Em carta, presidentes de gigantes do PIB pedem fim do desmatamento

O documento foi entregue ao vice-presidente Hamilton Mourão um dia após o Ministério Público Federal pedir com urgência o afastamento do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

(Foto: Reprodução)

Em mais um sinal do isolamento do governo Bolsonaro em razão de sua política antiambiental, um grupo de presidentes de 40 grandes empresas nacionais e internacionais, além de quatro entidades setoriais, enviaram uma carta ao vice-presidente Hamilton Mourão fazendo um apelo pelo combate “inflexível e abrangente” ao desmatamento ilegal na Amazônia.

O grupo se dirigiu a Mourão por ele estar à frente do Conselho Nacional da Amazônia Legal. O conselho foi recriado e transferido para a vice-presidência da República em fevereiro, para tentar reduzir os danos à imagem do Brasil causados pelo aumento exponencial das queimadas na Amazônia em 2019 e pela política de desmonte da fiscalização ambiental promovida pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

O governo Bolsonaro, no entanto, continua fazendo vistas grossas para o desmatamento e outras atividades ilegais, como garimpos. Em abril deste ano, em plena pandemia, o desmatamento na Amazônia foi o maior em 10 anos, com aumento de 171% da área queimada ante abril de 2019, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Também em plena crise do novo coronavírus, Salles demitiu um diretor do Ibama após uma operação do órgão contra garimpeiros ilegais.

Os ataques deliberados ao meio ambiente vêm produzindo reações de agentes econômicos, como uma carta de 29 instituições financeiras internacionais ao embaixador do Brasil em Londres. A carta dos empresários e entidades a Mourão traz mais críticas duras.

Entre as signatárias, estão gigantes como Alcoa, Ambev, Natura, Cargill, Microsoft, BrasilAgro, Marfrig, JSL e a estatal Eletrobras (confira lista completa abaixo). Além disso, assinam as associações Brasileira do Agronegócio (Abag) e Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o Conselho Empresarial Brasileiro (Cebds) e o Instituto Brasileiro da Árvore (Ibá).

As companhias mostram preocupação com a percepção negativa da imagem do Brasil no exterior por conta das questões socioambientais, não somente do ponto de vista reputacional, mas em termos efetivos para desenvolver os negócios e projetos fundamentais para o país.

Os executivos ainda pedem a adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono, direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono e pacotes de incentivos para a recuperação econômica dos efeitos da pandemia da Covid-19 condicionada a uma economia circular e de baixo carbono.

“Precisamos fazer as escolhas certas agora e começar a redirecionar os investimentos para enfrentamento e recuperação da economia brasileira em um modelo de economia circular, de baixo carbono, e inclusiva, em que não há controvérsias entre produzir e preservar”, destaca a mensagem.

A carta ao vice-presidente, que também será protocolada no Supremo Tribunal Federal, Senado Federal, Câmara dos Deputados e na Procuradoria Geral da República (PGR), foi entregue um dia depois de o Ministério Público Federal pedir que a Justiça Federal afaste Ricardo Salles em caráter de urgência.

Nesta quarta (8), Hamilton Mourão disse ao jornalista Valdo Cruz, da GloboNews, que vai receber os empresários. Falou ainda em “recuperar a estrutura de fiscalização na área ambiental”. No entanto, de nada adiantará caso Salles e Bolsonaro continuem tomando o partido de madeireiros, garimpeiros e grileiros.

Confira a carta na íntegra:

Neste momento, em que enfrentamos uma situação extrema, extraordinária e excepcional, é muito importante manter a serenidade e o equilíbrio para que possamos superar e sair fortalecidos dos desafios que se apresentam. Em nenhum momento da história o futuro da humanidade e do planeta dependeu tanto da nossa capacidade de entendimento de que vivemos em um único planeta e de que a nossa sobrevivência está diretamente ligada à preservação e valorização dos seus recursos naturais.

Os impactos sociais e econômicos causados em escala global e de forma inédita pela pandemia da Covid-19 nos advertem que a consumação de riscos associados à quebra do equilíbrio ecossistêmico traz consequências devastadoras quando negligenciados, tal como vem ocorrendo com o risco climático apontado pelo Fórum Econômico Mundial ano após ano, desde 2012.

Cientes disso, o setor empresarial brasileiro, por meio de instituições e empresas dos setores industrial, agrícola e de serviços, vêm hoje reafirmar seu compromisso público com a agenda do desenvolvimento sustentável.

Particularmente, esse grupo acompanha com maior atenção e preocupação o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia. Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país.

Nesse contexto, esse grupo coloca-se à disposição do Conselho da Amazônia para contribuir com soluções que tenham foco nos seguintes eixos:

• Combate inflexível e abrangente ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros;

• Inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas;

• Minimização do impacto ambiental no uso dos recursos naturais, buscando eficiência e produtividade nas atividades econômicas daí derivadas;

• Valorização e preservação da biodiversidade como parte integral das estratégias empresariais;

• Adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono;

• Direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono; e

• Pacotes de incentivos para a recuperação econômica dos efeitos da pandemia da Covid-19 condicionada a uma economia circular e de baixo carbono.

Algumas das empresas signatárias já desenvolvem soluções de negócios que partem da bioeconomia, com valor agregado e rastreabilidade dos produtos, inclusive, na Amazônia. De um lado, entendemos que é possível dar escala às boas práticas a partir de políticas consistentes de fomento à agenda ambiental, social e de governança. De outro, é necessário adotar rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia e demais biomas brasileiros.

Temos a oportunidade única, os recursos e o conhecimento para dar escala às boas práticas e, mais do que isso, planejar estrategicamente o futuro sustentável do Brasil. Precisamos fazer as escolhas certas agora e começar a redirecionar os investimentos para enfrentamento e recuperação da economia brasileira em um modelo de economia circular, de baixo carbono, e inclusiva, em que não há controvérsias entre produzir e preservar. Em nosso entendimento, esse é o melhor caminho para fincarmos os alicerces do país para as próximas gerações. Caso contrário, corremos o risco de ficarmos à margem da nossa própria história.

Confira a lista de empresas e entidades signatárias do comunicado:

EMPRESAS

– Agropalma

– Alcoa

– Amaggi

– Ambev

– Bayer

– Bradesco

– BrasilAgro

– Cargill

– Cosan

– DSM

– Ecolab

– Eletrobras

– ERM

– Grupo Vamos

– Iguá

– Itaú

– Jacto

– JSL

– Klabin

– LVMH

– Marfrig

– Mauá Capital

– Michelin

– Microsoft

– Movida

– Natura

– Rabobank

– Santander

– Schneider Eletric

– Shell

– Siemens Energy

– Sitawi

– Stefanini

– Suzano

– Ticket Log

TozziniFreire

– Vale

– Vedacit

– WeWork

ENTIDADES

– Cebds

– Abag

– Abiove

– Ibá

Com informações do InfoMoney e G1

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