A pandemia impõe o dialogo?
Na última semana o conjunto dos movimentos sociais entregaram ao Prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil um manifesto pela vida […]
Publicado 09/07/2020 18:47
Na última semana o conjunto dos movimentos sociais entregaram ao Prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil um manifesto pela vida e contra a flexibilização da quarentena. Um ato louvável que contava com a participação desde membros da arquidiocese de Belo Horizonte até organizações políticas que se orgulham em bradar para os quatro cantos o seu purismo e de que não sentam com “não comunistas”. O que ninguém percebeu naquele momento, porém, foi a ampla convergência de diversos setores da sociedade na defesa de pautas vitais para o nosso povo e que, na prática, a frente ampla pela vida e contra o fascismo funciona.
Desde o começo da pandemia, a gestão da Prefeitura de Belo Horizonte apresentou uma grande preocupação e se mostrou determinada em combater a Covid-19. A PBH se viu isolada em um cenário de um Governo Federal negacionista e uma gestão estadual vacilante e incompetente na gestão de um estado da proporção territorial de Minas Gerais e de dar as respostas necessárias em um momento de crise. Mesmo com esse ambiente, o Prefeito Alexandre Kalil optou pela ciência e adotou medidas efetivas contra a pandemia, deixando a esquerda purista em forte contradição interna e refletindo sobre qual seria sua linha política na prática. Seria um pecado concordar com ações pontuais de um Prefeito do PSD?
Com o passar das semanas o setor empresarial foi se organizando cada vez mais para impor a gestão municipal uma pressão pela reabertura do comércio e pela flexibilização da quarentena. Para a surpresa da esquerda pequeno burguesa mineira, Kalil respondeu com medidas que aumentavam o combate à pandemia e buscava reduzir o impacto da quarentena sob os trabalhadores como a distribuição de cestas básicas. Mais uma vez os puristas se perguntavam “o que fazer?”. Ainda sob um forte debate interno, eles respondiam: “Defender essas políticas é defender o populismo de Kalil”. Mas fica a dúvida: essa birra não ia de encontro aos interesses dos trabalhadores?
A gestão municipal cada vez mais apresentava suas diferenças com a estadual, sendo recorrente a apresentação de críticas abertas do Prefeito a Romeu Zema e sua equipe. O Governador do Partido Novo respondia a pandemia não com ações das quais a gestão da PBH e as outras centenas de gestões municipais necessitavam, mas sim com subserviência a Bolsonaro, colocando Minas Gerais em uma posição humilhante na cena política nacional. A abertura de uma chaga fica escancarada nas relações de poder na terra dos Inconfidentes, com os ditos donos da verdade se negando a explorar as contradições criadas e agindo como meninos mimados negligenciando significativamente as ações para resguardar a vida do povo. Porém, nos surge mais um questionamento: Não seria Kalil um aliado pontual para desgastar Zema e Bolsonaro?
Com a forte pressão do setor dominante sobre a gestão municipal e com a flexibilização total de diversas capitais pelo território nacional, parecia ser inevitável a total abertura de Belo Horizonte. Contudo, nessa mesma temporalidade, Minas Gerais apresentava seus piores números em termos de casos e de mortes, fazendo com que o setor da Educação impulsionasse o conjunto dos movimentos sociais para a criação do manifesto pela vida e contra a flexibilização. Com a tragédia se abatendo sobre muitos lares mineiros, pouco se discordou sobre a importância do ato e o falso moralismo ficou de lado em algum debate vazio do passado. Na prática, o que se viu naquela tarde dentro da Prefeitura foi uma frente ampla, contra o fascismo e em defesa da vida.
Que a iniciativa gere reflexão, se espalhe e que os tais meninos mimados saibam dialogar sempre que necessário for defender o povo e a classe trabalhadora.
Ramon Almeida – Presidente da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais