Por que novo rodízio de veículos é jabuticaba ineficaz

Ex-secretário Municipal de Transportes da capital paulista considera que o prefeito Bruno Covas (PSDB) se junta a Bolsonaro na tarefa de colocar a população em risco de covid-19 com rodízio de carros

Movimento na Estação da Luz, em São Paulo, durante o rodízio de carros para aumentar o isolamento social

O novo rodízio de veículos em São Paulo, em que metade dos carros pode circular em dias pares e a outra metade em dias ímpares, “é inerte, ineficaz e irresponsável”, na avaliação do ex-secretário Municipal de Transportes da capital paulista Jilmar Tatto. Ele comentou as medidas do governo do prefeito Bruno Covas em entrevista à Rádio Brasil Atual.

“É uma medida insana, porque é a quarentena do carro. No momento que você precisa proteger as pessoas em função do coronavírus, você está protegendo o carro. Você deixa o carro em casa e pede para as pessoas saírem e pegarem o transporte público. Com um agravante: reduz a frota de ônibus. E é uma medida sem nenhum planejamento, porque não foi combinado com o secretário de Transportes Metropolitanos”, afirmou.

O próprio prefeito já reconheceu que medidas mais restritivas de circulação – como o lockdown – vão precisar ser articuladas na região metropolitana e não apenas na capital. Mas manteve o rodízio por ora. Desde o dia 11, o rodízio passou a ser pelo final da placa par ou ímpar, com 24 horas de duração e válido em toda a cidade – não só no centro expandido.

A Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos informou que registrou aumento de 12% a 15% no número de passageiros que utilizam os trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e o Metrô, nesta segunda-feira. As estações Sé e Brás, da Linha 3-Vermelha, registraram aglomerações na saída de passageiros. Nos ônibus a situação foi semelhante.

“Do ponto de vista político ele é um trapalhão. Eu fui secretário de Transportes por seis anos na cidade de São Paulo, fui o secretário que mais tempo ficou nessa pasta, e eu nunca vi coisa igual”, criticou Tatto. “E olha que eu tenho estudado isso no mundo todo. Isso que foi implantado não existe em lugar nenhum do mundo. Uma verdadeira jabuticaba que só existe no Brasil, na cidade de São Paulo”, comparou.

Antes do novo rodízio, Covas promoveu bloqueios nas principais avenidas da cidade, mas sem um plano para garantir a circulação de profissionais de saúde, segurança e outros que atuam em serviços essenciais.

“Quando chegou o coronavírus eles pediram para o povo ficar em casa, a população ficou em casa, e ele reduziu 50% a frota de ônibus. Que que adianta? Era para manter a frota 100%. Com a população 50% em casa, você tinha os espaçamentos entre uma pessoa e outra, uma segurança maior. É um crime que está se cometendo. Você está espalhando o vírus, causando a aglomeração das pessoas”, disse o ex-secretário.

Conselhos para evitar o pior

Assim como Tatto, 17 membros do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito (CMTT) da capital paulista também consideram o rodízio inútil para o objetivo de promover o isolamento social. “Entendemos que iniciar a restrição pelos meios de transportes é um erro, pois as pessoas que precisam, seja por trabalharem em funções essenciais, ou por outros motivos como saúde e compras, se deslocar continuarão a tentar se deslocar, mas se colocando em mais riscos e em situação de pior atendimento”, defendem.

Para os membros do CMTT, o correto seria que o governo Covas agisse para garantir a redução do maior número de atividades econômicas e sociais, de forma que a população só saia em caso de necessidades inadiáveis. Além disso, o grupo aponta que o novo rodízio em São Paulo oferece ainda mais risco à população, pois as pessoas que não puderem utilizar o carro vão migrar para o transporte coletivo, que também teve a oferta reduzida, levando a graves aglomerações nos ônibus, nos trens e no Metrô.

Para os conselheiros, apenas os trabalhadores de atividades essenciais devem ter liberdade para circular. “Uma restrição clara e organizada sobre as viagens não essenciais se tornaria inclusive mais fácil de ser comunicada aos cidadãos, e mais direta ao passar a mensagem necessária de isolamento social neste grave período que vivemos. Além disso, tornaria mais fácil e clara adequar à restrição ampla e a permissão das atividades essenciais com destaque aos profissionais de saúde que trabalham com horários variáveis e os serviços de entregas e transporte de pessoas que também envolvem trabalhadores vulneráveis.”

O restante da população só teria autorização para sair em casos de efetiva necessidade, como compra de mantimentos, consultas médicas, exames e emergências. Os conselheiros encaminharam as recomendações ao prefeito, ao governador paulista, João Doria (PSDB), ao secretário Municipal de Mobilidade e Transportes, Edson Caran, e ao secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy.

Publicado em Rede Brasil Atual

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