De Olho no Mundo, por Ana Prestes

Na análise internacional de Ana Prestes tem destaque a superação dos 25 milhões de infectados por Covid-19 e mais de 800 mil óbitos. Também são destaques as mobilizações contra o racismo nos Estados Unidos, a renúncia do premiê japonês Shinzo Abe, a subserviência de Bolsonaro ao interesses eleitorais de Trump, os testes da vacina cubana contra o coronavírus e a taxação das grandes fortunas na Argentina para amenizar os impactos da pandemia.

Reprodução: John's Hopkins University

O mundo superou a casa de 25 milhões de casos de coronavírus desde o início da propagação do vírus em dezembro de 2019. O número de pessoas registradas como falecidas por decorrência do vírus passou de 850 mil. Os EUA possuem um quarto desses milhões de infectados e se aproximam da casa dos 200 mil mortos.

Seguem intensos os protestos antirracismo nos EUA. O tom geral da imprensa e dos conservadores nos EUA e também no exterior é de criminalização dos movimentos, qualificando-os como terroristas e vândalos. Os últimos protestos do Black Lives Matter (BLM), com o slogan “no justice, no peace” (sem justiça, sem paz) estão ocorrendo em Los Angeles na Califórnia, após mais um homem negro, Dijon Kizee, ter sido baleado e morto com cerca de 20 tiros quando passava de bicicleta por uma região alegada pela polícia como proibida para circulação de bicicletas.

Bolsonaro fez mais uma concessão ao governo Trump. Resolveu prorrogar a cota de importação de etanol por mais 90 dias (período em que o produto entra sem tarifa). E fez isso poucos dias após Trump ter anunciado uma redução do montante de aço brasileiro semiacabado que pode entrar nos EUA com tarifação reduzida. O previsto é que a partir de setembro todo o etanol americano que entrasse no Brasil seria taxado em 20%, mas os americanos forçam a porta para obter o livre comércio de seu etanol produzido a partir do milho plantado no meio oeste do país. A transação possui um forte componente eleitoral, visto que o benefício aos produtores americanos ajuda Trump em seu projeto de reeleição e há denúncias de que o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, estaria convencendo autoridades brasileiras sobre “os riscos” de uma não reeleição do chefe. Ele foi inclusive citado pelo Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos EUA a dar explicações sobre os fatos. (Fonte: FSP).

Os Emirados Árabes Unidos encerraram formalmente o boicote a Israel. Agora as empresas israelenses podem fazer negócios no país e mercadorias israelenses podem ser comercializadas. Esta semana começará a operar o primeiro voo comercial de Israel para os EAU, de Tel Aviv a Abu Dabi, através da principal companhia aérea israelense, El Al. Os passos são frutos do acordo anunciado em 13 de agosto e intermediado pelos EUA. Lembrando que somente Egito e Jordânia possuem relações diplomáticas com Israel na região. Há um acordo tácito entre as nações árabes de só reconhecerem Israel após os palestinos terem um Estado independente e respeitando as fronteiras pactuadas no âmbito das Nações Unidas. A mudança de postura dos EAU é creditada ao príncipe herdeiro Mohammed bin Zayed Al Nahyan, que está no poder desde que o presidente xeique Khalifa sofreu um derrame em 2014. Há muita influência dos EUA nessa movimentação também, com o objetivo de enfraquecer o papel do Irã na região e fortalecer Israel. A maior vítima é o povo palestino. (Fonte: DW).

Continua repercutindo a renúncia do primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, ocorrida no último final de semana, por alegados motivos de saúde. Filho de uma família tradicional da política japonesa, formado em Ciência Política pela Universidade Seikei, Tóquio, e com estudos nos EUA, Universidade do Sul da Califórnia, Abe foi o mais longevo premiê japonês, por sete anos e oito meses. Entrou na política em 1993, quando eleito para o parlamento pelo Partido Liberal Democrata. Sempre manteve um tom nacionalista, de ultra-valorização da história do exército imperial e com parco sucesso em uma reaproximação com a China e a Coreia do Sul. Recentemente foi bastante criticado pela forma com que conduziu a crise da pandemia no país, tanto por demorar a fechar as fronteiras, como para adotar a política de isolamento social. Seu manejo econômico da crise também foi muito criticado. Mas sua saída foi conturbada também pelo desenrolar da investigação de casos de corrupção em seu governo, conhecidos como o caso Moritomo (em referência a uma organização educacional privada chamada Moritomo Gakuen, de ideias ultranacionalistas) e o caso Kake (em referência a uma operadora de escolas Kake Gakuen). Ambos os casos são investigados por terem recebido favorecimento ilícito e se beneficiado de tráfico de influência.

