potência industrial. Em março, na capital uruguaia, a posição foi repetida, desta vez já sob a perspectiva da pandemia do coronavírus. Em abril, ocorreu o mesmo, ocasião na qual Uruguai e Brasil disseram que o acordo deve ser firmado até o final deste ano.
Tradução e edição: Fernando Damasceno