Economistas debatem indiferença de Bolsonaro e Guedes à pandemia

O ciclo de debates “Diálogos, Vida e Democracia” é realizado pelo Observatório da Democracia, fórum que reúne as fundações de partidos políticos.

O Observatório da Democracia reuniu economistas para debater “A pandemia e saídas para a economia”.

O Observatório da Democracia, reuniu, na sexta-feira (8), o professor titular da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo, o ex-Diretor no Brasil do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ricardo Carneiro, e o professor e o diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica do Instituto de Economia da Unicamp Guilherme Mello, para debater “A pandemia e saídas para a economia”. 

O evento foi coordenado pelo jornalista Osvaldo Maneschy, da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, e foi a segunda webconferência do ciclo de debates “Diálogos, Vida e Democracia”, promovido por fundações partidárias.

Osvaldo Maneschy iniciou a discussão afirmando que Bolsonaro continua agindo como se a Covid-19 fosse só uma “gripezinha”.

“Bolsonaro esteve no dia 7 de maio no STF para pressionar o fim do isolamento social, que é recomendado pela OMS, isolamento que só existe no Brasil pela atitude tomada por estados e municípios. O atual governo também não está entendendo a questão da economia, enquanto o general Braga fala na criação de milhões de empregos para se sair desta crise econômica, Paulo Guedes insiste nas privatizações e no Estado mínimo, defendido lá pela escola de Chicago”, afirmou.

“A morte de milhares de brasileiros parece que não está afetando Bolsonaro e muito menos Guedes. Bolsonaro disse que é preciso salvar os CNPJs porque a economia é vida, e que a economia está no CTI (Centro de Terapia Intensiva). Já Guedes, por sua vez, disse que a economia está entrando em colapso”, disse Maneschy sobre as declarações feitas na saída do Supremo Tribunal Federal. Citando o presidente Getúlio Vargas, ele afirmou que a saída não se dará pela política do estado mínimo, mas por políticas estruturadas pelo Estado.

“Aqui no Brasil nós tivemos no comando do País um estadista da estatura de Getúlio Vargas, hoje nós temos Jair Bolsonaro. Vargas considerava a maior responsabilidade de qualquer governo a promoção da justiça social, mas alertou que não pode haver justiça social sem desenvolvimento econômico. Na mesma frase concluiu que, não existe desenvolvimento econômico sem soberania nacional. Enquanto Vargas acreditou no Estado como grande indutor do desenvolvimento nacional, da justiça e soberania, Bolsonaro delega a Paulo Guedes, aluno da escola de Chicago, colaborador da ditadura de Pinochet e do Estado mínimo, o destino da economia brasileira e de todos nós, milhões de brasileiros”, declarou Maneschy.

Belluzzo: economia do obscurantismo

Luiz Gonzaga Belluzzo afirmou que “a economia cultivada por Paulo Guedes e os demais integrantes do governo é a economia do obscurantismo. O choque foi tão grande que até mesmo alguns que defendiam essa ideia agora estão achando necessário fazer alguma coisa”.

Segundo Belluzzo, como o dinheiro não está circulando, a roda da economia não gira e a crise se agrava. “É a moeda que mobiliza o circuito da renda e do emprego”, disse o economista, referindo-se à capacidade que o Estado tem de emissão, e que esta medida traria “benefícios sociais aos que não são capazes de se reintegrar ao circuito monetário pelo agravamento da crise”.

“E qual é a ação necessária: impedir um colapso total dos circuitos de renda. O governo está demorando muito para fazer isso, a demora é impressionante”, criticou o economista.

Os governos dos Estados Unidos, Japão, Canadá e Reino Unido já imprimiram mais dinheiro para defender suas economias e para amparar a população sem renda e as empresas sem capital.

Belluzo alertou que “as pessoas não conseguem receber. Uma incompetência total dos instrumentos do Estado. As empresas que buscam financiamento para a folha, não conseguiram acessar nem 1% do crédito. Se você vai esperar que os bancos privados emprestem, não vai ser feito. Então é claro que isto não vai ser feito pelos bancos privados”.

O economista destacou que o governo Bolsonaro “não está conseguindo governar e muito menos coordenar medidas que tenham a ver com a fragilidade atual e a saída desta fragilidade”. O professor defendeu que neste momento é preciso ter capacidade de planejamento, que para o economista, o governo Bolsonaro não tem.

