Augusto Heleno complica Bolsonaro no inquérito sobre intervenção na PF

Delegada da PF encaminhou ofício ao ministro do STF Celso de Mello para informar que as investigações relacionadas ao inquérito estão em estágio avançado. Ela informou a necessidade de colher o depoimento do presidente

Jair Bolsonaro e Augusto Heleno (Foto: Sergio Lima)

Prestes a depor para a Polícia Federal no inquérito que apura as denúncias do ex-ministro da Justiça Sergio Moro sobre interferência política na PF, Bolsonaro observa sua linha de defesa enfraquecer após a confirmação pelo ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, de que houve pelo menos duas substituições no comando da segurança do presidente no Rio de Janeiro, antes da reunião ministerial de 22 de abril.

Naquele fatídico encontro, Bolsonaro fez a seguinte ameaça: “Não vou esperar foder alguém da minha família. Troco todo mundo da segurança. Troco o chefe, troco o ministro”, disse ele olhando para Moro. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou”, afirmou.

Ao ser acusado pelo ex-ministro da Justiça de estar se referindo a troca de comando da superintendência da PF do Rio de Janeiro, Bolsonaro negou e disse que fazia críticas a sua segurança pessoal e da família sob a responsabilidade da GSI.

No entanto, Augusto Heleno confirmou em ofício à PF que foram feitas pelo menos duas substituições no comando da segurança do presidente no Rio de Janeiro antes da reunião ministerial. Essa afirmação enfraquece o argumento de Bolsonaro.

Segundo a coluna Painel da Folha de S.Paulo, investigadores veem contradição de Heleno no depoimento que forneceu, no dia 12 de maio, como testemunha no inquérito que apura acusações de Sergio Moro contra Jair Bolsonaro.

No documento, Heleno assegura que o presidente não teve “óbices ou embaraços” em 2019 e em 2020 para mexer na equipe que faz sua segurança pessoal. Na oitiva, o ministro chegou a citar que Bolsonaro tinha feito menção à sua “segurança pessoal” na reunião ministerial, quando falava em trocas para blindar amigos e família.

O ministro não informou o motivo exato das duas substituições de março passado.

Heleno foi indagado pela PF se houve “óbices ou embaraços a nomes escolhidos para atuação na segurança pessoal” de Jair Bolsonaro “ou de seus familiares nos anos de 2019 e 2020”. Heleno respondeu: “Não houve óbices ou embaraços. Por se tratar de militares da ativa, as substituições do Secretário de Segurança e Coordenação Presidencial, do Diretor do Departamento de Segurança Presidencial e do Chefe do Escritório de Representação do Rio de Janeiro foram decorrentes de processos administrativos internos do Exército Brasileiro”.

A negativa de que não houve problemas nas substituições também fragiliza a posição de Bolsonaro quando ele diz, na reunião de 22 de abril, que tentou mas não conseguiu substituir alguém.

Depoimento

A delegada da PF Christiane Correa Machado encaminhou ofício ao ministro do STF Celso de Mello para informar que as investigações relacionadas ao inquérito estão em estágio avançado. Ela também informou a necessidade de colher o depoimento do presidente Jair Bolsonaro.

Caberá também ao decano do STF avaliar a necessidade de o presidente prestar ou não depoimento pessoalmente. Conforme o artigo 221, parágrafo primeiro, do CPP, autoridades como o presidente e vice-presidente da República, senadores e deputados federais podem optar por prestar depoimento por escrito.

Celso de Mello, contudo, já expressou o entendimento de que a prerrogativa só é válida quando as autoridades em questão estão na condição de vítimas e testemunhas. Não de investigados.

Com informações do UOL e do Conjur

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