“Pandemia vai passar”. Brasil registra queda no contágio

Doutor Marcos Boulos pede paciência e menos exposição ao vírus, pois toda epidemia passa e deixa se tornar problema de saúde pública. Brasil registra menor número de contágios desde 12 de junho.

Recife ultrapassa os 25 mil recuperados da covid-19. Andréa Rêgo Barros/PCR

O Brasil registrou 1.054 novas mortes pelo coronavírus nas últimas 24 horas, segundo balanço divulgado hoje pelo Ministério da Saúde. Agora, o país soma 113.358 óbitos pela covid-19 desde o início da pandemia. Já o número de infectados subiu para 3.532.330, com 30.355 novos diagnósticos confirmados pela pasta entre ontem e hoje. É o menor balanço diário para uma sexta-feira desde 12 de junho, quando foram registrados mais 25.982 casos.

34a. semana epidemiológica parece estar terminando com queda no número de contágios

Esta é uma importante sinalização da pandemia, se mantida a consistência dos números. Mais que o número de óbitos, o número de contágios é definitivo para definir o impacto da pandemia na sociedade. Menos contágios significam menos exposição dos brasileiros ao vírus, reduzindo a possibilidade de mortes.

Estados do Sul e do Centro-Oeste foram os últimos a viveram o impacto mais letal da epidemia, mas também são os que mais podem facilmente podem reduzir seu alcance, devido à baixa demografia e condições melhores de residência, diferente das grandes capitais onde há muitas favelas e dificuldades de acesso à condições sanitárias e de saúde. O Sul tem melhorado seus índices de contágio.

Portanto, a dificuldade de circulação do novo coronavírus entre  a população é a chave para o controle da pandemia. É o que diz o infectologista Marcos Boulos, quando afirma que a pandemia vai passar, como todas as outras. Conforme o vírus não tenha mais condições de circulação, seja por imunização da população, pela vacina ou estratégia de distanciamento social, ele vai desaparecer.

Foi assim que o médico expressou seu otimismo em entrevista ao portal Vermelho, ao discutir a possibilidade de uma vacina. “A vacina não resolve tudo. Não sabemos se teremos vacina. E terceiro que talvez nem precisemos da vacina”, diz ele, numa afirmação surpreendente.

Boulos falou de outras epidemias que foram mais importantes em termos de mortes, como a Sars (2003 na China) e a Mers (2010 na Arábia), que matavam até 50% dos doentes. “Entrou-se no pânico  de tentar produzir uma vacina, veio a epidemia, foi embora e nunca mais voltou. Deixou de ser um problema de saúde pública, mesmo ainda tendo casos isolados”.

Ele considera que o pânico em torno da Covid-19 se deve à alta transmissibilidade e contagiosidade. “Nesse caso, com mais razão, se houver lógica, é possível que nem tenhamos mais esse vírus no ano que vem. Ele pode aparecer, pega uma porção de gente e vai embora, como o Sars e o Mers. São vírus provenientes de animais, se adaptaram ao homem para uma transmissão maior. Como não são naturais do homem, não têm convivência próxima com o homem por muito tempo. É possível, com o tempo, que vão embora, com uma epidemia só, e não voltem mais.

Ele ainda citou o exemplo da Zyka. Três anos atrás, deixou de ser um problema importante de saúde pública, porque varreu o país e não voltou mais. “Parou de transmitir, deu uma imunidade na comunidade e não voltou mais. Foi o mesmo em outros países. O mesmo aconteceu com outros coronavírus em muitos países. Varreu e não voltou mais. Se isso acontecer, pra que vacina? Não precisaremos de vacina”, observa o infectologista.

