Bruno Covas e a volta às aulas em São Paulo: todos à mercê do vírus
O prefeito estará disposto a adaptar todos os colégios municipais? Será que a prefeitura já tem um plano para testar em massa professores e funcionários, além de garantir acompanhamento aos alunos e a seus familiares?
Publicado 19/09/2020 12:27
Na entrevista que concedeu à edição desta semana da revista Veja SP, a Vejinha, o prefeito Bruno Covas (PSDB) voltou a falar do retorno às aulas nas escolas municipais. “A pergunta que mais se faz hoje em São Paulo: quando as aulas voltarão?”, questiona a revista. Covas responde de maneira breve, tentando “matar” o assunto: “Impossível saber. Estamos seguindo as diretrizes da saúde e não há nenhuma previsão”.
Porém, a posição do prefeito, ao longo dos últimos meses, não tem refletido essa convicção sobre um tema tão delicado para a saúde pública e, acima de tudo, para a vida dos moradores da capital paulista. A rigor, o PSDB já decidiu que a volta às aulas acontecerá ainda neste ano.
Algumas atividades extracurriculares passarão a ser permitidas a partir de 7 de outubro. Além disso, as escolas poderão oferecer aulas de inglês e de educação física, além de algumas recreações, desde que obedeçam a determinados protocolos. A única pendência diz respeito ao cumprimento do currículo municipal. É apenas sobre o retorno dessas aulas – as mais importantes – que o prefeito fiz não haver uma data específica.
Covas conta com o absurdo apoio da maioria dos vereadores paulistanos. Embora muitas escolas municipais não tenham nem sequer produtos para higiene pessoal e água potável – principalmente nas periferias –, a Câmara Municipal aprovou, em 5 de agosto, o substitutivo do governo Covas ao Projeto de Lei (PL) 452/2020.
Por 32 votos a 17, os vereadores aprovaram o retorno às aulas em plena pandemia, sem detalhar as medidas necessárias para prevenir o risco de contaminação por Covid-19. A medida ainda transfere a responsabilidade da Prefeitura de São Paulo aos pais ou responsáveis, deixando a critérios destes a decisão de mandar ou não mandar os filhos para a aula.
Vale ressaltar que as unidades da rede paulistana – como os Centros de Educação Infantil (CEIs) e as Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs) – trabalham com crianças, que precisam de um acompanhamento mais próximo dos professores e funcionários. Por isso, reabrir as escolas sem as condições sanitárias e estruturais mínimas, sem a prevenção suficiente, é uma irresponsabilidade.
Ainda que os estudantes da rede municipal, por regra, não sejam do grupo de risco para o novo coronavírus, professores e outros trabalhadores da Educação serão forçados a se expor a eventuais infecções. Além disso, todos eles, mesmo que assintomáticos, podem “transportar” o vírus para suas casas e prejudicar parentes, cuidadores e vizinhos.
Uma retomada das aulas presenciais atende tão-somente aos interesses dos donos de escolas particulares, ávidos em recuperar rendimentos e pôr seus lucros acima das vidas. A rede privada de ensino fez investimentos pesados para readequar sua estrutura e pressionar pela reabertura das escolas na cidade.
Bruno Covas estará disposto a adaptar todos os colégios municipais? Será que a prefeitura já tem um plano para testar em massa professores e funcionários, além de garantir acompanhamento aos alunos e a seus familiares?
A volta às aulas em São Paulo sem controle efetivo ou vacina põe todos a mercê do vírus. O ano letivo pode ser recuperado. Vidas, não.
O artigo coloca a questão central: O poder público irá garantir as condições sanitárias e a vigilância epidemiológica indispensáveis para a reabertura das escolas? Sem isso é uma aventura irresponsável.