Abrir o comércio, ou abrir covas

A falta de responsabilidade, de capacidade, de visão do problema, do atendimento as medidas de apoio aos desempregados, as pequenas e médias empresas, aos Estados e Municípios, as ações e discursos pró “economia”, tem provocado ainda mais mortes, na verdade um genocídio.

Pouco estados estão reduzindo a contaminação e os óbitos

Na maioria dos estados do Brasil a pandemia, infelizmente, se encontra em alta, ou “estabilizada” em patamar elevado. Poucos conseguem algum declínio no número de infectados ou mortos, alguns retornando a patamares de alta.

Vários países que já haviam controlado a pandemia, ao liberar atividades – principalmente aquelas que promovem aglomeração de pessoas, em bares, restaurantes, shoppings, escolas, principalmente nos transportes coletivos – viram acontecer uma segunda onda de proliferação do Covid-19.

Historicamente, em outras pandemias no passado, ocorreram situações semelhantes como na chamada gripe espanhola, onde uma segunda e até uma terceira onda mataram mais pessoas que na primeira, que se prolongou por aproximadamente dois anos.

É um equivoco e uma irresponsabilidade grave do governo federal, que teima em “priorizar” a economia em detrimento da saúde e da vida das pessoas. Apoiadores do governo Bolsonaro, certamente por orientação dele, espalharam outdoors em todo o país incitando a abertura do comércio.

Ao invés de acabar com as filas dos desempregados nas agências da Caixa, beneficiados com a ajuda de R$ 600,00 aprovada pelo Congresso, assim como o Pronampe para pequenas e médias empresas que emprega a grande maioria, o governo age como uma tartaruga no atoleiro. O ministro Paulo Guedes chegou a declarar que o governo deveria ajudar às grandes empresas pois se emprestasse às pequenas perderia dinheiro.

Nos países onde os governantes assumiram a sua responsabilidade de coordenar e combater com eficácia a pandemia, o número de infectados e mortes foi pequeno ou até nulo. São vários exemplos de países populosos como a China que embora com quase cinco vezes a população dos EUA e sete vezes a do Brasil teve pouco mais de 80 mil infectados e cerca de 4 mil mortos, enquanto nos EUA já são mais de 4 milhões de infectados, no Brasil mais de 2,5 milhões. Nos EUA já morreram mais de 150 mil e no Brasil se aproxima de 100 mil mortos.

O Vietnã, com 96 milhões de habitante, embora muitos infectados; conseguiu evitar mortes. Outros países mesmo com parcos recursos, submetidos à violento bloqueio econômico, como a Venezuela com 36 milhões de habitantes, apenas 47 mortes, o Uruguai, Cuba, países africanos como a Tunísia, todos com menos de 100 mortos.

O discurso e a ação do presidente da República, do ministro interino da Saúde, de todo o governo, da maioria dos deputados, senadores e empresários que o apóiam, além de inconseqüente é totalmente falso, e funciona de forma contrária ao que dizem defender. Os fatos comprovam não só no Brasil, mas em todo o mundo, que a economia só retorna a sua normalidade com o combate eficaz à pandemia, e na medida que vai sendo contida, vai se tornando possível liberar setores da economia e as atividades do cotidiano.

Enquanto isso não ocorre o que se tem visto é um efeito sanfona de abre e fecha, com a conseqüente proliferação ainda maior da contaminação e das mortes. Abrir a economia antes da hora é na verdade abrir novas covas.

A falta de responsabilidade, de capacidade, de visão do problema, do atendimento as medidas de apoio aos desempregados, as pequenas e médias empresas, aos Estados e Municípios, as ações e discursos pró “economia”, tem provocado ainda mais mortes, na verdade um genocídio.

A grande maioria da população, desassistida, desorientada e abandonada pelo governo, no desespero de garantir a sobrevivência, tem rompido a quarentena, saindo às ruas,  aglomerando-se, amontoando-se nos transportes coletivos, contraindo o vírus e levando para dentro da sua casa, contaminando e matando esposas, filhos, pais, avós, ou dos grupos de risco, que mesmo cumprindo a quarentena , são vitimas inocentes  e precoces deste genocídio.

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