Após repercussão negativa, Bolsonaro recua de “churrasco da morte”

O encontro contrariaria as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde. Também aconteceria no dia em que o Brasil deve chegar a 10 mil mortes pela Covid-19.

Bosonaro fala à imprensa

Na véspera do churrasco anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro para este sábado (9), no Palácio da Alvorada, convidados foram avisados do cancelamento do evento, após a repercussão negativa da iniciativa em meio à pandemia do novo coronavírus. Até a noite desta sexta, o plano era que os participantes chegassem à residência oficial do presidente no início da manhã, às 7h30m, para jogar futebol no campo que fica nos fundos do palácio.

O encontro contrariaria as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde. Também aconteceria no dia em que o Brasil deve chegar a 10 mil mortes pela Covid-19. Bolsonaro contou na quinta-feira, quando anunciou o churrasco, que o evento deveria contar com 30 convidados, dentre eles ministros e servidores.

Os participantes teriam que aderir a uma “vaquinha” de R$ 70 para ajudar a custear o encontro. O valor foi confirmado à reportagem por um dos convidados.

Diante das críticas à iniciativa – que foi apelidada de “churrasco da morte” nas redes sociais -, aliados próximos do presidente passaram a atuar nos bastidores para colocar em xeque a existência do evento, que teria sido uma “provocação” de Bolsonaro. Na manhã deste sábado, a reportagem viu o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, entrar no Alvorada em sua moto e sair cerca de 50 minutos depois.

Pouco depois das 11h deste sábado, Bolsonaro publicou um trecho do vídeo no Facebook e escreveu que o churrasco que ele mesmo anunciou publicamente é “fake” (falso) e criticou a o Movimento Brasil Livre (MBL) por ter ingressado com uma ação na Justiça para tentar impedir a realização do evento. “Alguns jornalistas idiotas criticaram o churrasco FAKE, mas o MBL se superou, entrou com AÇÃO NA JUSTIÇA”, escreveu.

Quando anunciou “o churrasco no sábado aqui em casa”, Bolsonaro disse que convidou um de seus ministros, que ficou viúvo nesta semana. Com semblante sério, ele comentou então que o auxiliar traria o filho, mas que o garoto não deveria olhar para Laura, sua filha de 9 anos, para o “bicho não pegar”.

– E vamo bater um papo aqui, quem sabe bater uma peladinha, alguns ministros, alguns servidores mais humildes que estão do meu lado, tá ok? – comentou o presidente, dizendo que se coloca no lugar do ministro, que “com toda a certeza” tem nele um amigo “para esse momento também difícil”.

Na chegada ao Alvorada no fim da tarde de sexta, o presidente ironizou a decisão de fazer um churrasco no local e evitou responder questionamentos se o evento não representaria um mau exemplo em função da necessidade de isolamento social. Em tom de chiste, declarou que 1.300 pessoas já estavam confirmadas para o encontro.

– Churrasco, eu só estou convidando a imprensa. Já tem 180 convidados- afirmou Bolsonaro a apoiadores, iniciando uma escalada de ironias sobre o número de confirmados para o evento:

– 210 convidados já tem. Tem 210 chefes de família, deve dar 500 pessoas no churrasco amanhã.

Pouco depois, deu sequência às ironias e afirmou que o número de confirmados tinha acabado de subir.

– Tá todo mundo convidado aqui. 800 pessoas no churrasco. Tem mais um pessoal de Águas Lindas, serão 900 pessoas confirmadas- disse o presidente, simulando conversas com assessores sobre novos confirmados, e prosseguindo:

– Tem mais um pessoal de Taguatinga. 1.100. Vai estar todo mundo aqui amanhã? 1.300 pessoas no churrasco.

Na sequência, ele publicou um vídeo com as cenas no seu canal oficial do YouTube intitulado “Churrasco: assista e tire suas conclusões!”.

Fonte: Extra