Bolívia arranca eleições para 18 de outubro: “data limite e inadiável”

Após garantir a definição de uma data para a eleição, as forças democráticas e progressistas lutam para assegurar a lisura do processo eleitoral.

Manifestantes tomaram a rodovia Cochabamba-Oruro para exigir democracia na Bolívia e o fim dos assassinatos, prisões e perseguições (Foto: Kawsachun News)

Mobilizadas há mais de dez dias com bloqueios de estradas, concentrações e paralisações, as entidades populares bolivianas arrancaram da autoproclamada Jeanine Áñez, nesta quinta-feira (13), a oficialização da eleição presidencial em 18 de outubro como “data limite e inadiável”.

Antes marcado para 3 de maio, o pleito havia sido remarcado pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) – com comando indicado pela própria “presidenta” – para 6 de setembro, e vinha sendo postergado indefinidamente com a justificativa do avanço do coronavírus.

Quase um ano após tomar de assalto o poder – desconsiderando a expressiva vitória do presidente Evo Morales, reeleito nas urnas, em 20 de outubro de 2019 -, Áñez abriu uma grave crise institucional, marcada por dezenas de assassinatos e centenas de prisões.

Desde Buenos Aires, onde está exilado, Evo Morales, líder do Movimento Ao Socialismo (MAS), considerou a promulgação uma vitória que coloca a luta política em um novo patamar. “A Assembleia Legislativa sancionou a lei que garante as eleições na Bolívia com um prazo, uma data limite, definitiva, que não pode ser adiada, protegendo com fiadores internacionais as possíveis armadilhas; e o que é mais importante: evitará um novo massacre”, afirmou Evo.

Na avaliação do pesquisador e cientista social Porfirio Cochi, “entre os inúmeros erros do governo, o que agravou a crise foi a candidatura de Jeanine”. “A partir de então aumentou ainda mais a insegurança diante de quem não cumpre com a palavra, como ficou evidenciado no adiamento das duas últimas datas.  Tamanha incerteza, tão pouca credibilidade e o desprestígio de um pretenso mandato provocaram e aprofundaram a crise, porque as datas não garantiam nada, seja em abril, setembro ou outubro. Foi por isso que a população se mobilizou para garantir as eleições”, acrescentou.

Para Cochi, há um majoritário sentimento de diálogo na população, que ratifica o pacto acordado e barra novas postergações, estabelecendo que pessoas que alentem um novo adiamento serão processadas. “É um acordo fechado com cadeado e que contribui para que se restabeleça um ambiente democrático de disputa”, ressaltou.

Atentados fascistas

Na mesma noite de quinta-feira (13) foram atacadas com dinamite as sedes da Central Operária Boliviana (COB) e da Confederação Nacional de Mulheres Camponesas Indígenas Originárias da Bolívia Bartolina Sisa, em La Paz.

“Quem fez isso busca criar caos e ansiedade para que não haja eleições na Bolívia. É um ataque à vida e à democracia”, alertou o candidato do MAS à Presidência, o economista Luis Arce Catacora, exigindo a investigação dos fatos e a punição dos autores materiais e intelectuais.

O mesmo sentimento foi ecoado pelo candidato do MAS à vice-presidência, chanceler David Choquehuanca, reiterando o “rechaço à violência, ao ódio e ao racismo”. “Exigimos investigação e castigo aos autores e reafirmamos nossa luta pela democracia e pelo Estado de direito”, frisou.

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