Interiorização: 8 milhões estão a 4 horas de distância de hospitais

Amazonas, Pará e Mato Grosso são os estados com pior situação, exigindo que a população faça grandes deslocamentos

Médico cubano no sertão nordestino - Araquém Alcantara/Blog do Planalto

Mais de 7,8 milhões de brasileiros estão a mais de quatro horas de distância de um atendimento de saúde adequado para casos graves de covid-19. Os dados são de levantamento do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz).

Segundo o estudo, Amazonas (1,3 milhão de habitantes), Pará (2,3 milhões) e Mato Grosso (888 mil) são os estados com pior situação, exigindo que, pelo menos 20% da população, faça grandes deslocamentos para ter atendimento em cidades que tenham Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), equipamentos e pessoal especializado para doenças respiratórias graves e agudas, por exemplo.

Outras regiões em que a população necessita fazer longos deslocamentos para ter atendimento para casos graves são o interior do Nordeste, o norte de Minas Gerais e o sul do Piauí e do Maranhão. A análise da equipe do Icict/Fiocruz cruzou as informações de hospitalização por problemas respiratórios (entre os quais a covid-19) do banco de dados do Ministério da Saúde, com os deslocamentos e as distâncias potencialmente percorridas pela população, para chegar a Regiões de Influência das Cidades (IBGE, 2018) e as Regiões de Saúde (CIR) definidas pelas Secretarias Estaduais de Saúde.

Os pesquisadores constataram também que a pandemia está se alastrando com rapidez pelo interior. Em apenas uma semana (de 9 a 16 de maio), seis cidades médias (entre 20 mil e 50 mil habitantes) registravam pela primeira vez uma vítima de covid-19 por dia. Entre municípios menores, cinco cidades registraram óbitos pela covid-19 por dia, na mesma semana. Até 16 de maio, 60% dos municípios brasileiros registravam casos da doença e 21%, mortes. Nos municípios com população acima de 50 mil habitantes, 98% apresentavam casos e 58% tinham registro de mortos.

Na mesma semana, em média, nos municípios com menos de 50 mil habitantes, a cada dia 15 cidades apresentavam pela primeira vez casos de Covid-19 por dia. O primeiro caso de infecção por Covid-19 foi registrado em 227 municípios com população menor que 10 mil habitantes; em 197 com entre 10 e 20 mil habitantes; e em 112 com entre 20 e 50 mil habitantes. Até 16 de maio, 60% dos municípios brasileiros registravam casos da doença e 21%, óbitos. Nos municípios com população acima de 50 mil habitantes, 98% apresentavam casos e 58%, óbitos. 

A nota técnica destaca a importância da integração e do diálogo entre municípios, estados e União nas políticas de contenção da Covid-19 e mostra o desafio representado pela interiorização: “Um dos grandes problemas para a rede de saúde brasileira é a acessibilidade geográfica. O Brasil possui dimensões continentais e, por isso, algumas regiões mais remotas impõem à sua população o deslocamento de enormes distâncias para busca de atendimento. É evidente que nem todos os municípios do país devem ter um centro de tratamento intensivo, mas é necessário definir serviços de referência e contrarreferência no atendimento à saúde, evitando vazios de atendimento, bem como deslocamentos longos, que podem afetar o estado de saúde do indivíduo”, defende a equipe da Fiocruz.

A nota ainda conclui que a definição e utilização de regiões compostas por conjunto de municípios é o caminho para adoção de medidas de restrição ou relaxamento do isolamento social.

Publicada na nota técnica do sistema MonitoraCovid-19 intitulada Regiões e Redes Covid-19: Acesso aos serviços de saúde e fluxo de deslocamento de pacientes em busca de internação 

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