“Militares foram longe demais no governo Bolsonaro”, diz Celso Amorim

Para o ex-ministro das Relações Exteriores, as Forças Armadas aderiram ao bolsonarismo e vivem desmoralização no País

O ex-chanceler Celso Amorim - Foto: Joana Berwanger

O ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim, avalia que as Forças Armadas vivem um momento de descrédito no governo Jair Bolsonaro, tanto no aspecto interno da organização como externo. “Eles foram longe demais”, diz Amorim, em entrevista à CartaCapital. Na opinião do diplomata, a organização se deixou atrair pelo bolsonarismo – que não é propriamente sua ideologia – e hoje amarga uma fase de “desmoralização” com os desdobramentos políticos do atual governo e a grande participação de militares nas pastas governamentais.

Amorim citou o caso do general Eduardo Pazuello à frente do Ministério da Saúde, há mais de 60 dias em um posto interino. “Como uma pessoa que não entende poderia estar à frente desse cargo nesse momento? Não tem como não passar a vê-los como responsáveis pelo que está acontecendo hoje”, disse ele, referindo-se aos desdobramentos da pandemia de coronavírus no Brasil – que soma quase 80 mil mortes.

Para o ex-ministro, as Forças Armadas vêm sendo contaminadas “de maneira grave” e precisam se afastar da política, para se dedicar ao seu papel institucional. “Somos um país de 17 mil quilômetros de fronteira terrestre, temos o maior litoral atlântico do mundo, Amazônia, pré-sal, recursos de biodiversidade. Não acho bom para o País que as Forças Armadas se desmoralizem.”

Na conversa com o diretor de Redação de CartaCapital, Mino Carta, Amorim ainda expôs, em tom de preocupação, os novos rumos que o governo Bolsonaro sugere para a política nacional de defesa, em recente documento que será apresentado aos congressistas esta semana. O documento, elaborado pelo ministério da Defesa, aponta a possibilidade de crises e tensões no chamado “entorno estratégico” do Brasil, que abrange América do Sul, Antártica e Oceano Atlântico até a costa ocidental da África.

De acordo com a pasta, é a primeira vez, desde a criação do Ministério em 1999, que a Política Nacional de Defesa não fala em ausência de risco de conflitos, o que estava explicitado nas edições anteriores, de 2012 e 2016. O apontamento é considerado “grave” por Amorim.

“Uma coisa é a contribuição diplomática, como vimos acontecer nos governos de Fernando Henrique Cardoso e do ex-presidente Lula muitas vezes. Mas, quando você diz que as Forças Armadas terão que contribuir, isso é um passaporte para a intervenção militar”, diz ele. “Muda estruturalmente a ideia da estratégia nacional de defesa em relação à América do Sul – que sempre foi de dissuasão para fora e cooperação para dentro.”

Com informações da CartaCapital

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