O senador Gustavo Petro, da Colômbia, será apoiado como pré-candidato à presidência, pelo partido União Patriótica, de acordo com decisão congressual da entidade. O anúncio foi feito pela senadora da UP, Aída Avella, que foi candidata a vice-presidente nas eleições passadas na chapa encabeçada por Clara López. As eleições serão somente em 2022. Petro faz parte do partido Colômbia Humana e já participou como candidato em outras eleições, inclusive na última quando rivalizou com Ivan Duque.

Em Cuba, começaram os testes de uma vacina própria contra o coronavírus. Conhecida como Soberana 01, a vacina será testada em 676 voluntários, divididos por grupos etários. A vacina é semelhante à uma vacina contra meningite desenvolvida na ilha e que está em uso há mais de 30 anos. Os planos são que o projeto esteja finalizado e com resultados conclusivos em primeiro de fevereiro de 2021. O anúncio da vacina se deu no mesmo dia em que o chanceler Bruno Rodríguez comemorou que a ilha apresenta uma incidência de mortalidade pelo vírus seis vezes menor do que a taxa mundial, o que ele atribuiu à existência de 752 médicos para cada 100 mil habitantes e uma indústria biofarmacêutica “orientada para a proteção da população”.

O governo argentino apresentou ao congresso um projeto de imposto extraordinário denominado “Aporte Extraordinário Solidário” para taxação de grandes fortunas. O objetivo é amenizar os impactos da pandemia. O tributo alcançaria 12 mil pessoas, que na totalidade de seus bens, na Argentina ou no exterior, tenham acumulado o valor de 200 milhões de pesos ou mais até 31 de dezembro de 2019. Estes serão taxados em 2%, para os que tiverem mais de 3 bilhões a alíquota será de 3,5%. De todo o montante arrecadado, 20% irá para o sistema sanitário, 20% para o apoio de micro e pequenas empresas, 20% para bolsas do Ministério da Educação, 15% para urbanização de bairros populares e 25% para exploração e produção de gás natural.

Presidente argentino Alberto Fernandez quer taxar grandes fortunas para enfrentar os efeitos dapandemia de Covid-19

Por falar em Argentina, foi muito comentado por esses dias que o Brasil já não é mais o principal parceiro comercial do país. Agora é a China. Um dos fatores que impactou foi a queda do setor automotivo durante a pandemia, responsável por 40% do intercâmbio comercial entre Brasil e Argentina, ao passo em que o setor de grãos foi menos afetado. De todo modo, desde o governo de Cristina Kirchner, Argentina e China se aproximaram bastante. Não só no comércio, mas em outras iniciativas como a instalação do observatório espacial chinês em Neuquén, na Patagônia e a produção chinesa de porcos na Argentina (o que está dando muito o que falar no país). Há também um acordo para a construção de uma central nuclear em Buenos Aires com investimento de 8 bilhões de dólares pelos chineses. Já Brasil e Argentina estão se afastando, desde que Bolsonaro assumiu. Os dois presidentes nunca se falaram. (Fonte: BBC).

Circula a informação de que a Embaixada da Bolívia no Brasil está alegando que as medidas restritivas do governo brasileiro contra a Covid 19 seriam um impeditivo para que os bolivianos residentes no Brasil possam votar nas eleições do dia 18 de outubro. Na Argentina, por sua vez, há um projeto que tenta proibir circulação de informações sobre a candidatura presidencial do MAS à presidência da Bolívia. Brasil e Argentina possuem enormes contingentes de cidadãos bolivianos em suas cidades.

O governo venezuelano anunciou esta semana uma série de indultos para cerca de 110 pessoas que são parte da oposição na Venezuela. O objetivo, segundo o anúncio feito pelo ministro Jorge Rodríguez é de “promover a reconciliação nacional e a busca da paz”.

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