Jandira Feghali adverte que vacinação em massa corre risco no Brasil

Contrato da vacina de Oxford com o Ministério da Saúde foi tema de audiência pública na comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha medidas de enfrentamento à pandemia

(Foto: Divulgação)

O estágio de desenvolvimento da vacina contra o novo coronavírus que será produzida pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) foi analisado pela Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19, durante debate nesta quarta-feira (30) que reuniu parlamentares, técnicos da instituição e do Ministério da Saúde.

A audiência pública teve como objetivo apresentar as últimas atualizações sobre as pesquisas e o atual cronograma para a produção do medicamento, desenvolvido em parceria com a universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca. A produção da vacina no Brasil será viabilizada por recursos liberados por meio da MP 994/2020, publicada em 7 de agosto, que abre crédito extraordinário de R$ 1,9 bilhão para o Ministério da Saúde. 

Parlamentares que participaram da reunião virtual cobraram informações mais detalhadas sobre o contrato assinado no início do mês para a fabricação da vacina. Segundo a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, a previsão é começar a produção em dezembro e, em janeiro de 2021, complementar o pedido de registro à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) destacou a importância de se ter clareza sobre o significado desse contrato para o Brasil, o valor e se esse valor corresponde à transferência de tecnologia ou apenas à compra. Ela também questionou o prazo para o início da imunização: “Qual é a previsão de tempo? Qual é a previsão no tempo para se permitir a vacinação?”.

Outro aspecto que a parlamentar considerou ainda obscuro diz respeito à distribuição da vacina. “Minha preocupação é o acesso universalizado”, observou. 

“Mesmo que haja fases de imunização do grupo de risco, dos profissionais de saúde, há a questão do acesso, independentemente de classe social ou de localização no País. Há lugares mais longínquos a que se tem que ir de barco ou dos quais tem se que trazer as pessoas de barco. Como é que é essa preocupação de garantia do acesso universal à sociedade brasileira”, indagou.

Jandira frisou também a necessidade de garantir mais recursos orçamentários, para garantir a mais ampla cobertura vacinal. Ela alertou que a previsão de recursos para o enfrentamento da covid no Orçamento do ano que vem é preocupante. “Nós sabemos que essa pandemia vai estender-se até 2021”, disse.

“Sabemos que instituições como Fiocruz e Butantan vão precisar de mais recursos além da medida provisória já editada. Vão ser necessários mais recursos para o Complexo Econômico-Industrial da Saúde, para terminar a Santa Cruz, para uma produção mais massiva. Nós vamos precisar de orçamento para garantir também a detecção, testagem, rastreamento e assistência”, acrescentou.

Nísia Trindade ressaltou que todos os processos para a produção da vacina de Oxford estão sendo acelerados, dentro dos parâmetros de segurança e eficácia. “Nós temos clareza que o mundo precisará de mais de uma vacina e que a nossa torcida tem que ser para que mais de uma vacina se demonstre eficaz e segura, porque só assim será possível atender a essa demanda global numa situação tão crítica em que o mundo está em termos sanitários, econômicos, sociais e humanitários”, declarou.

Vacinas

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem 176 pesquisas em desenvolvimento no mundo visando a obtenção de uma vacina eficaz contra o novo coronavírus. O Brasil aprovou quatro estudos para vacinas contra Covid-19.

Oxford (Reino Unido)

A vacina de Oxford está na terceira e última fase de testes em humanos no Brasil e em outros países. A Anvisa aprovou o estudo em 2 de junho. Os ensaios clínicos ocorrem em cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador em pessoas de 18 a 69 anos. Entre elas, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e auxiliares de enfermagem.

Sinovac (China)

Aprovada pela Anvisa em 3 de julho, a vacina foi desenvolvida pela empresa Sinovac Research & Development Co. Ltd., em parceria com o Instituto Butantan. Os testes são realizados em voluntários que trabalham em instalações especializadas para Covid-19, em centros de pesquisas de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.

BioNTech e Wyeth/Pfizer (Alemanha/EUA)

O estudo para as vacinas desenvolvidas pela BioNTech e Wyeth/Pfizer foi aprovado pela Anvisa em 21 de julho. De acordo com a agência, prevê a inclusão de cerca de 29 mil voluntários, sendo 1.000 deles no Brasil – em São Paulo, no Centro Paulista de Investigação Clínica; e na Bahia, na Instituição Obras Sociais Irmã Dulce.

Jansen-Cilag (Bélgica)

A aprovação mais recente para estudo clínico, em 18 de agosto, é da vacina produzida pela divisão farmacêutica da Johnson-Johnson. O ensaio clínico é para a fase III. De acordo com a Anvisa, o estudo envolve até 60 mil voluntários, sendo sete mil no Brasil, distribuídos nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Norte.

Liderança do PCdoB na Câmara

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