Adriano Codato: Bolsonaro e os cinco perfis da direita no Brasil

Para cientista político, “partidos com discurso e atuação parlamentar conservadora conquistaram a maioria das cadeiras” já em 2014.

Ainda que a ascensão da direita no Brasil seja um fenômeno geral, os políticos que se enquadram nesse espectro não são necessariamente homogêneos. Na opinião do cientista político Adriano Codato, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da Universidade Federal do Paraná (UFPR), há vários perfis de governantes e parlamentares direitistas.

“Identificamos cinco tipos”, afirma Codato, autor do artigo acadêmico “Tipologia dos Políticos de Direita no Brasil”. Em entrevista à agência alemã Deutsche Welle, ele descreve os cinco perfis:

– “O político tradicional de direita, ligado aos grandes partidos cuja origem genealógica pode ser buscada na ditadura militar”;

– “O político da nova direita popular, ligado à ampla base social das igrejas evangélicas”;

– “O político da direita populista, cujo tipo ideal seria Bolsonaro”;

– “O político da direita neoliberal, cujo programa reformista vai do PSDB até o Novo”;

– “E o político da direita libertária”.

Para Codato, a divisão entre esquerda-centro-direita, diante de um Congresso Nacional pulverizado, com mais de 20 partidos, é menos precisa do que a divisão entre base governista e oposição. Ainda assim, diz ele, “há, sim, partidos com um discurso e com uma atuação parlamentar conservadora. Esses partidos conquistaram a maioria das cadeiras nas eleições de 2014, invertendo uma tendência de queda desde 2002”.

O golpe de 2016 – que derrubou a presidenta legítima, Dilma Rousseff (PT) – favoreceu o avanço direitista. “Não há um ponto de virada concentrado em uma única conjuntura crítica – mas um processo cumulativo e progressivo de ‘direitização’”, analisa Codato. Já a vitória de Jair Bolsonaro, no pleito presidencial de 2018, foi um “fenômeno eleitoral” que expressa “o moralismo conservador das camadas médias, da anticorrupção”.

“O combate à corrupção e o antipetismo – como já foi o anticomunismo – são bandeiras que vieram para ficar no coração das camadas médias brasileiras, dos formadores de opinião e dos publicistas em geral. Mesmo que não seja muito crível Bolsonaro se apresentar como anticorruptível e como um herói anticomunista, esses são dois valores eternos para uma parte da sociedade brasileira”, afirma Codato.

Agora, em 2020, uma direita mais entranhada no poder disputará as eleições municipais. Mas não está dado que a força da direita se confirmará. Segundo Codato, “a política brasileira, nos últimos dez anos, é tão repleta de acontecimentos, voltas e reviravoltas que se torna difícil fazer previsões. Um agente que tem contribuído muito para essa imprevisibilidade é o poder Judiciário, que atua também como ator político, muda constantemente as regras eleitorais, torna competidores inelegíveis, altera interpretações da legislação, etc.”

As disputas estão abertas para surpresas. Bolsonaro pode “empregar seu capital político, prestígio e popularidade recentes para aumentar a presença da direita no interior do Brasil”, afirma Codato. Em contrapartida, “a esquerda não petista” cresce em cidades como Porto Alegre, com Manuela D’Ávila (PCdoB), e São Paulo, com Guilherme Boulos (PSOL).

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