Brasil está entre os piores em participação de mulheres na política

Em ranking de 11 países da América Latina, Brasil ocupa o nono lugar, à frente apenas do Chile e Panamá.

(Foto: Reprodução)

Às vésperas das eleições municipais, um levantamento mostra que o Brasil está entre os países com os piores indicadores da América Latina no que diz respeito aos direitos políticos das mulheres e à paridade política entre homens e mulheres. O país ocupa o nono lugar em um índice que mede a equidade de gênero na política em 11 países, atrás de México, Bolívia e Peru, e à frente apenas do Chile e do Panamá. Os números estão em estudo do Atenea, projeto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e da ONU Mulheres.

O Atenea criou um Índice de Paridade Política (IPP) que varia de 0 a 100, levando em conta indicadores em oito dimensões que ajudam a mensurar a participação política: compromisso com a igualdade na Constituição e marco legal; exercício do direito ao voto; cotas para garantir a paridade e políticas nas esferas do Executivo, Legislativo, Judiciário, Justiça Eleitoral e partidos políticos.

Para México, Bolívia e Peru, que ocupam os três primeiros lugares, o IPP ficou em 66,2; 64 e 60,1. Já no Brasil o índice ficou em 39,5, melhor apenas que o registrado para Chile (38,2) e Panamá (37). O ranking com as classificações de todos os países pode ser consultado ao fim da matéria.

“O Brasil tem enfrentado historicamente grandes dificuldades de ampliar a participação política das mulheres. É, sem dúvida, campo onde menos se registrou avanços na igualdade de gêneros no país. As mulheres já conquistaram algumas vitórias no Brasil na área de educação, na área de saúde, mas, particularmente na participação política, os dados não são animadores”, comenta Maristela Baioni, coordenadora da área programática do PNUD Brasil.

Segundo Baioni, o Parlamento brasileiro tem presença de mulheres menor que a registrada pelas nações com os menores índices de desenvolvimento no mundo. Apesar de a participação estar muito aquém da desejada igualdade, no entanto, já houve melhora graças a políticas pró-mulheres.

Ana Carolina Querino, gerente de programas da ONU Mulheres Brasil, afirma que ações como as cotas para financiamento de campanhas eleitorais femininas e tempo de TV foram essenciais para o aumento em 50% da presença de mulheres na Câmara dos Deputados na atual legislatura.

De acordo com Querino, há uma série de fatores que contribuem para o país pontuar tão mal na paridade política de gênero em comparação com outros países da América Latina.

“Isso vem em função de vários elementos. Tradicionalmente, essa naturalização das mulheres no seu espaço doméstico, com as atribuições de cuidados não remunerados. As mulheres, em função da inexistência de um pacto social para essas tarefas de cuidado, têm menos oportunidade de se engajar em atividades de formação e de se engajar efetivamente, em pé de igualdade, em outras atividades no setor público”, afirma. A representante da ONU Mulheres cita ainda o sistema político brasileiro.

“Uma outra limitação é a característica do nosso sistema eleitoral, que é de listas abertas. Isso faz com que a escolha se dê pelos eleitores e eleitoras e, no universo das candidaturas que são vistas, quem tem mais recursos, tem mais visibilidades. Quem tem mais visibilidade, chega a eleitores e eleitoras. Por isso esse tema do financiamento e do tempo de TV foi tão central”, afirmou.

Lançado em 2014 para acelerar a paridade de gênero na política em países da América Latina e Caribe, o Atenea realiza análises periódicas e apresenta recomendações para mudanças. Os 10 países que implementaram o programa, além do Brasil, são México, Bolívia, Peru, Colômbia, Argentina, Honduras, Guatemala, Uruguai, Chile e Panamá.

Confira, abaixo, o Índice de Paridade Política (IPP) nos países analisados:

1º México 66,2

2º Bolívia 64

3º Peru 60,1

4º Colômbia 54

5º Argentina 44,7

6º Honduras 42,7

7º Guatemala 42,6

8º Uruguai 41,7

9º Brasil 39,5

10º Chile 38,2

11º Panamá 37

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