Daniel Reis: Se liga, quebrada!

Seu voto e os votos da quebrada valem muito. Valem o seu presente e o cuidado com seus pais e avós. E valem o futuro de seus filhos. Valorize seu voto.

Esse texto é um bate-papo. Sem pretensões. Sem sermão. Só pra trocar uma ideia sobre um assunto que é importante mas tem sido pouco comentado. Me dá licença pra chegar? São 6 minutos que podem mudar a sua vida, a vida dos seus pais, avós e a vida de seus filhos.

Tá ligado esse sentimento que você está sentido de insatisfação com a política? Tá ligado essa sensação forte de que nada vai mudar com política? Mano, você tem toda a razão de se sentir assim. Eu tô ligado que a gente já tá acostumado a ver os políticos pedirem voto, se elegerem e sumirem. Na quebrada nada muda. Vai ano, vem ano – e tudo tá igual.

Além disso, se pá, você também tem essa sensação de que esses malucos só estão querendo enriquecer. Afinal, o salário dos políticos dá pra encher malote. Carro, casa e uma pá de privilégio, certo?

Mas tem uma fita ainda mais importante que está passando batida. Se liga, já se perguntou, como é que o Centro consegue ter tudo e a quebrada não consegue nada? Já parou para pensar nisso?

A gente tá sendo enganado pelos caras que controlam a política desde sempre. A maioria das pessoas (57%) não sabe em quem vai votar, enquanto 16% não querem votar em ninguém. Vamos olhar para esses 16%. Que não vão votar. Você acha que eles são do Centro?

Infelizmente, a maioria dessa galera que não quer votar parece que tá na quebrada.

Se liga, o Itaim Paulista, quebrada da Leste, tem 241 mil habitantes, e 16% desse número dá 38.560 pessoas. O empresário Gilson Barreto do (PSDB) foi eleito com 38.564 votos.

Já o Ângela tem 295.434 habitantes e a parte que não quer votar dá mais de 47.269 votos. Dá pra eleger mais um com isso? Dá! Oh, se dá. 47 de um total de 55 vereadores (85,5%) foram eleitos com menos votos que isso.

O Capão, que tá junto e misturado, tem 275.230 habitantes – e a parcela que não quer votar dá mais de 44 mil votos.

Vamos por outro lado da Sul? No Grajaú, somos 360.787 moradores. Se a mesma proporção não sair pra votar, são 57.725 votos. Somente sete dos 55 vereadores tiveram mais votos que isso.

Você consegue perceber o que significa não votar? Só nessa fita aí já seriam mais de cinco vereadores nossos, lutando pela periferia. E eu nem citei todas as quebradas de São Paulo. Então, cabe mais. Dá pra eleger uma pá de gente nossa.

Agora, pensa comigo: olha pros caras que estão lá. Você acha que eles são moradores de periferia que nem eu e você?

A galera dos bairros ricos entende o que significa votar e a gente tá deixando eles tomarem conta da política.

Você pode me perguntar: e daí? Eu te respondo: e daí que a gente pode não perceber a curto prazo, mas com o tempo passando a gente vê que a polícia não invade casa nos Jardins ou em Alphaville. Que empresário da Berrini não toma esculacho da polícia.

E tem outras fitas também. A expectativa de vida é de mais de 80 anos nos Jardins. Já na quebradas não chega a 55. Isso quer dizer que eles têm tudo e ainda vivem mais e melhor que a gente. Sabe por quê? Porque eles têm quem puxe a sardinha pra eles durante quatro anos de mandato.

Mano, a gente sabe que o negócio é dinheiro. Só dá pra mudar as coisas com dinheiro a longo prazo. Mas a gente tá vacilando na hora de votar. E eles estão passando a perna em nóis. Sabe como eles fazem isso? Eles fazem isso na hora de votar o orçamento da cidade. Porque eles têm quem puxe a sardinha pra eles durante quatro anos de mandato.

Eles usam a densidade demográfica como critério. Como no centro tem mais prédios, a partilha acaba virando “um pra vocês, dois pra nós”.

Pra você ver que as ideia não é furada, em 2020 a subprefeitura da Sé ficou com mais de 100 milhões de reais. Já a Capela do Socorro (subprefeitura onde fica o Grajaú) teve menos de 36 milhões. Eles usam o critério de partilha que beneficia eles – e assim os bairros ricos estão cada vez melhores, enquanto a gente da periferia tem sono e cansaço de acordar 4 da madruga para trampar no centro até morrer antes de se aposentar.

Aí você me pergunta: como a gente faz pra mudar isso aí?

Podemos lutar par a mudar o critério de partilha por exemplo. Uma sugestão é a de que as subprefeituras com expectativa de vida menor tenham mais recursos. Assim as quebradas vão ter mais dinheiro para crescer. O quê que dá pra fazer com 100 milhões na quebrada que você mora? Já pensou?

Seu voto e os votos da quebrada valem muito. Valem o seu presente e o cuidado com seus pais e avós. E valem o futuro de seus filhos. Valorize seu voto. Não vote em branco. Não anule seu voto e muito menos fortaleça quem não vive o mesmo que a gente vive. É nóis por nóis.

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