Em repúdio a Bolsonaro, França reforça ‘não’ a acordo Mercosul-UE

Para entrar em vigor, o acordo Mercosul-União Europeia precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu e pelos congressos nacionais dos países-membros.

Imagem de incêndio na Amazônia em 22 de agosto de 2020 - Christian Braga/Greenpeace

O governo da França se pronunciou, nesta sexta-feira (18), de maneira categórica, contra o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, ainda pendente de ratificação. O anúncio veio a público após divulgação dos resultados de relatório encomendado a uma comissão independente, incumbida de analisar os riscos ambientais do acordo, assinado em 28 de junho de 2019. Em toda a Europa, cresce o repúdio à ratificação do tratado.

“O desmatamento coloca em perigo a biodiversidade e desregula o clima”, escreveu o primeiro-ministro francês Jean Castex nas redes sociais. Segundo ele, o relatório recebido pelo governo “confirma a posição da França de se opor ao projeto de acordo UE-Mercosul, no seu estado atual”.

Já o Ministro da Agricultura, Julien Denormandie, foi cabal: “como está, as coisas são claras: NÃO ao Mercosul”. Segundo ele, sem avanços “na luta contra o desmatamento, o reconhecimento do trabalho de nossos agricultores e o respeito às normas, a França se opõe e continuará a se opor ao projeto de acordo”.

Citando o relatório de 194 páginas em que o governo francês se baseia para dizer “não”, o jornal Le Monde afirma que “o acordo comercial é uma ‘oportunidade perdida’ em questões ambientais e de saúde”. Um dos mais influentes veículos da Europa, o diário continua: “Esta é a dura conclusão do relatório da comissão de peritos formada pelo ex-primeiro-ministro Edouard Philippe.”

Custo maior que benefícios”

“A hipótese mais provável adotada pelos especialistas é a de desmatamento a uma taxa anual de 5% durante os seis anos seguintes ao implementação do acordo, num total de 700 mil hectares”, continua o texto. “Em outras palavras, o custo ambiental medido a partir das emissões adicionais de CO2, a um custo unitário de US$ 250 por tonelada, seria maior do que os benefícios econômicos.”

O relatório da comissão tem como parâmetros cálculos sobre desmatamento principalmente pela pecuária nos quatro países do Mercosul: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. “Na verdade, a pecuária geralmente é o primeiro passo após o desmatamento antes de dar lugar às culturas agrícolas”, diz o Le Monde.

O Pantanal está pegando fogo sem que o governo brasileiro tome qualquer medida para combatê-lo e a Amazônia está sendo devastada com o incentivo ou omissão do governo brasileiro.

Vexames diplomáticos

Em meados de 2019, o presidente francês, Emmanuel Macron, pressionado pela opinião pública diante do “crescimento dramático do desmatamento e queimadas no Brasil”, já manifestou a clara intenção de vetar a ratificação do acordo. A postura resulta da política ambiental do governo de Jair Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mais conhecido por sua defesa do “ir passando a boiada” do que por qualquer política que sua pasta deveria desenvolver.

A posição de Macron provocou a fúria de Bolsonaro e um dos maiores vexames diplomáticos de que se tem notícia. Ao responder, em rede social, a um seguidor que comparava depreciativamente a primeira-dama francesa, Brigitte, com a brasileira, Michelle, Bolsonaro respondeu de forma tosca e deselegante: “Não humilha, cara. Kkkkkkk”. A postura provocou reação de um vasto grupo de mulheres brasileiras, que divulgaram seu repúdio com a hashtag #DesculpeBrigitte no Twitter, com repercussão mundial.

Junto com toda a perplexidade internacional a respeito da “política” bolsonarista para o meio ambiente, o presidente brasileiro aparece às nações como uma caricatura de liderança. Para o mundo, suas declarações não se relacionam com a realidade de um país que vê seus biomas e suas florestas serem destruídas. “O Brasil está de parabéns pela preservação ambiental. É o país que mais preserva e que mais sofre ataques vindos de fora”, afirmou na quinta-feira (17).

Para entrar em vigor, o acordo Mercosul-UE precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu e pelos congressos nacionais de todos os países-membros. No entanto, caminha para o fracasso.

Fonte: Rede Brasil Atual

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