Bairros de SPaulo com mais mortes por covid-19 estão no centro ‘pobre’

Considerando o tamanho da população, morrem mais doentes no Centro do que na Brasilândia. O Centro concentra maioria de cortiços, pensões e ocupações da cidade, assim como quase toda a população de rua.

Pelo menos 80 mil paulistanos moram em cortiços - Foto de Marcelo Camargo/ABr

Dos dez distritos paulistanos com a maior taxa de mortalidade pela doença para 100 mil habitantes, oito são bairros centrais, que concentram a imensa maioria de cortiços (1.479 em toda a cidade), pensões e ocupações verticais da cidade. Dos 24 mil moradores em situação de rua, dois terços circulam pelo Centro. É preciso registrar a favela do Moinho, considerada a última do Centro, e a densa área de tráfico e consumo de drogas, conhecida como “Cracolândia”.

Pouco visibilizados na pandemia, os cortiços diferem das favelas por estarem em áreas urbanizadas e legalizadas, com infraestrutura melhor e residências de alvenaria. No entanto, se assemelham pela baixa renda dos moradores, que pagam aluguéis caros se comparado ao custo de morar na favela, pela densidade de ocupantes de cada cômodo, além de serem locais insalubres, com pouca iluminação e ventilação, o que os tornam tão vulneráveis ao contágio quanto as favelas.

A baixa renda implica nas dificuldades de alimentação, lazer domiciliar e higiene, que são demandas da quarentena. São pessoas que vivem de trabalhos informais na região centro e têm que escolher entre o álcool gel, a máscara, o sabonete e o sabão ou a alimentação. A situação em ocupações de prédios abandonados é tão precária quanto os cortiços e favelas, no entanto, costumam ter mais atenção do poder público, por serem organizadas e centralizadas em movimentos sociais.

Vista do pátio interno da Ocupação Mauá, uma das mais conhecidas de SP | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Moradores de rua contam com a benevolência do alto fluxo de transeuntes no centro e de sobras de restaurantes, entre outras possibilidades, como igrejas. Com a quarentena, esses recursos minguaram e, agora, dependem de ações sociais criadas durante a pandemia, além dos restaurantes e abrigos públicos.

Portanto, embora a região central conte com mais infraestrutura urbana, sanitária e de mobilidade, por exemplo, compartilha características das periferias mais pobres, como a baixa renda e o trabalho informal, assim como densidade e precariedade das moradias. Estes fatores têm sido vistos como agravantes para a letalidade da doença, devido à alimentação inadequada e o acesso à serviços de saúde dessa população, que leva a comorbidades como hipertensão, diabetes e problemas respiratórios.

Além desses, estão o Cambuci (7º), a Barra Funda (8º), a Moóca (10º), o Bom Retiro (12º), a Consolação (13º), a Sé (17º) e a Liberdade (19º). Com características semelhantes (cortiços, pensões, ocupações, população de rua e favelas), estes bairros também possuem altos índices de mortalidade. Todos registram taxas superiores a 80 mortes para 100 mil habitantes.

No Pari, já foi registrado o dobro da média da cidade de São Paulo (59 mortes para 100 mil habitantes) com 19 mortes por covid até o dia 20 de maio, o que dá ao bairro uma taxa de 118 mortos para 100 mil habitantes.

Para efeito de comparação, a taxa de homicídios em 2019 na cidade de São Paulo, segundo a Secretaria de Segurança Pública, é de menos de seis mortes por 100 mil habitantes. Ou seja, no Pari, a taxa de mortes por Covid é 20 vezes maior do que a taxa de assassinatos na capital.

Bairro Mortes/100 mil hab Número de mortes População total
Pari 117,6 19 16.144
Belém 113,0 41 36.283
Brás 105,3 28 26.587
Santa Cecília 102,0 65 63.689
República 95,7 41 42.802
Casa Verde 95,1 72 75.687
Cambuci 93,9 28 29.811
Barra Funda 92,4 12 12.977
Campo Belo 89,5 56 62.530
Mooca 88,7 56 63.133
Carrão 88,2 65 71.363
Bom Retiro 87,4 25 28.591
Consolação 86,6 39 44.991
Artur Alvim 85,8 90 104.864
Limão 84,4 68 80.571
Água Rasa 84,0 66 78.556
83,4 18 21.564
Tatuapé 83,4 63 75.481
Liberdade 82,9 48 57.860

Mapa da Secretaria Municipal de Saúde com as mortes em virtude da Covid-19, divididas por bairros da cidade de São Paulo até 20 de maio. — Foto: Divulgação/PMSP

Em São Paulo, a prefeitura divulga semanalmente a quantidade de mortos por distrito, e são bairros periféricos, como Brasilândia (Zona Norte) e Sapopemba (Zona Leste), que encabeçam a lista a cada divulgação, sugerindo maior presença do vírus nos extremos da cidade.

O problema é que a gestão do prefeito Bruno Covas tem divulgado apenas os números absolutos de mortes por bairro, e não os proporcionais, o que gera uma distorção. Isso acontece, porque os distritos periféricos são bem mais populosos do que os centrais. Quando observada a taxa de mortalidade, a Brasilândia deixa o primeiro posto e cai para o 41º lugar. Sapopemba despenca do 2º para o 57º lugar – a cidade possui 96 distritos.

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