Bolsonaro virou o grande problema para vizinhos da América do Sul

A busca por um cordão sanitário contra o coronavírus levou os países a adotarem novas medidas de proteção, ampliando o isolamento político, econômico, e diplomático do Brasil

O presidente da Argentina, Alberto Fernández - Foto: Reprodução/Facebook.

A omissão criminosa de Jair Bolsonaro em relação ao Covid-19 passou a ser vista como um problema de saúde pública não apenas para o Brasil mas, sobretudo, para toda a América do Sul.

As 600 mortes diárias por coronavírus – que parecem ter virado o novo normal da pandemia no país –, está levando os presidentes dos países vizinhos a condenarem reiteradamente o comportamento do chefe de Estado brasileiro.

Na quarta-feira (6), o presidente da Argentina, Alberto Fernández, apontou a negligência do governo brasileiro no combate ao Covid-19. “Já falei com Piñera (presidente do Chile) e com Lacalle (presidente do Uruguai). É claro que o Brasil representa um risco”, criticou, em entrevista a uma rádio argentina.

O Brasil ultrapassou, nesta quinta-feira (7), a marca dos 130 mil infectados e superou os 9 mil mortos. A busca por um cordão sanitário levou os países vizinhos a adotarem novas medidas de proteção, ampliando o isolamento político, econômico, diplomático e agora sanitário.

Segundo dados oficiais, a Argentina tem um dos mais baixos índices de casos e de mortes por Covid-19 no mundo. São cerca de 5 mil casos confirmados da doença, 1.459 pessoas curadas e 264 mortes no país. Um contraste com o Brasil, que caminha rapidamente para ser o próximo epicentro mundial da pandemia.

Na entrevista à Rádio Con Vos, de Buenos Aires, Fernández disse a preocupação do governo argentino passa pelo desleixo com o qual o Brasil trata a pandemia.

“Eu não entendo como (o Brasil) age com tanta irresponsabilidade”, lamentou. “O Brasil faz fronteira com toda a América do Sul, menos com Chile e Equador. Na Argentina, entram muitos caminhões brasileiros que vêm de São Paulo, que é o lugar mais infectado do Brasil”.

Brasil e Argentina têm estratégias diametralmente opostas no enfrentamento da pandemia. Enquanto Alberto Fernández, desde o início da crise, passou a defender medidas rigorosas de isolamento social, abrindo os combalidos cofres públicos para garantir renda mínima aos mais atingidos, Bolsonaro desprezou medidas de isolamento, defendendo que as pessoas circulem nas ruas, alegadamente para reativar a economia, demorou a garantir um pacote de ajuda aos mais pobres, mas passou a participar pessoalmente de atos e aglomerações nas ruas de Brasília.

“Temo que, com esta lógica, o Brasil entre no mesmo espiral de contágios em que entraram Espanha, Itália e EUA, que declararam a quarentena quando já era tarde”, declarou Fernández.

O presidente argentino disse que se preocupa que a pobreza aumente em seu país, mas o mais importante hoje é manter as pessoas vivas.

Para ele, a morte de milhares argentinos foi evitada porque seu governo foi responsável. “Outros (que deram prioridade à atividade econômica) acabaram juntando mortos em caminhões frigoríficos e enterrando (os corpos) em valas comuns”, disse, numa clara referência ao líder da extrema-direita brasileira.

Alerta nas fronteiras

A preocupação do presidente argentinos é compartilhada por colegas vizinhos.

Na terça-feira, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, mandou reforçar os controles sanitários na fronteira com o Brasil.

O secretário da Presidência do Uruguai, Álvaro Delgado, disse que via com “preocupação” a disseminação de casos do lado brasileiro.

“O governo do Uruguai está preocupado com a situação em algumas cidades do lado brasileiro”, disse Delgado, após reunião de emergência para tratar do assunto.

Outro vizinho brasileiro, o Paraguai, passou a adotar medidas de contenção na fronteira, com medo da ampliação do contágio.

Na segunda-feira, o presidente Mario Abdo Benítez esteve em Ciudad del Leste para supervisionar, pessoalmente, a fronteira.

De acordo com dados do governo, 85% dos 2.810 paraguaios que voltaram ao país após o início da pandemia vieram do Brasil e foram responsáveis pela maior parte da disseminação do Covid-19. Em Pedro Juan Caballero, o Exército colocou arame farpado e cavou valas em alguns trechos da fronteira com o Mato Grosso do Sul.

O Itamaraty, cujo exercício do ‘soft power’ nos tempos de Celso Amorim garantia bom trânsito nas relações com todos os países da América do Sul e Caribe, agora é um pária diplomático.

O chanceler Ernesto Araújo não só é ignorado como passou ser uma extensão da vergonhosa face do governo Bolsonaro.

Em abril, o ministro das Relações Exteriores foi alvo de chacotas e preocupação entre os diplomatas ao publicar um artigo vergonhoso sobre o “comunavírus”, afirmando que os comunistas pretendem implementar sua ideologia por meio de órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O ministro questionou a eficácia da ONU e disse que os comunistas pretendem utilizar a OMS como o primeiro passo na construção de uma “dominação planetária”.

No ano passado, a estupidez do embaixador já havia sido alvo de críticas, quando ele publicou textos e deu declarações dizendo que acredita no aquecimento global e apontou o nazismo e o fascismo como “movimentos de esquerda”.

As platitudes de Araújo provocaram comentários jocosos na mídia internacional. Em Brasília, diplomatas não escondem o desconforto com os absurdos e despautérios de Ernesto Araújo.

PT Notícias com agências

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