Advocacia-Geral confirma que Bolsonaro ameaçou interferir na PF

Em documento enviado ao STF sobre sigilo do vídeo da reunião ministerial do dia 22 a AGU transcreve trechos da fala do presidente.

(Foto: Marcos Corrêa/PR)

A manifestação da Advocacia-Geral da União entregue nesta quinta-feira (14) ao Supremo Tribunal Federal mostra que o presidente Jair Bolsonaro reclamou da falta de informações da Polícia Federal, durante reunião ministerial, e afirmou que iria “interferir”. A AGU concorda com a retirada do sigilo do vídeo da reunião ministerial, mas somente dos trechos em que Bolsonaro se manifesta. O documento mostra ainda que Bolsonaro afirmou que não iria esperar “foder.” alguém da família ou amigo dele para trocar a “segurança” no Rio.

Em um dos trechos, Bolsonaro reclama que não recebe informações dos órgãos oficias e é surpreendido por notícias divulgadas pela imprensa. Apesar de ter dito, na quarta-feira (12), que não havia citado a Polícia Federal, é justamente este um dos trechos em que menciona a polícia judiciária da União. “Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações; a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação.”

Demonstrando o quanto mistura questões familiares com assuntos de governo, Bolsonaro compara, em outro trecho, a necessidade que ele tem de informações com a de um pai que tenta evitar que a filha engravide precocemente.  “Quem é que nunca ficou atrás da… da… da.. porta ouvindo o que o seu filho ou sua filha tá comentando? Tem que ver pra depois… depois que ela engravida não adianta falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era. E informação é assim. Então essa é a preocupação que temos que ter: a “questão estratégia”. E não estamos tendo.”

Ao criticar o serviço de informações do governo, o presidente afirma: “E me desculpe o serviço de informação nosso – todos – é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá pra trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade (…)”

O presidente Jair Bolsonaro faz uma menção à “segurança no Rio de Janeiro”, base eleitoral de sua família e onde seus dois filhos que exercem atuação parlamentar são alvos de denúncias. Bolsonaro deixa que pretende proteger seus familiares e amigos. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe. Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira (…)”

Decisão sobre o sigilo

Nesta sexta-feira (15), o Ministro do STF, Celso de Mello, que preside o inquérito que apura as denúncias feitas pelo ex-ministro Sergio Moro contra Jair Bolsonaro, deverá decidir sobre o sigilo do vídeo. O decano do Supremo poderá liberar a íntegra dos diálogos da reunião, atender a AGU e liberar apenas as falas do presidente ou manter em segredo o que foi afirmado, sendo esta a hipótese menos provável.

Com informações do G1

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