Secretários de saúde denunciam manobra de Bolsonaro sobre a Covid-19

Segundo a coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, o conselho nacional dos secretários estaduais de saúde emitiu nota na manhã deste sábado (6) em que afirma que o governo de Jair Bolsonaro tenta dar “invisibilidade” aos mortos pela Covid-19. O site do ministério com informações de casos da doença está fora do ar desde sexta (5), quando Bolsonaro afirmou que “acabou matéria no JN” sobre os afetados pela doença.

(Foto: Reprodução)

Em entrevista ao Globo, informa a coluna, o secretário Carlos Wizard, recém-anunciado no governo, disse que o ministério pretende rever os dados passados, alegando que os gestores locais teriam interesse, segundo ele, em inflar os dados para receber verba federal. “A tentativa autoritária, insensível, desumana e anti-ética de dar invisibilidade aos mortos pela Covid-19 não prosperará”, afirma a nota. “Sua declaração grosseira, falaciosa, desprovida de qualquer senso ético, de humanidade e de respeito, merece nosso profundo desprezo, repúdio e asco”, diz o texto.

Alberto Beltrame, prossegue a coluna Painel, presidente do conselho e secretário de saúde do Pará, afirmou ao Painel que a declaração é inaceitável, pois a certidão de óbito é dada pelo médico e computada pelos serviços de saúde locais. “É prova do desconhecimento do secretário de um processo tecnicamente rigoroso. Ele está acusando médicos de falta ética e gestores de falsidade ideológica”, afirma Beltrame.

Ele também afirmou que o repasse de verbas federais não se dá pelo número de mortos ou de casos da doença, como disse Wizard ao Globo. “É uma acusação duplamente grave, pois está acusando médicos e gestores de falsear dados e isso tem consequências legais”, disse.

Beltrame afirma ainda que Wizard parece querer transplantar para o Ministério da Saúde uma discussão superficial das redes sociais. “Já vi comentários do tipo: uma pessoa tinha 80 anos, morreu e lançaram como Covid. A pessoa morreu de quê? Por que tinha 80 anos? A pessoa pode ter 80 anos e não ter problemas de saúde. Se morreu, teve um motivo, e se os testes e exames apontam para Covid, morreu de Covid”, disse. “É lamentável que a essa altura um secretário do Ministério da Saúde diga algo dessa natureza”, disse. Os dados, diz ele, servem para gestores traçarem as estratégias de enfrentamento da doença.