Pandemia do desemprego: 19 milhões afastados, com 10 milhões sem renda

Segundo o IBGE, havia ainda 8,7 milhões de pessoas em “home office”, com destaque para as de ensino superior. Rendimento médio caiu 18% em maio.

Trabalhadores em indústria de alimentos -Foto: O Presente

Em maio de 2020, entre os 84,4 milhões de trabalhadores do país, cerca de 19 milhões estavam afastados do trabalho e, entre estes, 9,7 milhões estavam sem sua remuneração, o equivalente a 11,5% da população ocupada. A estimativa foi divulgada nesta quarta-feira (24) pelo IBGE como parte da Pnad Covid19, criada a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, que acompanha o mercado de trabalho.

“Nós já sabíamos que havia uma parcela da população afastada do trabalho e agora a gente sabe que mais da metade dela está sem rendimento”, observou o diretor adjunto de pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, em entrevista a Rede Brasil Atual. “São pessoas que estão sendo consideradas na força (de trabalho), mas estão com salários suspensos. Isso não é favorável e tem efeitos na massa de rendimentos gerada, que está estimada abaixo de R$ 200 bilhões.”

38,7% dos domicílios do país receberam algum auxílio monetário do governo relacionado à pandemia, no valor médio de R$ 847. Mais da metade dos domicílios das regiões Norte e Nordeste receberam esse tipo de auxílio. Outro dado importante foram os 24 milhões de pessoas que apresentaram sintomas associados à covid-19, sendo que a região Norte mostrou o maior percentual (18,3%) de pessoas nessa condição.

A Pnad Covid19 estima que o país tinha 160,9 milhões de pessoas com 14 anos ou mais de idade, a chamada população em idade de trabalhar. A população na força de trabalho eram 94,5 milhões, dos quais 84,4 milhões eram ocupados e 10,1 milhões desocupados. A população fora da força de trabalho somava 75,4 milhões de pessoas.

Norte e Nordeste

No Nordeste, 26,6% dos trabalhadores (ou 5 milhões de pessoas) estavam afastados do trabalho pela pandemia, a maior proporção entre as cinco regiões. Nesse mês, cerca de 16,8% dos trabalhadores do Nordeste e 15% do Norte estavam sem remuneração. A região Sul foi a menos afetada (10,4%).

Segundo o IBGE, havia ainda 2,4 milhões de pessoas acima da jornada normal. Mas o total de horas efetivamente trabalhadas na semana, no geral, ficou bem abaixo da média habitual, passando de 39,6 para 27,4, em maio.

Isso se refletiu no rendimento efetivamente recebido no mês passado. A média foi de R$ 1.899, queda de 18,2% em relação ao valor normalmente recebido (R$ 2.320). As quedas eram maiores no Nordeste e no Sudeste, onde a renda de maio correspondeu a 80,3% e 80,7%, respectivamente, do normal.

Pessoas ocupadas e pessoas que estavam temporariamente afastadas do trabalho – maio de 2020

  Ocupados (mil pessoas) Total de afastados (mil pessoas) Total de afastados devido ao distanciamento social (mil pessoas) Percentual ocupados de afastados (%) Percentual de ocupados afastados devido ao distanciamento social (%)
Brasil 84 404 18 964 15 725 22,5 18,6
Norte 6 372 1 792 1 487 28,1 23,3
Nordeste 18 830 5 726 5 001 30,4 26,6
Sudeste 38 077 8 233 6 801 21,6 17,9
Sul 13 949 1 976 1 447 14,2 10,4
Centro-Oeste 7 176 1 237 990 17,2 13,8

Pessoas ocupadas e pessoas e temporariamente afastadas do trabalho – maio de 2020

  Ocupados (mil pessoas) Afastados sem remuneração (mil pessoas) Percentual de afastados sem remuneração entre os afastados (%) Percentual de afastados sem remuneração entre os ocupados (%)
Brasil 84 404 9 728 51,3 11,5
Norte 6 372 953 53,2 15,0
Nordeste 18 830 3 164 55,3 16,8
Sudeste 38 077 4 192 50,9 11,0
Sul 13 949 828 41,9 5,9
Centro-Oeste 7 176 591 47,8 8,2

Percentual de domicílios que receberam auxílio relacionado à pandemia e valor médio recebido

Description: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/images/agenciadenoticias/estatisticas_sociais/2020_06/tabela6.png

Mais afastamentos entre os sem CLT

Entre as categorias de trabalhadores, o afastamento devido à pandemia atingiu 33,6% dos empregados domésticos sem carteira assinada. Em seguida, vieram os empregados setor público (29,8%) e do setor privado (22,9%), ambos também sem carteira.

“Claramente os trabalhadores domésticos sem carteira foram os mais afetados pela pandemia”, observou Cimar. “Parcela expressiva deles tem renda média abaixo de um salário mínimo. Já os com carteira foram menos afetados porque têm mais estabilidade”, acrescentou o diretor.

Nível superior garante home office

Cerca de 77,5% do total de ocupados (ou 65,4 milhões) não estavam afastados do trabalho. Entre os não afastados, 8,7 milhões trabalhavam de forma remota (home office), o equivalente a 13,3% da população ocupada que não estava afastada.  

O percentual de mulheres trabalhando remotamente (17,9%) superou o dos homens (10,3%). Entre as pessoas com nível superior completo ou pós-graduação, 38,3% estavam trabalhando remotamente. Os percentuais foram muito baixos entre os sem instrução ou com fundamental incompleto (0,6%), bem como para o nível fundamental completo e médio incompleto (1,7%). Para aqueles com médio completo e superior incompleto o percentual ficou em 7,9%.

O IBGE calculou ainda em 36,4 milhões o total de pessoas “pressionando o mercado de trabalho”. É a soma de desempregados com aquelas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram serviço. Dessas, 26,8 milhões não procuraram devido à pandemia ou por falta de oportunidade na região.

Sintomas e internação

A pesquisa do IBGE quis ainda saber dos entrevistados se eles haviam sentido algum sintoma que pode, ou não, estar associado à covid-19. Assim, 24 milhões (11,4% da população) relataram sintomas de gripe. E 3,8 milhões (1,8%) apontaram perda de capacidade de sentir cheiro ou sabor. Perto de 1 milhão (0,5%) acusaram tosse, febre e dificuldade de respirar.

Das pessoas que haviam apresentado algum sintoma e procuraram atendimento em hospitais, 113 mil precisaram ser internadas, na maioria homens (59,4%) e de cor preta ou parda (56,3%), classificação usada pelo IBGE. Mais de 40% tinham idade superior a 60 anos. Dos internados, 31 mil precisaram ser sedados, intubados e colocados em respiração artificial.

A região Norte apresentou o maior percentual de pessoas com algum sintoma gripal (18,3% ou 3,3 milhões de pessoas), assim como o maior percentual de pessoas com algum dos sintomas conjugados (7,8% ou 1,4 milhão de pessoas). Por outro lado, o Centro-Oeste teve os menores percentuais: 7,3% ou 1,2 milhão de pessoas com algum sintoma e 0,4% ou 73 mil pessoas com algum sintoma conjugado.

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