“Debandada” mostra enfraquecimento de Guedes, avalia economista

Segundo Paulo Kliass, Guedes está mais fraco em disputa interna. Se tivesse entregado resultados prometidos, teria mais força para se impor a Jair Bolsonaro.

Paulo Guedes e Jair Bolsonaro

A saída do governo Bolsonaro dos secretários de Desestatização e Privatizações, Salim Mattar, e de Desburocratização, Paulo Uebel é um sinal de enfraquecimento do outrora superministro Paulo Guedes e da agenda defendida por ele. A avaliação é de Paulo Kliass, doutor em Economia e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Os dois pediram demissão nesta terça-feira (11) em um movimento que o próprio Paulo Guedes classificou como “debandada”.

Também pela boca de Guedes, soube-se o motivo das demissões: a insatisfação com a lentidão com que avançavam projetos de suas pastas. No caso de Mattar, as privatizações. No caso de Uebel, a reforma administrativa, que promete “desinchar” o Estado revendo as regras do serviço público.

O ministro da Economia ainda alfinetou “conselheiros” que, segundo ele, estimulam Bolsonaro a romper a política de restrições imposta pelo teto de gastos. Chegou a afirmar que estavam conduzindo o presidente ao caminho do impeachment.

Segundo Kliass, as afirmações escancaram uma disputa interna no governo em que a agenda de Guedes está levando a pior. A situação se acirrou com a pandemia, ressalta, mas o enfraquecimento do ministro começou antes. “O Bolsonaro só tem um objetivo na vida, a reeleição em 2022. O ano de 2019 foi um ano perdido. Tudo que foi prometido pelo Paulo Guedes, queridinho do mercado financeiro, não aconteceu. Tivemos crescimento de 1,1%, abaixo dos dois anos de governo Temer”.

O economista afirma que, com a pandemia, o governo ganhou um bode expiatório para a falta de resultados na economia, mas outros problemas surgiram. Se não forem combatidos, a recessão e o desemprego deixam Jair Bolsonaro em maus lençóis para a disputa presidencial em 2022. O presidente está percebendo que o cardápio de Guedes não traz o que é necessário.

Dois outros ministros contribuem para isso, buscando convencer o presidente de que será necessário investimento público para a retomada da economia: o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e o ministro-chefe da Casa Civil, o general Wagner Souza Braga Netto. Ambos estão por trás do Pró-Brasil, um programa que prevê financiamento de obras pelo governo. Possivelmente, estão entre os “conselheiros” a quem Paulo Guedes se referiu. Bolsonaro também quer dinheiro para implementar o Renda Brasil, substituindo o Bolsa Família.

“Bolsonaro vai ter que apresentar para a população resultados positivos. Com esse nível de desemprego, recessão, por mais ideológico que seja o grupo dele, não tem como. Isso significa que ele tem que mudar a orientação socioeconômica. Se depender do Guedes, nada disso acontece, pois ele fica mirando obsessivamente essa coisa do equilíbrio fiscal”, comenta Kliass.

O economista destaca ainda que, se Paulo Guedes tivesse entregado os resultados exuberantes que prometeu na campanha, teria mais força para se impor no momento atual. “Ele vem se enfraquecendo ao longo do tempo. Basta ver as declarações do Guedes no início do governo e agora. Se tivesse entregado o que prometeu, poderia agora estar com mais força para falar”, afirma.

Paulo Kliass aventa, inclusive, a possibilidade de os cargos deixados pelos dois secretários irem parar nas mãos do Centrão. “O Paulo Guedes conseguiu colocar quatro grandes ministérios – da Fazenda, do Planejamento, do Trabalho e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio – sob sua alçada. Além de ser um potencial cabide de empregos, há várias estruturas federais com pulverização nos estados. As secretarias da Receita Federal, do Tesouro Nacional, as nomeações nas estatais, nos bancos”, diz.

No entanto, afirma, apesar de Guedes ter perdido força, a disputa ainda está em aberto e é pesada. “A gente está em um momento que as forças estão se rearranjando. Um bom sinalizador vai ser os substitutos para essas funções. Se vencer a tese de que tem que gastar para assegurar a reeleição, ou vão simplesmente seguir essa linha de ficar fazendo pedalada fiscal, achar subterfúgio para romper o teto, ou vão ter que apresentar uma nova emenda constitucional para alterar o regime fiscal”.

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