A Covid-19, como tantas outras doenças é mais perigosa para pessoas idosas, mas ela está extremamente disseminada. Normalmente, segundo ele, a vacina é pensada para doenças mais graves como Sars e Mers, que matam 50% dos doentes. “Como a Covid-19 tem apenas 1% de letalidade, em média, para combatê-la, nós temos saída. Não é como o Ebola, que morre muita gente. Não nos expor e proteger as pessoas de maior risco, as que têm que usar máscara par asair. Assim, não precisa de uma saída milagrosa para isso”.

Segundo ele, embora haja dificuldades inclusive logísticas para fabricação, embalagem e distribuição de uma vacina milagrosa, ela provavelmente será aplicada lentamente e gradativamente, quando for utilizada e se for utilizada. “Acredito que ela não dará tempo para se utilizar para esta epidemia. Esta epidemia vai passar. No mundo todo está passando. O que é importante é ter paciência, nos preservarmos um pouco mais, nos expormos um pouco menos. Isso acelera o término da epidemia”, conclui.

O consórcio da imprensa registra números próximos aos do Ministério da Saúde. Segundo o levantamento dele, o país registrou 1.031 mortes pela Covid-19 confirmadas nas últimas 24 horas, chegando ao total de 113.454 óbitos. Com isso, a média móvel de novas mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 983 óbitos, uma variação de -1% em relação aos dados registrados em 14 dias.

Depois de 4 meses de estabilidade, curva de óbitos pode começar a diminuir nos próximos dias, conforme o nível menor de contágios se confirme.

Em casos confirmados, já são 3.536.488 brasileiros com o novo coronavírus desde o começo da pandemia, 31.391 desses confirmados no último dia. A média móvel de casos foi de 36.799 por dia, uma variação de -15% em relação aos casos registrados em 14 dias.

Comparações

No mundo, apenas os Estados Unidos têm números piores, com quase 175 mil mortos e mais de 5,6 milhões de casos, segundo números da Universidade Johns Hopkins. Logo atrás do Brasil vêm o México, em número de óbitos (59.106); e a Índia, em número de infectados (2,9 milhões). Ao todo, 2.670.755 pacientes se recuperaram da doença. O Brasil ainda tem outros 748.217 em acompanhamento.

Estados

No total, 6 estados e o Distrito Federal apresentaram alta de mortes: MG, RJ, DF, GO, AM, BA e RN.

Subindo: MG+22%, RJ+35%, DF+38%, GO+23%, AM+31%, BA+27% e RN+24%.

Em estabilidade, ou seja, o número de mortes não caiu nem subiu significativamente: PR+7%, RS-9%, SC-5%, ES-1%, SP-13%, MS+2%, AC-8%, PA+3%, TO+4%, PB+3% e PI-4%.

Em queda: MT-18%, AP-55%, RO-17%, RR-68%, AL-17%, CE-44%, MA-28%, PE-31% e SE-40%.

Em relação a quinta (20), MG e RN estavam com a média de óbitos em estabilidade e, hoje, estão subindo.

Alerta para SRAG

Cinco estados do Brasil — Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí e Tocantins — têm regiões em que o número de casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) tem tendência de alta, segundo estimativa do Boletim Infogripe, divulgado hoje pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Pela primeira vez o boletim informa as tendências na curva de casos, apontando locais em que há possibilidade alta — maior que 95% — ou moderada — maior que 75% — de aumento ou queda no número de casos.

Segundo análise dos dados das últimas seis semanas, há possibilidade alta de crescimento (mais de 95%) nos casos de SRAG no semiárido do Piauí, e nas macrorregiões do Leste e do Sul e no Jequitinhonha, ambos em Minas.

Já no noroeste e no oeste do Paraná, no norte de Tocantins e na macrorregião de Três Lagoas (MS), a tendência de alta é moderada, com mais de 75% de chance.

Nas demais regiões do país, há tendência de estabilização ou queda, segundo o boletim. O município do Rio de Janeiro manteve um sinal de estabilização após um leve aumento em semanas anteriores, cenário que sugere cautela para novas medidas de flexibilização, segundo a Fiocruz.

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