Deputados reprovam congelamento de salários no PL de ajuda aos estados

Bancada do PCdoB vota contra congelamento dos salários do funcionalismo como contrapartida do auxílio da União para enfrentamento da pandemia de Covid-19

Líder do PCdoB, Perpétua Almeida, encaminha votação (Foto Maryanna Oliveira/Agência Câmara)

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta terça-feira (5), o Projeto de Lei Complementar (PLP) 39/20, do Senado, que prevê a concessão de auxílio financeiro de R$ 125 bilhões aos entes federados, durante a pandemia do novo coronavírus. O texto substitui proposta aprovada anteriormente pela Câmara (PLP 149/19) e muda a forma de distribuição dos recursos.

Devido às alterações feitas pelos deputados, o texto terá de retornar para análise dos senadores.

Os deputados aprovaram mudanças que ampliaram o rol de categorias que ficarão fora do congelamento de salários de servidores civis e militares previsto como contrapartida ao socorro financeiro.

A líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), observou que o projeto votado pelos deputados era melhor do que o texto do Senado, “mas nós sabemos que muito maior é a dor de milhões de brasileiros” que sofrem com os efeitos da pandemia. “Os governadores e prefeitos precisam da nossa pressa”, disse.

Os deputados da Bancada do PCdoB, junto com parlamentares de outros partidos, condenaram o congelamento dos salários de servidores dos entes federados. Essa contrapartida foi uma imposição feita aos senadores pela equipe econômica para que o governo Bolsonaro sancione a ajuda a estados e municípios.

Perpétua Almeida advertiu que, além do congelamento dos salários de servidores públicos até o fim de 2021, a proposta impede a criação de despesas correntes, como de custeio em atividades essenciais como saúde e segurança pública. “É possível congelar assistência, saúde, segurança pública, educação e os recursos de pesquisa e da ciência até 2021? Deixar os governadores e prefeitos amarrados não está correto”, criticou.

“Não podemos congelar os recursos da saúde, da educação, da assistência social e da segurança. Nós precisamos de mais ou de menos enfermeiros? Mais ou menos professores? Mais ou menos policiais? Mais ou menos trabalho da assistência social? Essa pandemia tem repercussões de longo prazo. E esse congelamento é absolutamente criminoso”, denunciou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), o texto aprovado no Senado provocou “um desequilíbrio em relação a destinação de recursos entre estados e, lamentavelmente, deturpou o projeto votado pelos deputados”. Ela acrescentou que a exigência de uma contrapartida para que os entes federados possam receber os recursos essenciais ao combate do coronavírus, prevista no Artigo 8° do PLP 39/20, “é uma profunda injustiça” com o servidor público.

Segundo a parlamentar, a proposta dificulta atividades como saúde, segurança porque congela, além das remunerações, esses investimentos. “É uma nova PEC 95, que implementou o teto de gastos”, apontou.

O deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE) também defendeu a supressão do Artigo 8°, trecho destacado para votação em separado, apontado que não significava a concessão de aumento salarial. “Estamos simplesmente defendendo que é equivocado proibi-los, de maneira antecipada, por um ano e meio”, explicou.

Ele argumentou que o Congresso Nacional não deveria puxar para si um debate que compete a prefeitos e governadores. “Não creio que vá existir ambiente para grandes debates de reajuste de salários de servidores públicos, mas não devemos antecipar essa discussão e puxar toda essa responsabilidade para a Câmara e o Senado. Trata-se de um capricho do ministro Paulo Guedes. Isso é mais um deboche com os servidores públicos”, frisou.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a defender a aprovação da proposta como veio do Senado com apenas duas emendas de redação, para que o projeto não precisasse passar por nova votação pelos senadores.

“Não é porque existem conflitos e divergências que vamos mudar o objetivo principal de atender estados e municípios”, afirmou. Maia considerou que os dois textos mantiveram as ideias principais de ajuda a estados e municípios e do valor a ser transferido nos primeiros quatro meses.

Emenda de plenário

Porém, o texto-base apresentado pelo relator do PLP 39/20, Pedro Paulo (DEM-RJ), foi aprovado com uma emenda de plenário, que ampliou as categorias que ficarão fora do congelamento de salários previsto como contrapartida ao socorro da União aos entes federados. O trecho resume alterações de redação feitas inicialmente pelo deputado em uma tentativa fracassada de evitar que o texto retorne para análise do Senado.

Ficarão de fora dessas regras as categorias de servidores civis e militares envolvidos diretamente no combate à Covid-19. Além dos profissionais da saúde, a emenda cita, entre outros, policiais legislativos, técnicos e peritos criminais, agentes socioeducativos, trabalhadores na limpeza urbana e os que atuam na assistência social.

A emenda de redação apresentada inicialmente por Pedro Paulo previa que apenas profissionais e funcionários civis e militares envolvidos diretamente em atividades de combate ao coronavírus estariam a salvo das restrições impostas como contrapartida.

Destaques

O Artigo 8° foi mantido no texto. No entanto, os deputados retiraram ainda destas restrições, por meio de destaques específicos, os servidores da educação pública, tralhadores da área de segurança e defesa agropecuária.

Também foi aprovado destaque que muda um dos critérios para distribuição de recursos da União para ajuda aos estados. Em vez de considerar a taxa de incidência de infectados, o trecho determina o uso do total de casos registrados, favorecendo estados como São Paulo e Rio de Janeiro deverão receber mais recursos do que o previsto pelos senadores.

A deputada Professora Marcivania (PCdoB-AP) criticou a mudança. “Acho que tem de ter sensibilidade com os menores. Se fosse atentar só o tamanho da população de infectados, seríamos aí sim injustos, porque os estados com população maior normalmente têm infraestrutura melhor também”, disse.

PCdoB na Câmara

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *