Miguel Nicolelis: Reabertura no Brasil está fora de parâmetros da OMS

Médico e cientista que integra Comitê Científico do Consórcio Nordeste alertou para o risco de efeito bumerangue após interiorização do coronavírus.

O cientista Miguel Nicolelis (Foto: Pedro Sibahi/Agência PT)

O médico e cientista Miguel Nicolelis, da coordenação da Comitê Científico do Consórcio Nordeste, alertou em entrevista que a reabertura no Brasil foi realizada fora dos parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS). Afirmou também que “ainda não tem como contar vitória ou achar que a batalha está ganha” no enfrentamento à Covid-19 nos estados do Nordeste. O cientista deu as declarações em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco.

O nono boletim lançado pelo comitê aponta um “efeito bumerangue” do novo coronavírus: O crescimento de casos na capital seguiu em direção ao interior, e agora há um aumento repentino de casos no interior que retorna para as capitais dos estados, onde há mais leitos e mais estrutura para pacientes graves vindos de outras cidades.

Nicolelis falou sobre o aumento de casos da Covid-19 em Pernambuco, apesar de alguns estudos apontarem que o pico da doença pode já ter passado no estado. Ele atribui a elevação dos números à interiorização do vírus pela malha rodoviária. “A gente começou a ver essa interiorização e agora a possibilidade de os casos que foram pro interior, à medida em que casos mais graves se desenvolvem, que eles possam voltar para a Grande Recife em busca de serviços médicos mais especializados e leitos de UTI, que é o chamado ‘efeito bumerangue’ que nós criamos”.

Alertou ainda para o cuidado a fim de que a reabertura econômica não leve a um novo pico da Covid-19. “A Universidade de Oxford soltou um relatório semana passada mostrando que todas as aberturas do Brasil foram executadas ainda fora dos parâmetros que a Organização Mundial da Saúde [OMS] recomenda, então, no momento em que isso ocorre, independente do grau da abertura você se expõe ao risco de ter novos casos”, declarou.

Nicolelis defendeu cuidado para evitar o espalhamento do vírus pelas rodovias. “Barreiras sanitárias, controle do tráfego, testagem das pessoas que vão pro interior, das pessoas que voltam do interior é muito importante”, destacou.

Miguel Nicolelis falou também sobre como funciona o trabalho do comitê do Consócio Nordeste, que foi a primeira região a criar um comitê científico no país. “Nós coletamos dados, modelos, informações, fazemos análises, fazemos gráficos de toda sorte e oferecemos esse material aos governadores de cada estado e também publicamos os nossos boletins periodicamente para informar a sociedade como um todo do estado da pandemia no Nordeste. É um trabalho voluntário Todos nós somos voluntários, ninguém recebe nada”, explicou.

Disse ainda acreditar que a população brasileira está começando a “acordar” para a necessidade de apoiar o trabalho científico, mas lamentou a postura do governo federal. “A gente vê aqui no Brasil finalmente a sociedade brasileira começando a acordar porque é importante apoiar a ciência, financiar projetos de pesquisa em todo o país, apoiar as universidades federais onde mais de 90% das pesquisas científicas do Brasil são feitas. Infelizmente, o governo federal não tem essa boa prática de levar em conta os conselhos e a experiência dos cientistas”, declarou.

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