Zema provoca dias de terror em acampamento sem-terra no sul de Minas

A Polícia Militar do governo Zema, abusou da violência para cumprir uma ordem de reintegração de posse na área onde está localizado um acampamento do MST, no município de Campo do Meio no sul de Minas Gerais.

Acampamento Quilombo Campo Grande - Foto: MST

Desde quarta-feira (12/08), a Polícia Militar do governo Zema tenta cumprir uma ordem de reintegração de posse na área onde está localizado o acampamento Quilombo Campo Grande no município de Campo do Meio no sul de Minas Gerais.

No terreno funcionava a antiga usina de Ariadnópolis, a Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia). Em 1998, a empresa faliu e encerrou as atividades. Além de deixar um calote milionário no estado, não pagou os direitos trabalhistas, assim como largou as terras abandonadas.

Os próprios trabalhadores da empresa, que nunca receberam seus direitos após a falência, iniciaram a ocupação do terreno e a sua completa revitalização, transformando a área em terra fértil para plantio.

A área é ocupada há mais de 20 anos por cerca de 450 famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, que produzem em suas terras café e mais de 150 variedades de lavouras agroecológicas. Além do plantio, famílias vivem no local, que possui inclusive uma escola de educação popular.

O pedido de reintegração de posse é do empresário Jovane de Souza Moreira, que tenta reativar a usina falida para cumprir um acordo comercial com a Jodil Agropecuária e Participações Ltda. O despejo iniciado nesta quarta-feira (12/08) foi determinado pelo juiz Roberto Apolinário de Castro em fevereiro, e afeta diversas famílias que vivem na área da sede da antiga Usina.

O terror começou quando a Polícia Militar chegou para fazer o despejo das famílias, em plena pandemia do coronavírus, de maneira truculenta e agressiva. Diante da resistência dos trabalhadores rurais sem terra, a PM lançou bombas de gás lacrimogênio para dispersar o local, pouco tempo depois começou a destruição de casas e das plantações.

Uma grande articulação nacional que envolveu deputados federais e estaduais, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e bispos da CNBB, encaminhou para o Governador Romeu Zema e para o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ofício solicitando uma reunião de urgência para tratar da reintegração de posse no acampamento Quilombo Campo Grande.

Parlamentares e lideranças políticas consideraram desumana a ação do governo que promove um despejo em plena pandemia, provocando aglomerações e riscos de infecção no momento que Minas Gerais vive uma explosão de novos casos, além da falta de sensibilidade em retirar as famílias de suas casas sem ter um lugar para onde ir no meio desta tragédia.

Para o Presidente do PCdoB de Minas Gerais: “É inadmissível a qualquer tempo, mas em especial em plena pandemia este tipo de tratamento do Governo de Minas com um povo trabalhador que está na área há anos, produzindo e lutando” disse Wadson Ribeiro. O Deputado Estadual Celinho Sintrocel (PCdoB/MG), também repudiou o despejo, “estamos acompanhando de perto a evolução dos acontecimentos e colocando nosso mandato, junto com os colegas do bloco Democracia e Luta na ALMG, há disposição do povo de Campo do Meio” concluiu o parlamentar.

O Governador Romeu Zema chegou a afirmar que o despejo seria suspenso, porém, pouco tempo depois voltou atrás, dizendo que a PM estava cumprindo decisão judicial que não poderia ser suspensa pelo Governador.

O acampamento Quilombo Campo Grande amanheceu quinta-feira (13/08), com as suas plantações pegando fogo. A Polícia Militar que passou a noite no local sitiando o acampamento, impedindo a passagem das pessoas que queriam levar ajuda para as famílias, deixando idosos, crianças, mulheres grávidas sem acesso a comida, amanheceu colocando fogo ao redor nas plantações para forçar a dispersão das famílias.

A Polícia Militar avançou destruindo mais casas e a escola Eduardo Galeano, responsável pela alfabetização de crianças, adolescentes e adultos. O aparato do terror incluiu ainda um helicóptero que fazia voos rasantes buscando intimidar os trabalhadores rurais que resistiam à destruição de suas casas e de suas lavouras.

A luta seguiu na mobilização das redes sociais, onde diversas figuras públicas, como o ator e diretor Wagner Moura, gravaram mensagens de apoio as famílias do acampamento Quilombo Campo Grande e pediram a imediata suspensão do despejo violento e criminoso realizado pela PM do governo Zema.

Após três dias de resistência dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, no fim da noite de sexta-feira (14/08), foi informado que a reintegração de posse estava concluída e que a PM não iria mais avançar. Os deputados federais e estaduais Rogério Correia, Beatriz Cerqueira, Odair Cunha e Ulysses Gomes do Partido dos Trabalhadores, estiveram no local e conversaram com as famílias atingidas por dias de terror e truculência.

O líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, João Pedro Stédile, agradeceu em seu twitter a solidariedade e apoio recebido de todo país e do mundo nesses últimos dias. Stédile afirmou ainda que “A PM de Romeu Zema extrapolou o mandato, destruiu uma escola pública, despejou seis famílias. Mas as 450 famílias resistiram frente a esta ação insana. O assentamento só quer trabalhar, produzir alimento e estudar”.

Com informações de VioMundo e Brasil de Fato