“São analfabetos macroeconômicos. Eles ficam segurando as coisas quando eles tinham que na verdade coordenar. O Brasil está entregue neste momento a um governo inepto, incapaz, que não é capaz de coordenar o Brasil”, criticou o economista.

Belluzzo afirmou que para superar a profunda crise econômica que está por vir, será preciso que o governo eleve o gasto público e que estes recursos sejam dirigidos para a reindustrialização do país. “Nós permitimos uma desindustrialização selvagem”, afirmou. “O dólar lá em cima favoreceria, se tivessem medidas auxiliares, estimularia as exportações brasileiras, defenderia a indústria local”.

Ricardo Carneiro: solução para crise passa pelo Estado

Ricardo Carneiro alertou que, pela forma como o governo Bolsonaro está agindo, “nós aqui no Brasil vamos pagar um preço mais alto do que seria razoável, do que seria necessário pagar. Primeiro, pela própria forma como está lidando com a pandemia, do ponto de vista humano e sanitário. Segundo, do ponto de vista econômico e social, nós também vamos pagar um preço mais alto do que nós deveríamos pagar”. O economista lembrou que há um conjunto de ações que foram adotadas pelo governo que não são incorretas, mas que são “claramente insuficientes”.

Carneiro defendeu que sejam ampliados e estendidos os programas de recomposição de renda mínima para os trabalhadores, formais e informais, além disto, que o valor de ajuda a estados e municípios também seja elevado, e que o Estado opere obras de infraestrutura, através da ampliação do investimento público.

“O fato é que às pessoas estão perdendo renda, que as empresas estão perdendo faturamento, fluxo de caixa”, declarou. “Então, são dois problemas, um problema, que é imediato, é a renda. O outro, é que se essas pessoas e empresas quebrarem, isto irá se prolongar por muito tempo à frente. Qual é a solução disto? O único ente econômico capaz de dar solução a isto, porque tem capacidade de emitir moeda e porque tem ainda alguma credibilidade na emissão de títulos, é o Estado. Ou você faz com que o Estado recomponha o fluxo de renda dos trabalhadores e de certa forma assuma parte destes passivos que a sociedade e as empresas têm, ou não terá solução minimamente decente na crise”, enfatizou Ricardo Carneiro.

Guilherme Mello: tabus fiscais não fazem mais sentido

Guilherme Mello lembrou que a economia brasileira já estava em um ritmo ruim antes da pandemia, e destacou que o governo demorou muito para reagir ao coronavírus, mostrando “um descolamento da realidade”.

“Isso vinha desde antes, visto o discurso do governo de que havia uma decolagem da economia – o que não é verdade. No ano passado tivemos um pibinho menor que durante o governo Temer”.

“O que está em voga é uma fé no liberalismo rastaquera, representado por Guedes. Esses tabus fiscais não fazem mais sentido”, disse Mello, enfatizando que apenas o Estado pode liderar o controle e a saída da crise, ao contrário do que prega o Ministério da Economia.

De acordo com Mello, as 17 milhões de pessoas que ainda aguardam na fila do auxílio emergencial demonstram a demora e a má vontade do governo em tomar à frente o combate à crise.

“Mas bem ou mal, com a pressão de deputados e senadores, o auxílio foi aprovado. O que me preocupa profundamente é esse grupo de empresários, pequenos e micro empresários, que estão completamente desabrigados. Não há nenhum tipo de programa de crédito, seja para o capital de giro ou pagamento da folha para esses empresários. Quem vai poder liderar isso é o setor público via os seus instrumentos: política macroeconômica, política fiscal e monetária. E as empresas públicas e bancos públicos”, defendeu.

O ciclo de debates “Diálogos, Vida e Democracia” é realizado pelo Observatório da Democracia, fórum que reúne as fundações de partidos políticos. Além da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, participam as fundações Astrojildo Pereira (Cidadania23), Maurício Grabois (PCdoB), João Mangabeira (PSB), Lauro Campos e Marielle Franco (PSOL), Ordem Social (PROS) e Perseu Abramo (PT). A Fundação Cláudio Campos também participa do Observatório.

Fonte: Hora do Povo