Os passos do homem, as epidemias e pandemias

Muitas são as lições das pandemias. Somente um estado e sistemas de saúde fortes conseguem dar respostas mais adequadas a um impacto como a Covid-19.

Os sanitaristas, epidemiologistas e, mais recentemente, os infectologistas labutam com as epidemias e pandemias que possivelmente têm se tornado mais frequentes nos dias atuais. Estes fenômenos têm moldado o modo de vida da humanidade no seu caminhar pelo planeta Terra, induzindo a mudanças.

No passado mais remoto estima-se que tanto a epidemia de Peste Negra como a da Gripe Espanhola tenham matado 50 milhões de pessoas. A primeira, uma doença bacteriana transmitida por ratos, que refletia as condições sanitárias da época e a segunda uma doença viral de transmissão respiratória. Em ambas, a quarentena foi utilizada como forma de prevenção.

Belas obras da literatura clássica mundial se valeram das epidemias em suas narrativas, como o Diário de uma Peste – Daniel Defoe (1722), A Peste – Albert Camus (1947), o O Amor nos Tempos do Cólera – Gabriel Garcia Marques (1985), entre muitas outras.

Já neste século XXI, enfrentamos epidemias as mais diversas. Em 2012, tivemos uma grande epidemia de Dengue que foi a que mais me impressionou até então, por sua repercussão nos serviços de saúde. Em Itabuna, nan Bahia, presenciei o maior impacto na saúde pública que já tinha visto, com pacientes internados até na sala de mamografia, unidades de hidratação improvisadas e até hospital de campanha montado pelo Exército. Isto ocorreu também em outras cidades do Brasil ao longo dos anos.

Assistimos à decretação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de seis Emergências em Saúde Pública Mundial: H1N1 em 2009; Poliomielite em 2014; Ebola e Zika vírus ambos em 2016; Ebola em 2019 e Covid-19 em 2020. A decretação de emergência possibilita uma ação coordenada no enfrentamento da doença no mundo, o que reforça a importância de uma instituição como a OMS.

Das primeiras cinco emergências a que mais se disseminou e matou no mundo foi o H1N1. Um vírus de transmissão respiratória que não respeita fronteiras geográficas ou climáticas e que matou cerca de 200.000 pessoas. Embora estas sejam características também da Covid-19, a forma avassaladora com que esta chegou, mudou rápida e radicalmente a vida da humanidade.

Não temos uma referência histórica para avaliarmos as emergências globais, uma vez que elas são recentes, entretanto percebemos o surgimento de vários vírus novos, a maioria deles de origem animal que se adaptam ao homem – as zoonoses, em um espaço curto de tempo.

Os modos de vida atuais da humanidade como a globalização, o aumento da produção animal, o desmatamento e o aquecimento global, estão diretamente relacionados ao surgimento destas novas doenças e suas rápidas disseminações. O crescimento da população, os desmatamentos e as migrações causadas por guerras, miséria e fenômenos naturais, muitos como consequência do aquecimento global, aproximam cada vez mais os homens entre si e este dos animais, facilitando a transmissão dos vírus. Os vetores e as pessoas infectadas são facilmente transportados de uma ponta a outra do planeta por via aérea, terrestre e fluvial.

Arte: Lincoln Xavier

Muitas são as lições das pandemias. Somente um estado e sistemas de saúde fortes conseguem dar respostas mais adequadas a um impacto como a Covid-19. No Brasil a existência do SUS tem conseguido minimizar as drásticas consequências da pandemia e assim mesmo de forma desigual entre os Estados. Outras medidas como o distanciamento social e a renda para os mais vulneráveis estão sendo muito dificultadas pelo governo eleito no Brasil que tem nas suas premissas o estado mínimo. A importância do voto em projetos inclusivos e não discriminatórios é outra lição que pode ser tirada deste momento.

Revelou-se muito claramente com esta última pandemia a catástrofe de uma sociedade extremamente desigual e das formas de vida que escolhemos ao longo do tempo: o consumo desenfreado e os meios de produção que desrespeitam a natureza.

Sem a menor dúvida precisamos de um mundo que proteja a mãe Terra e reverta as desigualdades imensas entre as pessoas e países, para não sucumbirmos enquanto espécie em outras catástrofes que virão.

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