Arrocho fiscal de Bolsonaro lançara milhões na pobreza, diz ex-ministro
Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda no governo Dilma, disse que insistir no teto de gastos vai agravar a crise no país. Segundo ele, essa política não encontra amparo nem no Fundo Monetário Internacional
Publicado 20/10/2020 10:10 | Editado 20/10/2020 11:43
Ex-ministro da Fazenda e do Planejamento no governo Dilma Rousseff Nelson Barbosa denunciou o agravamento da crise econômica e social, caso o governo Jair Bolsonaro mantenha a política de arrocho fiscal a qualquer custo, determinada pelo ministro Paulo Guedes, com o apoio do mercado e do sistema financeiro. “O fim abrupto das medidas emergenciais vai lançar milhões de brasileiros na pobreza e manter outros milhões de pessoas fora do mercado de trabalho”, lamentou.
Barbosa diz que o dogmatismo de Guedes e a insistência no teto de gastos não encontra amparo nem mesmo entre tradicionais organizações ortodoxas, como o Fundo Monetário Internacional. “Até o FMI tem revisto seus dogmas, apontando que todos os países deveriam apostar em transferência de renda e no aumento do investimento público na saída da pandemia, além da tributação dos mais ricos. Vejam, o FMI tem mudado sua posição. Mas, infelizmente, esse tipo de debate não chegou no governo brasileiro”, alertou o ex-ministro. “Em 2021, o país estará com a economia menor do que em 2019”.
Segundo Barbosa, a determinação de Guedes de voltar a mesma política fiscal de arrocho a partir de janeiro, vai agravar a crise social e econômica que o Brasil está afogado desde 2016, após o Golpe de Estado que retirou Dilma da Presidência da República. “O governo espera voltar à mesma política fiscal de antes da pandemia, contraindo gastos públicos”, destaca. “Não é preciso ser economista para saber que essa proposta tem tudo para dar errado”, pondera o economista. “Uma crise como essa não vai passar rápido e exige uma saída gradual com uma política de reconstrução econômica e social”, reforçou, lembrando que é difícil perseguir o equilíbrio fiscal com uma economia estagnada.
Nas principais economias do mundo, a discussão gira em torno de uma política fiscal que será gradual e pode se dar em torno de uma década. Não em um ano, como imagina o atual governo”, sinalizou o ex-ministro. Nelson Barbosa disse que o melhor caminho para o país é adotar uma política fiscal que seja gradualista e construtivista. Ele é um entusiasta da Proposta de Emenda Constitucional 36/2020, apresentada pelo líder do PT, senador Rogério Carvalho (SE), que cria espaço fiscal temporário em 2021 e 2022, propondo uma nova regra fiscal a partir de 2023.
Na contramão do mundo
“A economia brasileira não estava bem antes da crise do coronavírus”, lembra o economista. “Antes do Covid, a economia brasileira já dava sinais de desaceleração. A crise sanitária só aumentou essa fragilidade. Vivemos uma grande recessão e que será agravada com a política restritiva de gastos sociais”, disse Nelson Barbosa. “A crise é bem grave e está levando os países a discutir alternativas para a reconstrução econômica. Aqui, o governo age como se o Covid pudesse ser extinto por decreto a partir de 31 de dezembro. O governo quer encerrar todas as medidas emergenciais. Vai piorar o quadro”.
Fonte: PT Notícias