Funcionários do BB pedem ao TCU auditoria em venda de carteira ao BTG

A carteira, que tem R$ 2,9 bilhões em dívidas vencidas, foi negociada por R$ 371 milhões. A operação vem sendo criticada pelos valores envolvidos e pela falta de transparência sobre eventual licitação.

Banco do Brasil - Foto: Marcelo Camargo/ABr

A Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (ANABB) encaminhou ofício ao ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), solicitando que o órgão investigue a operação de venda de uma carteira de crédito do Banco do Brasil para o banco BTG Pactual.

A carteira, que tem R$ 2,9 bilhões em dívidas vencidas, foi negociada por R$ 371 milhões. A operação vem sendo criticada por partidos políticos, parlamentares e sindicatos pelos valores envolvidos e pela falta de transparência sobre eventual licitação realizada.

Uma carteira de crédito com dívidas vencidas reúne um grupo de devedores que não pagam seus débitos já há algum tempo. O banco original pode passar a carteira adiante para que outro banco cobre as dívidas. Devido ao risco de o banco que adquiriu a carteira não receber, o valor pago na operação é sempre menor que o valor da carteira.

A operação foi anunciada no início de julho pelo BB, ainda sob a gestão do presidente Rubem Novaes, que oficializou sua renúncia do cargo ao ministro da Economia, Paulo Guedes, na última sexta-feira (24). A expectativa é que Novaes permaneça no cargo até o próximo dia 6 de agosto, após o anúncio dos resultados obtidos pelo Banco no primeiro semestre de 2020.

Auditoria

No ofício encaminhado ao TCU, a ANABB pede que seja avaliada a legalidade dos negócios efetuados entre BB e BTG Pactual, por meio de auditoria sobre eventuais prejuízos causados aos acionistas. A ANABB também pede ao TCU que avalie se de fato houve ampla concorrência no processo de venda, já que não houve um processo de leilão para a negociação.

“O leilão é uma modalidade que permite ao BB ceder parte de seus ativos sem questionamentos a respeito de eventuais direcionamentos – até porque a empresa que adquiriu os créditos [BTG Pactual] tem vínculos históricos com o ministro da Economia [Paulo Guedes]. Por que este caminho mais adequado não foi obedecido?”, questionou o presidente da ANABB, Reinaldo Fujimoto, no ofício endereçado ao Tribunal de Contas.

Confira íntegra do documento.

O que diz o BB

Segundo o BB, as dívidas repassadas ao BTG estavam vencidas havia mais de seis anos. O banco alega ter lançado 98% no balanço do banco público como prejuízo e também que muitas das dívidas se transformaram em ações de cobrança na Justiça. O BB diz ainda que realizou uma concorrência que contou com a participação de quatro empresas e que o vencedor apresentou a maior oferta.

Necessidade de transparência

O presidente licenciado do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Vasconcelos, afirma que o pedido de auditoria ao TCU pelos funcionários é positivo, para ajudar a lançar luz sobre a operação.

“Os sindicatos, através do nosso Comando Nacional dos Bancários, também fizeram uma solicitação para que o banco prestasse esclarecimentos, há umas três semanas. Eles ignoraram. A gente acha positivo esse ofício ao TCU para que a população saiba o que está acontecendo. A gente acha estranha essa venda, dadas as relações do Paulo Guedes com o BTG Pactual”, comentou.

Com relação à diferença de valor entre os débitos da carteira de crédito e o valor de venda, Vasconcelos defende uma análise criteriosa da composição da carteira, para apontar se de fato é como o BB diz. “Não vou dizer que [a discrepância] é comum, vou dizer que é possível. Pode ser uma carteira com alto índice de inadimplência. É preciso uma análise criteriosa para a gente afirmar qualquer coisa. Acho que só uma auditoria vai comprovar”, destacou.

Augusto Vasconcelos afirma, ainda, que os sindicatos estão atentos a tentativas de desmonte do banco. “O presidente [Rubem] Novaes, que estranhamente renunciou ao cargo na última sexta-feira, nunca escondeu seu desejo de privatizar o banco, o próprio Paulo Guedes já declarou que quer privatizar. É bom que a sociedade fique atenta, pois trata-se de empresa rentável, que dá lucro e é revertido para projetos de infraestrutura e financiamento da agricultura”, concluiu.

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