Novo chefe da PF mudará comando do Rio, área de interesse de Bolsonaro
O novo diretor-geral, Rolando Alexandre de Souza, ofereceu promoção ao atual superintendente da PF, o que foi visto na corporação como estratégia para trocar o comando no estado. Operação Furna da Onça, no RJ, trouxe problemas para Flávio Bolsonaro.
Publicado 04/05/2020 17:44
O novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, empossado nesta segunda-feira (4), trocou o comando da superintendência da corporação no Rio de Janeiro, área de interesse do presidente Jair Bolsonaro e seus filhos.
O atual superintendente do Rio, Carlos Henrique Oliveira foi convidado por Rolando Alexandre de Souza para assumir a direção-executiva da Polícia Federal, o que o coloca como número dois do novo diretor. A promoção foi vista por delegados como uma forma “estratégica” de trocar o comando da Polícia Federal fluminense. A mudança não foi oficializada, mas é dada como certa nos bastidores da PF.
Oliveira poderá ser ouvido pela Polícia Federal no inquérito que apura desvio de finalidade e tentativa de ‘interferência política’ de Bolsonaro na corporação. Nesta segunda, o procurador-geral da República Augusto Aras pediu ao Supremo que autorizasse o depoimento do novo diretor-executivo.
Em agosto do ano passado, Oliveira teve envolvimento com crise deflagrada entre o presidente e o ex-ministro Sérgio Moro pela troca de comando na PF. Além dele, deverão ser ouvidos no caso o ex-diretor-geral da PF, Maurício Valeixo e o superintendente no Amazonas, Alexandre Saraiva, nome que havia sido indicado por Bolsonaro para o comando da corporação no Rio.
Ao anunciar demissão do governo Bolsonaro, o ex-ministro Sérgio Moro afirmou que Bolsonaro havia expressado não apenas o desejo de trocar a chefia da PF, como o de superintendentes, como o do Rio de Janeiro.
“O problema é que nas conversas com o presidente e isso ele me disse expressamente, que o problema não é só a troca do diretor-geral. Haveria intenção de trocar superintendentes, novamente o do Rio, outros provavelmente viriam em seguida, como o de Pernambuco, sem que fosse me apresentado uma razão para realizar esses tipos de substituições que fossem aceitáveis”, disse Moro, ao pedir demissão do governo.
A Polícia Federal do Rio foi responsável por atuar na operação Furna da Onça, que levou à prisão diversos deputados estaduais do Rio de Janeiro. A operação mirou, entre outros fatos, as ‘rachadinhas’ de servidores e deputados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
A operação não mirou Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), senador e filho do presidente investigado pela prática, mas levou à produção de relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que detectou a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz.
Bolsonaro tentou trocar o comando da PF no Rio em agosto do ano passado. À época, o presidente disse que “ficou sabendo” que o então superintendente Ricardo Saadi seria substituído pelo delegado Alexandre Silva Saraiva, chefe da PF em Manaus. Saraiva é próximo dos filhos do presidente.
O presidente também afirmou que a troca seria motivada por ‘questões de produtividade’, surpreendendo a cúpula da PF, que contradisse o presidente ao afirmar que a substituição de Saadi “já estava planejada”, “não tinha qualquer relação com desempenho” e que o nome que assumiria o comando seria o delegado Carlos Henrique Oliveira.
Em resposta, Bolsonaro ameaçou manter a indicação de Saraiva, dizendo que “dá liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu” e provocando crise com o então ministro Sérgio Moro e o diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo.
Com informações de O Globo e Estadão