O paraquedas Moro

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Foto:Lula Marques

Lançado ao estrelato das ruas e TVs durante as manifestações que culminaram com o fabricado impeachment da ex-presidente Dilma Roussef — a partir das operações seletivamente autorizadas pelo Juízo da 13a Vara Criminal da Justiça Federal, Secção Curitiba — Sérgio Fernando Moro é hoje um “cidadão comum”, despido das prerrogativas que lhe conferiam os cargos de juiz e ministro de Estado da Justiça, nos últimos 23 anos e meio.

Nessa nova condição, assumiu, desde a última sexta-feira, 24 de abril, a inusitada — mas não menos calculada — condição de paraquedas político-ideológico de considerável fração das classes média e alta da sociedade brasileira.

Refiro-me a determinados extratos da sociedade civil tupiniquim, que, sob o mantra de um discurso eivado de falso moralismo, de inspiração notoriamente neofascista e, sobretudo, socialmente hipócrita e dissimulado — pois jamais se importaram com as desastrosas raízes coloniais desenhadas no tecido social brasileiro –, que veem e cultuam no ex-juiz a possibilidade de o Brasil, numa hora qualquer, amanhecer feito um arremedo de território dividido em condados, com placas Stop nas esquinas e alhures, em que pudessem postular a antecipação do 07 de setembro para um 04 de julho. 

Mas a anomia causada pelo rompimento de Moro com o caótico desgoverno Bolsonaro, adiou tais projetos. A bem da verdade, ofereceu rapidamente, nos dias mais recentes, a essa porção pretensamente mais instruída dos tais 57 milhões que votaram no atual governo, um conveniente paraquedas de salvação, para que pudessem saltar, de vez, fora do iminente desastre que vem se configurando a gestão federal, desde os primeiros instantes de sua “decolagem”.

Fato é que, estes, eleitores em Bolsonaro sob o pífio argumento de que “era melhor votar naquele que, mesmo com um trágico histórico sócio-político-ideológico, defendia, entre outras sandices e estultices, a ditadura militar, a tortura, o racismo e a misoginia, do que o anátema da reedição de um novo governo de esquerda”, ainda que este fosse representado no segundo turno eleitoral por um professor universitário, com exitosa passagem no Ministério da Educação e razoável mandato de prefeito da maior cidade do país.

“Frustrados e terrivelmente assustados” com os modos do presidente, a progressiva  interferência dos filhos numerados nos assuntos de governo — e de estado — e a pavorosa proximidade das violentas milícias cariocas ao Palácio do Planalto, e sobretudo somando-se à  incapacidade do Posto Ipiranga de entregar os prometidos poços de prosperidade e avanço econômico, agarram-se agora ao marreco jurista de Maringá como forma de purgar o infeliz embarque na aventura bolsonarista

E, ao mesmo tempo, já lançá-lo ao processo eleitoral de 2022, para liderar a candidatura protofacista, desta feita com o nome do “paraquedas Moro” a liderar a chapa, de modo a esquecer que um dia votaram no caótico e tresloucado Jair “Messias” Bolsonaro.

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