ONU 2020: O tom dos principais líderes mundiais

Na reunião virtual da 75ª AGNU, pandemia, eleições americanas, multilateralismo e tensões regionais dominaram a agenda.

Xi Jinping durante discurso à ONU

Os líderes mundiais falaram a uma ONU cada vez mais dividida em sua 75ª Assembleia Geral, embora fortemente hegemonizada pelos EUA, como denunciaram Venezuela e Cuba. A China chegou a falar em “vírus político” de Donald Trump, numa ironia em torno do “vírus da China” repetido pelo americano.

Em seu discurso, o presidente dos Estados Unidos exigiu que a ONU responsabilizasse Pequim por espalhar o vírus da pandemia. Mesmo com o maior número de mortes pela doença, mais de 200 mil, ele defendeu sua gestão da crise sanitária.

Por outro lado, o presidente da China, Xi Jinping, adotou um tom conciliador, enfatizando que a China não tinha intenção de travar “uma Guerra Fria ou Quente” com nenhum outro país. Ele ponderou que as tentativas de politizar a pandemia deveriam ser rejeitadas.

(Brasília – DF, 22/09/2020) Presidente da República Jair Bolsonaro, durante gravação de discurso para a 75ª Assembleia Geral da ONU. Foto: Marcos Corrêa/PR

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse que foi equivocadamente retratado como um vilão ambiental. Num discurso paranoico falou de “uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”. Ele justificou que a riqueza amazônica explica instituições internacionais com interesses escusos apoiando essa campanha, assim como organizações brasileiras “egoístas e antipatrióticas”, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil. Sua fala é uma resposta à reação internacional ao desmatamento acelerado da Amazônia e à omissão do governo nos incêndios do Pantanal.

O presidente da  Turquia, Recep Tayyip Erdogan, pediu um diálogo “sincero” para resolver a crescente disputa com a Grécia sobre a busca de gás no Mediterrâneo oriental, rejeitando qualquer “assédio” do Ocidente sobre o assunto. Aliados na Otan, Turquia e Grécia, estão envolvidos em uma disputa marítima de perfuração de gás que colocou Ancara contra outros Estados membros da União Europeia.

O emir xeque Tamim bin Hamad Al Thani, do Catar, reiterou seu apelo a um diálogo incondicional e ao levantamento do “bloqueio ilegal” imposto pela Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Bahrein e Egito contra seu país, que tem se desenvolvido apesar disso. Seu discurso também se destacou por lamentar que a comunidade internacional falhe em confrontar Israel por sua ocupação ilegal da terra palestina.

O presidente do Irã, Hassan Rouhani, disse que o próximo líder dos EUA vai aceitar as demandas de Teerã, descartando o compromisso enquanto Trump luta pela reeleição. “Não somos moeda de troca nas eleições e na política interna dos EUA”, disse Rouhani. “Qualquer governo dos EUA após as próximas eleições não terá escolha a não ser se render à resiliência da nação iraniana.”

O presidente da Rússia, Vladimir Putin discursando na 75a reunião da ONU

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu um tratado internacional para proibir armas no espaço e ofereceu a vacina contra o coronavírus da Rússia gratuitamente aos funcionários da ONU. “A Rússia está pronta para prestar à ONU toda a assistência qualificada necessária. Em particular, estamos oferecendo nossa vacina, gratuitamente, para a vacinação voluntária do pessoal da ONU”. Ele também disse que a crise econômica global causada pela pandemia torna necessária a remoção de sanções comerciais.

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que a Europa não se comprometerá com os Estados Unidos quanto à decisão de Washington de reativar as sanções ao Irã, alertando que o retrocesso pode minar o Conselho de Segurança da ONU (CSNU) e aumentar as tensões no Oriente Médio.

“Não vamos comprometer a ativação de um mecanismo que os Estados Unidos não estão em posição de ativar por conta própria depois de deixar o acordo”, disse Macron.

O presidente da Coréia do Sul, Moon Jae-in, pediu uma iniciativa regional de controle de doenças infecciosas e saúde pública envolvendo a China, Japão, Mongólia e Coréia do Norte para enfrentar as crises de saúde e estabelecer as bases para a paz com Pyongyang. “Diante da crise da Covid-19, (…), chegamos a ser fortemente lembrados de que a segurança dos países vizinhos está diretamente ligada à dos nossos,” disse Moon.

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